Casal que perdeu duas filhas em tragédia de Angra tem trigêmeos
O casal Cláudia e Marcelo Repetto não sabe o que é comemorar as festas de fim de ano desde a trágica virada do ano de 2009 para 2010. Na ocasião, eles perderam as duas filhas soterradas após um temporal em Angra dos Reis, que deixou um total de 53 mortos. Agora, eles esperam ter um Natal com a casa cheia: na última sexta-feira (8), nasceram os trigêmeos do casal.
Flora, Felipe e Valentina nasceram prematuros quando Cláudia estava com 31 semanas de gestação. Os três estão na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Perinatal, no Rio, mas se recuperam bem. Orgulhosa, a mãe diz que eles não precisaram ser entubados e que na terça-feira (12) pode fazer o método canguru (técnica que ajuda reforçar o sistema imunológico de prematuros ao colar o bebê pelado no colo da mãe).
Após ter alta, na última segunda-feira (11), Cláudia conta que a rotina tem sido agitada. Ela passa todo o tempo que pode ao lado dos recém-nascidos. Lá, ela retira o leite que alimenta os bebês por meio de sondas. Apesar de ainda não ter uma previsão para a alta deles, os pais estão confiantes que eles estarão todos em casa no próximo Natal.
Aos 46 anos, Cláudia conta que se sente realizada ao voltar a mexer com fraldas, macacões e carrinhos de bebê. Apesar de ter uma idade mais avançada e a gravidez ser gemelar, ela conta que a gestação foi muito tranquila e que não precisou fazer repousos. A cesárea só ocorreu no sétimo mês de gestação após exames mostrarem que Valentina já não engordava como deveria.
A mãe conta que o enxoval foi preparado com muito carinho e que os bebês vão dormir no quarto que era das irmãs Gabriela Ribaski Repetto, 9, e Giovanna Ribaski Repetto, 12, na casa da família, na Barra da Tijuca, no Rio.
“Transferi com muito carinho todas as roupinhas, brinquedos delas para um outro quarto. Ainda não consegui me desfazer de tudo. Sei que é só material, mas é o que tenho delas agora”, relata a mãe.
A mãe diz que ao montar o quarto dos bebês teve a ajuda das duas meninas. “Senti como se elas estivessem aqui com a alegria da chegada dos irmãozinhos”, conta.
Cláudia conta que sempre gostou de ser mãe e que viveu a maternidade intensamente com as filhas fazendo viagens, brincando e curtindo as duas no dia a dia. “Acredito que é por isso que tenho tanta saudade. Só sentimos saudades daquilo que foi bom. Na minha vida só tive ganhos ao poder conviver com elas”, relata.
Ela conta que preferiu não se entregar após a morte das filhas e disse que sobreviveu até hoje por conta delas. “Sei que onde elas estiverem, elas querem nos ver felizes”.
O casal não gosta de relembrar nem falar muito sobre a tragédia. Os dois ficaram internados por dias para se recuperar do acidente. As meninas foram cremadas apenas no final de janeiro para que os pais pudessem acompanhar a cerimônia.
Cláudia conta que a família havia alugado uma casa na Ilha Grande para a passagem do Réveillon e que dormiam no mesmo quarto na hora do deslizamento. Ela estava na cama com as meninas e o marido em um colchão no chão. Lúcidos, eles esperaram o resgate e contam que notaram ali que as filhas já não estavam mais com eles. “Na mesma hora que gerou uma revolta pedi para Deus ampara-las e levar as duas em paz”.
Além dos quatro também estava na casa o tio de Marcelo, Renato Repetto, 50, e a mulher dele, Ilza Maria Roland, 50. Os dois também não resistiram.
Para Cláudia, engravidar deu a oportunidade de recomeçar. Ela conta que engravidou espontaneamente em 2010 e perdeu o bebê com poucas semanas de gestação. A ideia de fazer a inseminação artificial veio logo depois. Ela conta que fez duas tentativas sem sucesso e que engravidou na terceira. Para o casal, um filho jamais vai substituir outro, mas a chegada dos trigêmeos realiza um sonho das meninas que pediam um irmãozinho. “Não veio um, mas três”, diz Cláudia que se sente realizada ao poder formar novamente uma família.