Cardápio de criança e bebê vegetarianos deve ser feito com cautela

Giovanna Balogh

Pais que são vegetarianos ou veganos – que não comem nem consomem nada  de origem animal – normalmente querem que os filhos sigam o mesmo cardápio, ou seja, nada de carnes mesmo na introdução alimentar dos bebês com mais de seis meses de vida. Segundo médicos e nutricionistas, não há problema algum de a criança não consumir carne desde que o cardápio da família seja balanceado e feito com o acompanhamento de um profissional.

A nutricionista  Beatriz Tenuta Martins, presidente do Conselho Regional de Nutricionistas, ressalta que o mais importante é que o cardápio seja bem variado com grãos e leguminosas, por exemplo. “A dieta sem carne pode acontecer nas crianças desde que sejam feitas as substituições adequadas de alimentos”, explica.

O médico Eric Slywitch, especializado em nutrição vegetariana, explica que as carnes podem ser trocadas por feijões. “Trocamos cem gramas de carne por uma concha de feijão. Nessa quantidade temos uma ótima substituição dos principais nutrientes”, diz. Segundo ele, os pais devem ficar atentos na dieta vegetariana pois as verduras e legumes não devem ser os alimentos usados em maior proporção. “Esses alimentos são volumosos e pouco calóricos”.

“Crianças precisam de mais calorias que adultos, e a base da dieta precisa ser feita com cereais, como arroz, milho e quinua e leguminosas [feijões, ervilha, lentilha e grão de bico]”, explica. Segundo o médico, adicionar óleo (oliva e linhaça) nas refeições principais também aumenta o aporte calórico e oferece ômega-3 (por meio do óleo de linhaça). Ele diz que o acompanhamento médico é necessário pois é preciso fazer também a reposição da vitamina B12.

LEITE MATERNO

A nutricionista ressalta que o leite materno deve ser o alimento exclusivo do bebê até o sexto mês e o complemento a outros alimentos até os dois anos de idade da criança. Segundo ela, se a mãe seguir essa orientação a criança terá uma alimentação equilibrada nesta fase da vida. Ela explica que ao desmamar a criança após os dois anos, por exemplo, os pais que são veganos encontram  várias opções de produtos nos mercados que são isentos de leite de vaca.

“Os cuidados com os bebês veganos, com relação ao cálcio, são os mesmos de uma pessoa com alergia à proteína do leite de vaca ou intolerância à lactose. Assim, os profissionais de saúde não encontram dificuldades nesse ajuste nutricional”, diz Slywitch.

O médico diz que  os estudos que acompanham dietas vegetarianas bem planejadas  na infância demonstram crescimento e desenvolvimento adequados. “O uso de dietas sem variação e portanto, monótonas, pode contribuir para a redução da ingestão alimentar de crianças, ou seja, contribuem para a dificuldade de crescimento. Isso vale tanto para crianças que consomem carne e para as vegetarianas”, diz.

Segundo ele, os erros mais comuns na dieta vegetariana é em trocar o leite materno ou fórmulas infantis por sucos de frutas e verduras, promover a amamentação exclusiva por mais de um ano (sem oferecer alimentos complementares) e trocar o leite materno por mistura de farinhas.

Vegetariana há 15 anos, a oceonógrafa Tami Ballabio, 30, ainda não deu carne para o filho Ravi, 2 anos. Ela conta que consulta uma nutricionista que auxilia no cardápio familiar. “O meu filho consome muita fruta, legumes, verduras, cereais , semente e leguminosas todos os dias. Conseguimos consumir grande parte dos alimentos orgânicos e são raros os alimentos industrializados na nossa casa”, diz Tami, que também é mãe de Nalini, 3 meses, que mama apenas no peito em livre demanda.

Tami diz que a família não é totalmente vegana, mas evita consumir, por exemplo, laticínios em casa. “Quando Ravi desmamou, com 1 ano e nove meses, ele não tomou mais leite. Quando para de mamar a criança não precisa mais do leite da mãe, por que ela vai precisar do leite da vaca?”, questiona.

A oceonógrafa diz que não vai impedir os filhos de comerem carne caso tenham interesse algum dia. “O dia em que eles souberem, e tiverem consciência, do que é carne e como ela vem parar no prato das pessoas, e se mesmo assim quiserem comer, poderão comer”, afirma.

Ela conta que o mais velho ainda não vai à escola, mas que na hora que for optar por uma vão escolher entre aquelas que oferecem a opção vegetariana no seu cardápio. Segundo a nutricionista, cada vez mais escolas têm se preocupado em oferecer opções para crianças vegetarianas ou com alergias alimentares.

 

Crianças e bebês podem riscar carne do cardápio desde que ele seja balanceado  (Foto: Shutterstock)