Meninas pedem festas de super-heróis, e mães debatem o empoderamento infantil
Menina faz festa de princesa, e menino de super-herói, certo? Errado! Criança escolhe o tema que quiser para sua festa de aniversário. Mesmo que o tema contrarie as convenções criadas pelos adultos, muitos pais já tentam atender aos desejos do filho.
Esse é o caso da empresária Renata Palmeira Braga, 34, que neste ano deu uma festa do Homem de Ferro para a filha Marina, de 4 anos.
“Fora a surpresa da época, entrar nesse projeto foi tranquilo para toda a família, mas foi realmente chocante ver como várias pessoas estranhavam, diziam ser “coisa de menino” e por vezes ficavam sem reação diante da escolha dela. Foi então que percebemos o quanto aquela festa tinha um propósito maior e tomamos pra nós o dever de fazer dela uma forma de propagar ideias que consideramos fundamentais para qualquer criança”, escreveu a mãe em seu perfil no Facebook.
A recompensa veio depois, segundo ela, ao observar a felicidade da filha sendo quem ela é durante a festa. “Mostrando a eles o que mais gosta, sem limites e julgamentos e levando esse olhar de mudança a todas aquelas famílias não teve preço”, contou Renata.
A autônoma Tatiane Farias, 34, também foi surpreendida pelo pedido da filha Ana Clara, 3 anos. A menina quer que a festa de 4 anos seja dos Vingadores. A mãe já estava planejando fazer uma da uma festa da Tinker Bell.
“Mas percebemos que ela não estava satisfeita! E mesmo depois de quase tudo comprado! Ela nos surpreendeu pedindo a festa dos Vingadores. Ficamos felizes, pois ela não se intimida quando dizem que é festa de menino! Ela simplesmente fala que adora os super-heróis! Com esse pedido tão firme não teria porque negarmos”, conta Tatiane.
A mãe diz que o tema Vingadores já está gerando algumas críticas. Mas ela diz não se importar. “Não devemos reprimir os nossos filhos! Criança não tem maldade! Não vamos acabar com essa pureza por nossos preconceitos! Eles devem brincar como quiserem e com o brinquedo que quiserem! Isso não os fere só acrescenta para que no futuro possam ser adultos com menos preconceito e mais amor ao próximo”, afirma Tatiane.
O aniversário de Ana Clara será comemorado em setembro. Mas como a mãe é que vai cuidar de tudo, a festa já começou a ser planejada. “Vai ser na escola com direito a fantasia do Hulk e boneco na mesa.”
Tatiane critica a forma como a sociedade tenta dividir as brincadeiras por gênero. “Em uma sociedade capitalista demais em que pessoas são “rotuladas”, é difícil ficar em cima do muro! Então resolvemos aqui em casa da seguinte forma: meninos e meninas podem brincar com o brinquedo que quiserem. Se a minha filha gosta de carrinhos, ótimo que ela brinque. O importante é que ela seja feliz!”
Renata disse ao Maternar que a apesar de algumas críticas e reações negativas, também recebeu elogios e agradecimentos de famílias que ela nem conhecia.
“Recebemos histórias de outras famílias a situação, muitos agradecimentos por termos dado voz a um problema que que as afligia e tantas, tantas histórias semelhantes, mas com muita dificuldade e preconceito. Preconceito, infelizmente, na maioria das vezes vindo da própria família”, diz Renata.
Motivada pelas reações causadas pela simples decisão de dar uma festa de super-herói para a filha, Renata e uma amiga criaram o movimento Empoderakids. O objetivo, segundo ela, é dar voz e ajudar outras famílias nesse processo de empoderamento infantil.
O livrinho criado para ser brinde da festa também virou símbolo desse movimento. “Ele fala sobre todas as possibilidades que uma menina pode ter, um pouco da história de tantas heroínas da vida real e o empoderamento tão necessário para a nova geração. A ideia era espalhar informação e criar representatividade feminina no mundo dos super-heróis tão amados pela pequena Marina”, diz a mãe.
O livro “O Que Eu Posso Então” está disponível para download: http://www.oqueeuposso.com.br/ .
Para a mãe de Marina, a repercussão da festa da filha reflete o “quanto ainda é preciso falar sobre sexismo e igualdade de gênero. “E como não podemos esperar as crianças virarem adultos e problematizarem isso sozinhos. É nosso papel, como pais, também orientar nesse sentido”, afirma Renata.
Para a próxima festa, Marina quer o tema ‘Alice no País das Maravilhas’. Mas a mãe conta que ela não quer ser a Alice. “Ela gosta da Rainha de Copas, pois diz que ela é forte e luta. Ainda não fechamos o tema, pois ela não deu tanta certeza quanto no ano passado.”
Já a festa de Ana Clara vai contratar muito com a do ano passado, quando ela se vestiu de Cinderela.