Entenda a cama compartilhada (e como ajudar seu filho a dormir sozinho)
Você ignorou todos os conselhos e trouxe seu bebê para dormir na cama de casal? Não se sinta envergonhada, você não está sozinha. Esse método, que passou a ser chamado de cama compartilhada, vem ganhando seguidores.
O pediatra especializado em neonatologia Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá, é um dos defensores do sistema. Segundo ele, a cama compartilhada pode trazer benefícios tanto para os pais quanto para as crianças.
“O bebê se sente seguro com a proximidade física dos pais, e esses, principalmente os de primeira viagem, que no começo levantam para ver se o filho está respirando no meio da noite, também ficam mais tranquilos”, afirmou. “Para a mãe, que amamenta, também fica mais fácil.”
Esse modelo horroriza a maioria dos pediatras, que alertam os pais sobre o risco de sufocarem acidentalmente a criança enquanto dormem. “Não é seguro. Os pais não têm controle dos movimentos enquanto dormem. Não recomendo de jeito nenhum”, diz a pediatra e alergologista Ivani Mancini.
Como alternativa aos pais que querem ficar perto da criança, Ivani recomenda colocar o bebê para dormir num carrinho ou bercinho no mesmo quarto. E só nos primeiro meses. Para Ivani, o bebê deve ser acostumado a dormir sozinho no berço desde cedo.
Sobre a questão de segurança, Cacá diz que a cama compartilhada só não pode ser adotada por pessoas que tomam remédios que interferem no sono, bebem ou usam drogas.
Ele também discorda da necessidade de acostumar o bebê a dormir sozinho no próprio quarto. “Por que acostumar desde cedo com a ausência? Não sente falta de afeto e proximidade quem nunca teve. Criação com apego mexe com os outros.”
Ivani discorda. “Você não terá menos vínculo com seu filho se não dormir junto.”
A editora Natália Coltri Fernandes, 29, diz que até chegou a montar um quarto para a filha Valentina, que está com 20 meses. “Mas quando ela nasceu foi tão natural querê-la do meu lado, foi tão espontâneo levá-la para cama comigo e meu marido, era tão claro e instintivo ter a criança junto, perto, próxima, que foi a nossa opção. Eu amo essa escolha porque é muito gostoso o bebê próximo a mãe.”
Ela diz não se importar com as críticas de quem reprova a cama compartilhada. “As decisões que tomo na minha casa são baseadas na vivência da minha família e no tipo de criação que escolhi, sabe? Existem inúmeras pesquisas que falam da vantagem de se ter a criança por perto, das vantagens de criar o bebê próximo e acolhido pelos pais.”
Para Priscila Zamlutti também foi natural trazer a filha Catarina, hoje com 2 anos e 8 meses, para a cama compartilhada. “Estava ficando exausta por ter que levantar à noite para amamentá-la e acabava dormindo no sofá com ela no colo. Comecei a amamentar sentada na cama ao invés de ir até o sofá, depois deitada na cama e por fim a cama compartilhada se instalou naturalmente.”
Quando tirar a criança da cama do casal?
Natália diz que espera que a filha decida naturalmente dormir sozinha. “Ela fala que um dia vai dormir na cama dela.”
Priscila afirma que pretende usar a cama compartilhada enquanto a filha mamar à noite. “Acredito que irá sozinha para sua cama quando não precisar mais mamar. Já vi ocorrer com outras crianças.”
Cacá diz que o momento certo é aquele em que uma das partes manifesta essa vontade. “Às vezes a própria criança dá sinais de que precisa de mais espaço. Ou o marido pede para tirar o filho da cama.”
Para ele, é difícil manter a cama compartilhada quando a mãe inicia o desmame. “Quando o bebê se mexe muito, também não é fácil.”
Ivani diz que o melhor é nem trazer a criança para a cama do casal. “Uma vez que trouxe, fica difícil tirar depois.”
Como ajudar a criança a dormir sozinha
Para quem compartilha a cama, mas quer acostumar a criança a dormir sozinha, Ivani afirma que será preciso ter paciência, pois o processo é demorado. Ela recomenda colocar um colchão do lado da cama do filho e dormir no quarto dele no começo.
A pediatra diz que o método ‘nana nenê’ _do livro que orienta os pais a deixarem o bebê chorando sozinho no berço até adormecer_ funciona quando a criança ainda não anda nem sabe sair sozinha da cama ou berço.
A terapeuta comportamental Val Alves Mira diz que uma vez iniciado o processo de suspender a cama compartilhada, os pais deverão ser firmes com o filho. “Se a criança voltar no meio da noite, os pais terão que levá-la a seu quarto.”
Por isso, Ivani recomenda que o processo de acostumar a criança a dormir sozinha seja iniciado nos fins de semana, feriados ou durante as férias. “Entendo que não é fácil levantar a noite toda e ter que trabalhar no dia seguinte.”
Val diz que os pais devem explicar para a criança que já sabe falar que ela terá seu próprio quarto. “E que poderá visitar a cama dos pais sempre que o sol estiver no céu ou de acordo com os limites estabelecidos pelo casal.”
Outra dica é pedir a ajuda da criança na decoração do quarto e na preparação da cama à noite. “Quanto mais aconchegante melhor”, afirma Val.
Segundo a terapeuta, o quarto não pode ser um lugar aversivo. “Não peça para seu filho ir para o quarto ou para cama dormir como castigo. Se a transição para o quarto for feita com afeto e consistência, não haverá trauma!”
Sexualidade do casal
Cacá diz que a cama compartilhada não interfere na sexualidade do casal. “As pessoas sabem usar outros lugares.”
Para Ivani, mesmo que a sexualidade não seja afetada, há o problema da qualidade do sono. “Não é possível ter uma boa noite de sono, acordar descansada, dormindo com uma criança que se mexeu a noite toda do seu lado.”
Priscila afirma que passou a dormir melhor com a cama compartilhada. “Existem mães e crianças que simplesmente não se adaptam ao sistema. Se sentem desconfortáveis, não dormem direito. E para outras é a salvação da lavoura. Depois da cama compartilhada posso dizer que voltei a dormir. É tão natural que muitas vezes nem sei quantas vezes ela mamou, pois amamento quase dormindo e ela mama dormindo.”