McDonald´s visita creches e pais temem influência nos hábitos alimentares
O palhaço Ronald, da rede de fast-food McDonald´s, tem visitado creches e escolas infantis da rede pública e privada para fazer shows de entretenimento para crianças e até bebês.
A ação de marketing dentro do ambiente escolar – e muitas vezes sem o conhecimento dos próprios pais – gerou várias denúncias de pais que acham que a presença do palhaço pode influenciar as crianças a consumir os produtos da rede de fast-food.
O Instituto Alana (entidade de defesa dos direitos da criança) enviou representações no fim do mês passado para os ministérios da Justiça e da Educação, que analisam o caso. A ONG pede que sejam tomadas ações para coibir imediatamente a prática dentro das escolas.
Muitos pais, ao saberem da presença do palhaço nas escolas, decidiram reclamar com a direção e, em alguns casos, conseguiram até cancelar os shows. Outros, optaram em deixar os filhos em casa no dia da apresentação. A advogada do Alana, Ekaterine Karageorgiadis, diz que o McDonald´s foi notificado pelo instituto em agosto e que foi dado um prazo de 10 dias para os shows serem cancelados, o que não ocorreu. O McDonald´s diz que os shows são “lúdicos e educativos” (leia mais abaixo).
Apesar de o palhaço no show não falar sobre os lanches que são servidos na rede de fast-food, o instituto diz que o uso do logo da rede e do personagem influencia as crianças a se tornarem consumidoras da lanchonete. “A criança passa, por exemplo, uma hora no ambiente escolar fazendo uma atividade divertida com aquele palhaço. Fora da escola, ele vai querer contato de novo com o personagem e vai encontrar onde? Nas lanchonetes”, explica a advogada, que também é conselheira do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional).
O show comandado pelo Ronald apresenta jogos, mágicas e atividades de entretenimento, supostamente educativos, para os estudantes. “O ambiente lúdico e o palhaço que representa a marca exercem a função de criar uma ligação afetiva das crianças com a lanchonete”, comenta.
Há pouco tempo era possível conferir em que escola o Ronald estaria no site da lanchonete. Agora, constam apenas as apresentações feitas nos estabelecimentos da própria rede. Segundo pesquisa feita pelo instituto no site, em junho e julho deste ano, foram 69 shows em escolas.
A advogada diz que independente de ser ou não uma alimentação saudável, a propaganda na escola precisa ser considerada abusiva e ilegal. “Os produtos precisam ser vendidos para os adultos. A criança sozinha não tem condições de interceptar esse tipo de mensagem. Precisamos sensibilizar os diretores das escolas para que eles percebam que a escola também tem papel fundamental na formação dessa criança.”
Para o instituto, a ação de marketing faz com que aumente os hábitos consumistas. “O fato de ser um rede de fast-food é ainda um agravante”, avalia.
Em 2011, o Datafolha fez uma pesquisa em todo o país, a pedido do instituto Alana, que mostrou que 56% dos 2.061 entrevistados eram contra propaganda feita dentro das escolas como distribuir folhetos e brindes ou vender produtos com o aval da direção das escolas.
A pesquisa mostrou ainda que quanto maior escolaridade e renda, mais tolerância a esse tipo de ação publicitária. Apesar de reprovada pela maioria dos entrevistados, a publicidade em escolas não é proibida na legislação.
Um projeto que regula a publicidade infantil tramita há 12 anos na Câmara. Em 19 de setembro, foi encaminhado para a CCJC (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) e desde então aguarda um relator para que possa ser analisado. Ainda não há previsão de quando ele será encaminhado para o Senado.
OUTRO LADO
Procurada pelo Maternar, a assessoria do McDonald´s disse que a empresa não foi notificada pelo instituto e que a agenda de shows está mantida.
Segundo nota enviada pela rede, “os shows do Ronald McDonald são realizados unicamente com objetivos lúdicos e educativos. Os conteúdos das apresentações transmitem valores que apoiam os pais na educação dos filhos, com temas sobre respeito ao meio ambiente e vida ativa, entre outros.”
Questionada sobre quantos shows são feitos em escolas e qual o critério para a escolha das unidades, a assessoria não se manifestou. A empresa também não respondeu o motivo de não ser mais possível consultar a agenda de shows nas escolas no seu site.