A polêmica da chupeta. E como ajudar seu filho a se livrar dela

FABIANA FUTEMA

Atire a primeira chupeta quem nunca pensou em se valer dela para acalmar um bebê aos prantos. O tema é polêmico e divide até mesmo profissionais da área médica.

Numa coisa parece haver certa concordância: a chupeta deixou de ser o bicho papão de antigamente e há quem defenda seu uso em determinadas situações.

Fúlvia Capecce Urbani Ribas, mestra e especialista em ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares, diz que a chupeta cumpre um papel fisiológico e psicológico importante no desenvolvimento da criança. “A chupeta é importante na fase oral, ajuda a acalmar. Também ajuda a desenvolver a sucção”, diz Fúlvia.

O pediatra Victor Nudelman, do Hospital Albert Einstein, vê utilidade nela em determinadas situações. “Ela pode ter seu papel junto aos prematuros, que precisam estimular a musculatura de sucção, como também em alguns casos de refluxo.”

Para a psicoterapeuta infantil Val Alves de Mira, a ‘sucção é uma necessidade fisiológica presente do nascimento até por volta dos 9-12 meses de vida do bebê’. “Quando a amamentação satisfaz a fome, mas a necessidade de sugar não é completamente satisfeita, o bebê encontrará alguma forma de suprir esta necessidade levando as mãos e dedos à boca. O uso da chupeta não é obrigatório, mas pode acalmar ou distrair o bebê.”

Nudelman lembra que a chupeta não deve ser introduzida logo na primeira semana de vida do bebê para não haver confusão de bicos, o que atrapalharia a amamentação.

“A chupeta pode confundir o bebê, que ainda está aprendendo a mamar. É muito diferente a forma de sugar um seio da sucção da chupeta”, diz.

Polêmica

Mas se a chupeta ajuda a acalmar o bebê, por que seu uso é tão criticado?

Fúlvia diz que o uso da chupeta pode causar alterações na postura da língua, na fala e respiração do bebê

Por isso ela defende que as crianças larguem a chupeta até os dois anos. “Se usada até os dois anos, as alterações ocasionadas podem ser revertidas naturalmente.”

A ortodontista diz que as alterações causadas após essa idade precisam de tratamento para serem corrigidas. Esse tratamento, segundo ela, pode envolver uma equipe multidisciplinar _dentista, ortopedista funcional dos maxilares e ortodontista, fonoaudiólogo e psicólogo e otorrinolaringologista.

Nudelman diz que quanto antes a chupeta for retirada, melhor.”A partir de um ano já dá para começar a tentar retirar a chupeta.”

A psicoterapeuta diz que quanto maior for o tempo de uso, mais difícil será a retirada da chupeta.

A educadora Vanessa Frolich Alves, 30, tentou tirar a chupeta quando o filho Eduardo completou 2 anos. Ela demorou menos de dez dias para conseguir.

Primeiro, tentou conversar e explicar que ele estava ‘grandinho’ e não precisava mais dela. Como não deu certo, tentou convencê-lo  a trocar chupeta por um ursinho. “Ele ficou com a chupeta e com o ursinho”, conta.

Passados cinco dias, Vanessa fez furinhos com uma agulha no bico da chupeta. “Ele não gostou, chorou. Mas não substituímos por outra. Em três dias ele largou a chupeta.”

A retirada da chupeta

Uma vez tomada a decisão de retirar a chupeta do filho, a psicoterapeuta diz que os pais precisam acreditar que a criança conseguirá sobreviver sem ela. “ Alguns pais não suportam ver a criança frustrada com a ausência da chupeta e acabam voltando atrás o que, muitas vezes, deixa a criança confusa e atrapalha o processo.”

Segundo ela, é natural que a criança fique mais chorosa no início do processo de retirada da chupeta. Logo no começo do processo de retirada, a criança pode ficar mais chorosa

Nessa fase, segundo ela, os pais podem ajudar com carinho, distração e brincadeiras. “A chupeta não é protagonista e nem tão importante para a vida da criança.”

Val lembra que a retirada da chupeta não deve ser feito em momentos de transição nem com outras mudanças, como a chegada do irmão, retirada da fralda, entrada na escolinha. “Uma mudança por vez.”

Para a psicoterapeuta, uma boa forma de ajudar o filho a se livrar da chupeta é deixando ela participar da decisão. “Quando a criança participa, costuma cooperar melhor e se sente valorizada.”

Dicas

-Reduza uso aos poucos, tente estipular horários;

-Não tenha várias chupetas pela casa, não facilite o acesso a ela;

-Não deixe a chupeta pendurada num cordãozinho preso à roupa;

-Não deixe a criança controlar o tempo de uso, o adulto é que deve ter controle da situação;

-Tente negociar com a criança o abandono da chupeta;

-Elogie a criança quando ela estiver sem chupeta

 

Ortodentista diz que chupeta causa problemas depois dos 2 anos (Crédito: Shutterstock)
Ortodentista diz que chupeta causa problemas depois dos 2 anos (Crédito: Shutterstock)