Especialista alerta sobre riscos dos jogos eletrônicos para a saúde das crianças

FABIANA FUTEMA
Neuropediatra diz que jogos eletrônicos causam dores musculares e interferem no sono (Foto: Shutterstock)
Neuropediatra diz que jogos eletrônicos causam dores musculares e interferem no sono (Foto: Shutterstock)

Qual a idade certa para apresentar o videogame para uma criança? Essa pergunta parece ter ficado ultrapassada, já que os joguinhos não estão mais restritos aos consoles de casa. Agora estão ao alcance de dedinhos cada vez mais novinhos em tablets e celulares que nós mesmos deixamos os pequenos manusearem.

O neuropediatra Christian Muller, membro da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), diz que não dá para proibir a criança de jogar.  “Talvez tenhamos que discutir não só a precocidade, mas a questão da imposição de limites, de restringir o uso. Uma criança de 2 anos, por exemplo, não deveria usar um tablet.”

A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria estabeleceram limites para a exposição das crianças a todo tipo de mídia (TV, games, dispositivos móveis), segundo a terapeuta Chris Rowan. Recomendam que crianças de 0 a 2 anos não tenham nenhum tipo de exposição à tecnologia. O limite para as de 3 a 5 anos é de uma hora diária. O tempo sobe para duas horas diárias para crianças de 6 anos a jovens de 18 anos.

Segundo Muller, os pais precisam saber dos efeitos causados pelo excesso de exposição aos videogames e outros dispositivos eletrônicos. “Estudos comprovam que há efeitos físicos e até comportamentais”, diz Muller.

A má postura, por exemplo, provoca dores musculares na criança. Também há risco de desenvolvimento de úlcera na córnea, pois a criança fica muito tempo sem piscar enquanto joga videogame.

Muller afirma que os jogos eletrônicos podem potencializar sintomas de ansiedade e agressividade na criança. “Você pode observar algumas crianças batendo o dedo ensandecidamente na tela do tablet em busca de um ponto.”

Para reduzir sintomas de ansiedade e agressividade em crianças com deficit de atenção, Muller diz que os médicos recomendam atividades físicas. “Os jogos eletrônicos são o contrário da atividade física. Os exercícios reduzem a agitação.”

Muller diz que os jogos eletrônicos também provocam alteração do sono.  “A luz das telas dos jogos ficam no rosto da criança, reduzindo a produção de melatonina e diminuindo o sono. Isso é o contrário dos livros, que produzem sombra e dão um soninho.”

Outro problema causado pelo uso de dispositivos móveis são os acidentes por falta de atenção. “Há vários casos de quedas e traumas causados por pessoas que estavam jogando ou trocando mensagens”, afirma o médico.

Limites

O neuropediatra diz que os pais não precisam proibir, mas devem buscar um limite saudável. “Esse uso deveria ser pontual. Esse tempo jogando não deveria fazer parte do dia a dia da criança. Deveria ficar restrito a alguns momentos.”

E como entreter a garotada? Muller diz que os pais devem incentivar os filhos a praticarem mais atividades físicas. “É preciso encontrar diversão com atividade física.”

Muller diz que as crianças vão desenvolver a parte cognitiva brincando de encaixar tanto no tablet quanto com peças de brinquedo no chão de casa. “Os dois trabalham a parte cognitiva, mas só o brinquedo desenvolve a parte motora. O ato de encaixar se aprende fazendo.”

Inevitável

Fabiany Lima, mãe de gêmeas, desenvolveu o aplicativo gratuito TimoKids, com histórias educativas para duas faixas etárias: de 0 a 6 anos e de 7 a 12 anos.

Questionada se não era muito cedo para apresentar um aplicativo para uma criança de menos de um ano, Fabiany disse que a “tecnologia é inevitável”.

Segundo ela, o conteúdo das histórias presentes no aplicativo são seguras e estimulam o aprendizado e convívio social.

As histórias do aplicativo possuem trilha sonora que acompanha a narração e estimula a interação das crianças, que precisam ativar manualmente o áudio e clicar na tela, para alterar a página.

Médico diz que o uso de games e dispositvos móveis deve ser pontual na vida das crianças (Foto: Shutterstock)
Médico diz que o uso de games e dispositvos móveis deve ser pontual na vida das crianças (Foto: Shutterstock)