Mãe diz que foi impedida de amamentar a filha em espaço infantil do Sesc
A turismóloga Geovana Cleres, 35, diz que foi impedida de amamentar a filha Sofia, de 1 ano e quatro meses, na tarde de ontem (13) em um espaço voltado para crianças no Sesc Belenzinho, na zona leste de São Paulo.
Ela conta que estava com a filha e outras duas amigas, uma delas com um bebê. Todas estavam sentadas no chão, no espaço de leitura, que fica ao lado do espaço brincar (área de lazer voltada para crianças de zero a seis anos).
Segundo ela, a menina brincava com o outro bebê quando pediu ‘mamá’ para a mãe. Em seguida, ela diz que ergueu a blusa e deu o peito para a filha. “Na segunda sugada dela já fui abordada por uma funcionária que informou que era proibido amamentar naquele lugar”, relata.
“Ela disse que eu deveria me dirigir até a sala de amamentação”, conta Geovana. Mesmo contrariada com a ordem, ela parou de amamentar a filha e foi questionar o motivo da proibição.
“Ela falou que outras crianças poderiam ficar olhando e ficariam com vontade, o que é um absurdo. Depois, ela disse que outras pessoas já reclamaram porque se sentiram ‘constrangidas’ ao ver a cena. Resolvi perguntar se fosse dar mamadeira se eu poderia dar ali. E adivinha qual foi a resposta? Que sim. Um absurdo”, lamenta a turismóloga. Segundo Geovana, Sofia não toma leite na mamadeira.
Geovana disse que, em seguida, foi até a sala de amamentação indicada pela funcionária para conhecer as instalações do local. Ela conta que o espaço é pequeno e tem apenas uma poltrona.
“Lá tinha um pai dando papinha para o seu filho. Eu teria que esperar ele terminar para então alimentar a minha filha. E eu pergunto: e se tiverem duas ou três mães que precisam amamentar seus bebês no mesmo momento, o que será feito? Bebê nenhum aguenta esperar.”
Segundo ela, Sofia ainda não havia tomado leite naquela tarde. Geovana diz que não pretende mais ir ao Sesc pois considerou “retrógrada a postura de proibir amamentar em espaço público”.
A funcionária também teria dito que mães que vão no espaço com frequência sabem que não é permitido amamentar nas áreas comuns. A mãe conta que ficou indignada com a situação e que registrou uma reclamação no próprio Sesc. Até o início da tarde de hoje, ela não havia recebido uma resposta do Sesc sobre o assunto.
MAMAÇO
Após fazer um desabafo nas redes sociais sobre a proibição, outras mães apoiaram Geovana e já organizam um mamaço (amamentação coletiva) que vai acontecer no próximo domingo (17), às 10h, no mesmo local onde ela foi proibida de amamentar.
O caso de Geovana não é o único relatado pelas mulheres que vão participar do mamaço. Pelo menos outras duas mães disseram que foram proibidas de amamentar no local.
A produtora Emy Watanabe, 43, diz que em março deste ano estava com o filho Lucas, na época com 2 anos, no Espaço Brincar quando uma monitora disse que ela não poderia amamentar lá. Ela também reclamou no site do Sesc e recebeu uma resposta de que foi um erro da monitora.
“Na época disseram que era um equívoco e que iriam reforçar o treinamento dos funcionários o que, pelo visto, não ocorreu”, lamenta. A produtora disse acreditar que os casos são realmente pontuais, mas que há falta de treinamento do pessoal para lidar com essa questão.
Outras mães, no entanto, relataram nas redes sociais que já amamentaram no espaço sem serem abordadas. Emy elogiou o fato do Sesc contar com uma sala de amamentação. “Apesar de não ser o ideal, é positivo pois algumas mães preferem amamentar em um lugar reservado”, comenta. O Maternar mostrou recentemente um projeto fotográfico que tem o objetivo de incentivar a mulher a amamentar em qualquer lugar.
A designer gráfica Josiane Ribeiro, 35, também conta que foi proibida de amamentar o filho Júlio, em maio. “A funcionária disse que existiam regras, mas só saí de lá quando meu filho já tinha terminado de mamar”, conta.
Ela também fez a queixa no site do Sesc e diz que não obteve nenhuma resposta. Emy e Josiane também pretendem comparecer ao mamaço.
OUTRO LADO
Procurada pelo Maternar, a assessoria de imprensa do Sesc Belenzinho pediu desculpas pelo ocorrido. “Reforçamos que semanalmente atendemos 60 mil pessoas e que o nosso conceito de atendimento e acolhimento das mães não condiz com as observações descritas. Acreditamos na importância da amamentação como forma de estreitamento de vínculo afetivo entre mães e filhos e não impediremos que tal ato seja realizado”, diz nota enviada pelo Sesc.
Ainda segundo a nota, o episódio foi “uma disfunção de comunicação” e que os funcionários serão orientados para que a situação não se repita.
O Sesc disse que soube do mamaço e que vai acolher todas as mulheres no evento. A assessoria ressaltou ainda que há duas salas de amamentação com equipamentos que facilitam a higienização de utensílios e que contam com poltrona adequada para atender as mães que desejam utilizar o espaço.
OUTRO CASO
A polêmica sobre restringir o local de amamentação ganhou grande repercussão em março de 2011, quando a antropóloga Marina Barão foi proibida de amamentar Francisco, na época com três meses, no Itaú Cultural.
Na ocasião, foi organizado um mamaço e a entidade mudou de postura após o episódio, considerado um erro a atitude do funcionário que tentou impedir Marina de amamentar no local.