Hospitais proíbem mulheres de ter bebê dentro da água

Giovanna Balogh

O parto na água que cada vez tem ganhado mais adeptas não é tão fácil de ser conseguido nos ambientes hospitalares do Brasil. Em São Paulo, cinco maternidades contam com banheira mas a maioria delas não permite que o bebê nasça na água, ou seja, a parturiente só pode ficar no local durante o trabalho de parto.

Em São Paulo, apenas no hospital São Luiz é permitido o parto na água. O nascimento, no entanto, só ocorre se a mulher estiver acompanhada de seu médico particular e se ele concordar com esse tipo de parto. Se o médico da parturiente não chegar a tempo, por exemplo, e o bebê tiver que nascer com o plantonista, ela não poderá entrar na água.

A parteira americana e enfermeira Barbara Harper, responsável pelo Waterbirth Internacional,  conta que nos Estados Unidos, 10% dos hospitais permitem partos na água. No Brasil, no entanto, os nascimentos na água são mais comuns em partos domiciliares ou em casas de parto. Em  São Paulo,  existe a opção de atendimento na Casa Angela, no Jardim Mirante (zona sul de SP), e na casa de parto de Sapopemba (zona leste), essa última mantida pela prefeitura.

A bióloga Fatima Pinheiro, 31, teve o primeiro filho no hospital Albert Einstein em agosto de 2008. Ela conta que a enfermeira a pediu para ela sair da água no momento que o filho Davi coroou [momento que a cabeça do bebê começa a sair].

No segundo parto, ocorrido há oito meses, ela decidiu ter a filha Catarina na água em um parto domiciliar. “A melhor forma que encontrei para explicar é a sensação que você tem no parto na água é de uma criança quando está resfriada e a sua mãe a coloca no colo. Você se sente acolhida, tranquila e parece que tudo passou”, comenta. Para ela, o parto também vai mais rápido e o bebê ‘escorrega’. “Entrei na banheira e 20 minutos depois ela nasceu”, comenta.

Procurados pelo Maternar, os hospitais Santa Joana, Santa Catarina, Pró-Matre e Albert Einstein confirmaram que tem banheira para o uso da gestante, mas que só permitem o uso dela durante o trabalho de parto e não durante o nascimento do bebê.

O Santa Catarina justificou que o tamanho da banheira – que é pequena – inviabiliza o parto na água. Já os hospitais Santa Joana e Pró-Matre informaram que visam ”a segurança da paciente e seu bebê durante os procedimentos. O parto não é realizado na água, pois essa técnica não tem respaldos de nenhum conselho ou órgão regulador da medicina obstétrica”, afirma nota enviada ao Maternar.

O Albert Einstein nega que proíba o parto na água, mas que cabe ao médico decidir se o parto poderá ou não ser dentro da banheira.

Para Barbara Harper, muitos locais no mundo ainda proíbem o parto na água pois os médicos ficam desconfortáveis com esse tipo de nascimento pois ele ocorre da maneira mais natural possível.

“A mulher faz tudo sozinha e eles [médicos], que foram treinados a tirar o bebê, se sentem mal pois não tem que fazer absolutamente nada”, comenta Barbara. Ela dá um conselho aos profissionais de saúde nessas horas. “No parto na água funcionamos mais como ambientalistas pois tomamos cuidado do meio ambiente no entorno da gestante. Sempre brinco se tudo vai bem e se não estamos fazendo exames de toque sem necessidade e não cortamos nossas pacientes, o que nos resta fazer é tirar fotos do parto”, brinca.

O fato é que estudos mostram, um deles inclusive está disponível na Biblioteca Cochrane, que esse tipo de parto não traz qualquer prejuízo para a mãe e tampouco para o bebê. Pelo contrário, só oferece benefícios desde que a mãe tenha uma gestação de baixo risco e se ela e o bebê apresentam boas condições de saúde na hora do parto.

Barbara diz que o parto na água é possível para todas as mulheres. Segundo ela, diferentes estudos mostram que a água ajuda a aliviar a dor, provoca menos infecção, reduz os riscos de laceração, diminui o uso de anestesia, e ainda permite que o parto ocorra em um período menor de tempo.

Barbara, que viaja o mundo ensinando profissionais de hospitais e de casas de parto sobre os benefícios e como atender partos na água, diz que a temperatura da água deve ser a mais confortável para a mãe, ou seja, não existe uma medição ideal. Segundo ela, o parto na água do mar também é possível se esse for o desejo da parturiente.

Durante sua participação no Siaparto (simpósio internacional de parto) ocorrido no início do mês em São Paulo, a parteira, que trabalha há 30 anos com partos na água, explicou ainda que é preciso trocar a água a cada 24 horas e que o ambiente deve ser bastante higiênico. Segundo ela, qualquer banheira que caiba um adulto dentro pode ser utilizada. Um dos modelos muito utilizado são as piscinas infantis infláveis. No caso de banheiras infláveis, elas devem ser cobertas com um plástico grosso para que possam ser reutilizadas depois. O modelo pode ser adquirido, por exemplo, no site da Ilithia, que vende kits prontos para o parto domiciliar.

AFOGAMENTO?

Ela explica que também não há risco do bebê “se afogar”, como temem muitos leigos. Barbara diz que o bebê saudável só ‘respira’ efetivamente quando sai da água, ou seja, assim que nasce, o bebê se mantém como se estivesse no útero, quando estava imerso em líquido amniótico.

Barbara disse que teve três filhos sendo os dois últimos em casa em partos na água. O primeiro, que foi hospitalar, ela classifica que não teve nada de “normal”. “Há 36 anos tive um parto vaginal onde o médico me fez uma episiotomia [corte entre a vagina e o ânus supostamente usado para facilitar a saída do bebê] após ele já ter nascido pois era algo de rotina. Para ele, isso era um procedimento padrão e ele tinha que fazer”, comenta.

Ela conta que teve os partos na água não por ela, mas pelos bebês pois permite que eles controlem o próprio nascimento de forma mais suave. “A mãe relaxada sente menos dor e com isso libera mais hormônios e oxigênio para o filho”, explica.