Pais são responsáveis pelas birras dos filhos; conheça a criação com apego

Giovanna Balogh

Esqueça o cantinho do castigo, as palmadas, os gritos e a imposição de limites aos seus filhos. Troque isso por mais beijos, abraços, diálogos e ‘construa regras’ dentro da sua casa junto com a criança . A chamada ‘criação ou educação com apego’ tem sido cada vez mais praticada por pais que são contra qualquer tipo de violência.

Sim, as crianças fazem birras – muitas vezes em público – o que acaba constrangendo nós, pais. Mas,  esses ‘chiliques’ são culpa dos próprios pais, segundo a neurocientista e mãe de duas crianças, Andréia C.K. Mortensen, 40.

“Não podemos esperar reações emocionais perfeitamente equilibradas de uma criança o tempo todo. Ela simplesmente não tem capacidade para isso”, comenta. Segundo ela, há alguns desencadeadores das ‘birras’ como necessidades físicas não atendidas (cansaço, sono, tédio, fome), angústia e outros fatores psicológicos, como estar em um ambiente super-estimulante, como um shopping lotado, ou até mesmo o estresse dos pais diante de uma situação.

Segundo ela, não existe uma fórmula de como cessar a birra, pois não a controlamos, mas lidamos com elas. Para cada birra, é necessária uma atitude diferente, dependendo da sua causa.

“Por exemplo, se a criança bate em você, rapidamente e com a sensibilidade e experiência entenda o motivo de seu filho estar tentando chamar a sua atenção”, explica. Segundo Andréia, se ele está com sono, por exemplo, diga que vai ajudá-lo a dormir e explique que não pode bater. “Fale que nessa família ninguém bate ou grita. Pergunte se ele consegue fazer um carinho aqui e mostre o lugar que ele machucou. Mas, seja firme”. Segundo ela, dessa forma você reconheceu o sentimento dela e direcionou a criança para uma ação positiva e gentil.

O psicólogo e terapeuta familiar, Alexandre Coimbra Amaral, 39, divide a mesma opinião. Segundo ele, os pais precisam conter a criança sendo emfático com ela e dizendo que entende o motivo dela estar agindo daquela forma. “Você pode falar ‘eu sei que você está bravo porque não vai ganhar esse brinquedo’, por exemplo. Isso não representa perda de autoridade, mas uma comunicação para a criança de que você a compreende”.

Apesar de as birras serem desafiadoras, elas representam uma grande oportunidade para ajudar o seu filho a desenvolver conexões essenciais no cérebro. “Através da empatia e do diálogo essas conexões vão se formando e a criança aprende como lidar com o estresse no futuro”, explica a neurocientista.

CANTINHO DO CASTIGO

Amaral, que tem três filhos, explica que o cantinho do castigo deixa a criança à própria sorte no tal banquinho em um canto da casa para que ela ‘pense’ no que está fazendo. “O que ela precisa é de uma contenção emocional, muitas vezes física, como um abraço, por exemplo, até poder se regular emocionalmente. Depois, ela estaria mais preparada para poder refletir sobre o que fez com o auxílio de um diálogo empático com o adulto”.

Andréia, que administra a página no Facebook ‘Crescer sem violência’, explica que a criança nasce sem saber ler e escrever. “Nós as ensinamos, certo? Se não sabe nadar, a ensinamos. Se ela não sabe se comportar, o que fazemos? Punimos, castigamos ou a ensinamos?”, questiona.

Criar um filho é fácil, o difícil é educar. Ninguém nasce sabendo ser pai e mãe e essa é uma tarefa que construímos no nosso cotidiano.

Andréia explica que educar é transmitir valores, estimular o comportamento ético, empático, solidário e reflexivo. “São coisas que a criança vai levar para a vida inteira. Educar é ensinar a tomar boas decisões em situações de conflito. É exercer o diálogo, elogiar os bons comportamentos e, sobretudo, dar bons exemplos”.

O terapeuta familiar diz ainda que a criação com apego permite construir um ser humano mais conectado com suas emoções, seus desejos e que se coloca ativamente diante de uma incoerência dos pais. “O problema é que dá mais trabalho educar sem o auxílio do medo como opressor comportamental”, diz.

“Usar o autoritarismo em forma de castigos (físicos ou psicológicos) na educação é assumir que a violência é aceitável quando é com o outro, principalmente quando ele é indefeso. É preciso entender que um filho que deixa de fazer algo porque apanhou não é uma criança que aprendeu algo, mas uma criança assustada e com medo. É isso que desejamos para os nossos filhos?”, questiona.