Saiba por que a criança adoece mais depois de entrar na creche (e a idade recomendada pelos pediatras para começar a escolinha)

FABIANA FUTEMA
Na época de crises respiratórias, meu bebê fez inalação diariamente (Crédito: Schutterstock)
Na época de crises respiratórias, meu bebê fez inalação diariamente (Crédito: Schutterstock)

A licença-maternidade acaba e você não tem com quem deixar o filho. As creches e escolinhas infantis acabam se tornando a única opção para mães sem parentes por perto e que não querem ou não podem recorrer a uma babá.

Mas aí a criança entra na escolinha e engata uma doença atrás da outra. A impressão que dá é que criança que vai para creche adoece mais que as que ficam em casa.

O pediatra Joel Bressa da Cunha, do departamento científico de saúde escolar da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) diz que é natural que isso ocorra no primeiro ano de ingresso na escola.

Segundo ele, a “exposição a outras pessoas favorece a transmissão de doenças”. Independentemente da idade, espera-se que, no primeiro ano de frequência à instituição escolar, a criança adoeça mais vezes por causa do aumento do número de contatos interpessoais.”

Pediatras costumam orientar os pais a esperar a criança completar pelo menos 1,5 ano para colocá-la na creche. É que com essa idade ela terá terminado de tomar as principais vacinas dessa faixa etária.

Essa recomendação também tem relação com o sistema imunológico infantil, que tem uma baixa entre 6 meses e 1 ano e volta a se fortalecer por volta de 1,5 ano.

Bressa da Cunha diz que todo bebê nasce com uma boa proteção com as doenças, que costuma cair a partir do 6º mês. “Esses fatores protetores vão diminuindo: os anticorpos maternos começam a cair a partir dos seis meses, e acabam por volta de 1 ano. A proteção do leite materno diminui progressivamente a partir da introdução de novos alimentos e até o final da amamentação. O lactente também fica cada vez mais exposto ao contato com outras pessoas.”

Só que a maioria das mães precisa voltar ao trabalho quando o filho tem de 4 a 6 meses de vida. Então não se assuste se o bebê adoecer várias vezes logo depois de você colocá-lo numa creche ou escola infantil.

O pediatra recomenda que a criança fique em casa se estiver doente. “Às vezes a criança se recupera mais rápido se tiver o carinho e o aconchego de sua casa. Se a criança estiver doente, a prioridade é seu bem-estar.”

Alguns pais acabam deixando o filho mesmo doente na escola. Nesses casos, as escolas costumam pedir a receita do médico para poder medicar a criança no horário prescrito. A maioria veta a entrada de alunos com doenças contagiosas para que outras crianças não sejam infectadas.

Como evitar essas doenças?

Bressa da Cunha diz que o prolongamento do aleitamento materno é uma das formas de prevenção de doenças infantis.

Ele também recomenda que os pais sigam o calendário de vacinação da SBP. “Boa alimentação e ambiente físico e emocional saudável também contribuem.”

Segundo ele, as creches e pré-escolas precisam ter programas de saúde escolar. “Programas que se preocupem com higiene, segurança e vigilância epidemiológica, com critérios bem definidos para controle de doenças, e afastamento temporário dos doentes e criação de ambientes saudáveis.”

Mais espertas

Mas não são apenas doenças que as crianças pegam ao entrar na creche. A interação com outras crianças traz benefícios para o desenvolvimento motor e mental, além de uma melhor socialização.

Bressa da Cunha diz que esses ganhos já são observados pelos pediatras. ”Alguns já percebem inequívocas vantagens para a criança que frequenta a creche. Há muitas evidências das vantagens sociais e cognitivas para as crianças que frequentam pré-escolas de qualidade.”

E como foi com meu filho?

Eu não fugi à regra e vi meu filho adoecer quatro vezes num único mês logo após retornar ao trabalho.

Embora pagasse a mensalidade, ele só ia uns 5 dias do mês. Nos demais, tinha de ficar afastado por uma série de ites_bronquiolite, conjuntivite e muitas doenças respiratórias que faziam com que não dormisse à noite porque não conseguia respirar.

Como minha mãe mora em outra cidade e minha sogra trabalha, precisei correr atrás de um plano B. Paguei para várias pessoas diferentes cuidarem dele para poder trabalhar. Até arrumar uma babá que está comigo até hoje _e acabei tirando da creche após três meses.

Só que ele já tem quase 2 anos e faz tempo que sinto falta dele se relacionar mais com outras crianças. Voltei a colocá-lo na escolinha por meio período em outubro. Desde então, já tive de correr para o pronto-socorro inúmeras vezes.

Desta vez não vou desistir da escolinha, pois percebi que ele se desenvolveu muito num tempo bem curto. Está mais falante, aprendeu novas palavras, sabe brincar melhor com outras crianças. Também ficou mais bagunceiro, mas prefiro isso a vê-lo doentinho em cima da cama.