Mães são fotografadas para incentivar amamentação em qualquer lugar
Quem amamenta, principalmente por um tempo mais prolongado, certamente já foi vítima de olhares tortos ao ‘sacar’ o peitão no meio de um shopping ou de um restaurante para amamentar o seu filho. Fora ouvir comentários como ‘ele tem dentes e você amamenta? Que horror’ ou ainda ‘até quando você vai amamentar essa criança?’.
Pitacos de parentes e até desconhecidos nunca faltam. Apesar do Ministério da Saúde recomendar exclusivamente o leite materno nos seis primeiros meses de vida do bebê e como complemento a outros alimentos até os dois anos ou mais, ainda há preconceitos com quem amamenta.
Para mostrar que amamentar é um ato de amor e que pode ser feito em qualquer lugar, a jornalista Catarina Beato, 33, e o fotógrafo Tiago Figueiredo, 38, começaram a registrar mulheres amamentando seus filhos em lugares públicos, como na rua, na praia, no estádio de futebol e até em pleno Elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão, no centro de São Paulo. Os dois profissionais, que são portugueses, contam que começaram o projeto Loove no meio deste ano em seu país de origem.
“Infelizmente há um estigma muito grande não só no Brasil, mas também em países da Europa de que a mulher não pode amamentar na rua”, comenta Figueiredo, que já fotografou mais de 20 mulheres em Portugal e na Angola e que agora expande o projeto no Brasil.
Vítimas de vários olhares, a geógrafa Fabíola Tibério Nunes, 34, disse que passou a ignorar quem não entende a importância da amamentação. Ela participou de uma sessão de fotos no final de outubro no Minhocão com o filho Igor, que vai completar nove meses neste mês.
Fabíola conta que amamenta o filho em qualquer lugar. “Acho que dar de mamar publicamente pode ajudar a incentivar outras mulheres a fazer o mesmo. Muitas mulheres amamentam escondidas nos banheiros ou fraldários. É feio amamentar em público? Não tem sentido”, comenta.
MAMAÇO
É fato que estamos acostumadas a ver mulheres desnudas no Carnaval, mas as mães ainda são discriminadas quando decidem amamentar em público os seus filhos. A polêmica sobre restringir o local de amamentação ganhou grande repercussão em março de 2011 quando a antropóloga Marina Barão foi proibida de amamentar Francisco, na época com três meses, no Itaú Cultural. Na ocasião foi organizado um mamaço (amamentação coletiva) e a entidade mudou de postura após o episódio, considerado um erro a atitude do funcionário que tentou impedir Marina de amamentar no local.
No próximo domingo (10), pais e mães organizam um novo mamaço no shopping Iguatemi de Caxias do Sul (RS) após uma reportagem de um jornal local mostrar que os principais centros comerciais da cidade recomendam que as mulheres amamentem exclusivamente nos fraldários e não nas áreas comuns. Após a divulgação do caso, um evento foi organizado nas redes sociais para fazer uma amamentação coletiva.
Um dos organizadores, Moisés Rodrigues, 28, é pai de um bebê de dois meses e disse ter ficado indignado com a orientação do shopping de aconselhar as mulheres a utilizar o fraldário. Para ele não faz sentido a família estar na praça de alimentação, por exemplo, e a mãe precisar ir até o fraldário para alimentar o bebê. ”É o mesmo que falar para a gente comer no banheiro. A mulher tem que alimentar seu filho onde quer e se sente mais segura”, afirma.
Segundo relatos de frequentadoras do shopping nas redes sociais, os funcionários não proíbem amamentar nos corredores e na praça de alimentação, mas as mães são abordadas e orientadas a usar o fraldário, que conta com apenas uma poltrona.
“Imagina falar para um bebê que ele tem que esperar o outro bebê mamar para depois ele ser alimentado. É absurdo. Agora, alguém achar que é sexy a mulher tirar o seio para dar de mamar a um bebê só pode ser doente”, diz Rodrigues.
Procurado pelo Maternar, o shopping disse apenas que apoia a amamentação e que não obriga as mulheres a usarem o fraldário para amamentar os filhos. Questionado sobre o o mamaço, a assessoria do Iguatemi disse que não foi informado sobre o evento.