Pais sem interesse pela Copa não devem privar filhos de torcer

Giovanna Balogh
Pais devem incentivar filhos e falar sobre importância do evento deixando de lado os problemas (Foto: Davi Ribeiro/Folhapress)
Pais devem  falar sobre importância da Copa deixando de lado os problemas (Foto: Davi Ribeiro/Folhapress)

Vai ter Copa. Em meio à revoltas, protestos, greves, obras inacabadas, estádios que custaram fortunas, ela vai acontecer quer você queira, quer não.

Muitos pais nem estão muito no ‘clima da Copa’ nem torcendo para a seleção como em outros mundiais, mas como ficam as  crianças nesse cenário? As escolas estão decoradas de verde e amarelo e fazem atividades com a garotada que fica empolgada com as bandeirinhas que começam a aparecer – ainda de maneira tímida – nas ruas, nas varandas e nos vidros dos carros.

Educadores e psicólogos dizem que os pais não podem deixar que os problemas ofusquem a festa da Copa no mundo infantil. Mostrar para as crianças sobre a importância do esporte, como ele une outras nações e como é gostoso reunir amigos para assistir os jogos devem fazer parte das famílias nos próximos dias.

“A experiência de torcer para a seleção brasileira, ou simplesmente acompanhar as partidas da Copa, pode contribuir para o fortalecimento dos laços sociais e desenvolvimento de valores como companheirismo, respeito mútuo e noção de coletividade”, comenta o psicólogo João David Mendonça.

Ele explica que é natural que os pais que não estão engajados com o evento não tenham interesse em motivar os filhos também, mas fora de casa a criança vai, de uma maneira ou de outra, ter muito contato com o assunto seja na escola, na convivência com os coleguinhas ou vizinhos, nos programas de TV ou nas rodas de conversa.

Pela Copa ser realizada justamente em um ano eleitoral no país, Mendonça acredita que esse fato tem feito as pessoas encararem de maneira diferente o evento esportivo. “Isso interfere principalmente naqueles que creem que a Copa terá uma associação política, seja sendo um sucesso, que beneficiaria o governo, ou um fracasso, que serviria como oportunidade para a oposição”, afirma. O psicólogo diz que caberá aos pais, se considerarem importante, explicar para os filhos o por quê de suas restrições quanto a um engajamento mais forte.

Outro viés na desmotivação da Copa no Brasil é o debate sobre os gastos financeiros envolvidos, que cria a sensação de que todos os problemas do Brasil são consequências da realização da Copa em nosso país. Independente das nossas crenças, o psicólogo diz que a Copa é uma boa oportunidade para ajudar as crianças a conhecer as histórias de outros países, a se aproximar do esporte, a enxergar a importância dos laços entre as nações.

PROTESTOS

E como explicar a onda de protestos que podem ocorrer nos próximos dias? As crianças são seres curiosos pois, diz o psicólogo, a curiosidade é a porta de entrada para o aprendizado. “Mesmo uma criança pequena, com seus 4 ou 5 anos, já vai querer entender melhor o que está acontecendo ao seu redor. É claro que as respostas devem ser adequadas à sua compreensão, mas é possível tentar encontrar meios de explicar para elas o que está acontecendo”, orienta.

Ele diz que as explicações naturalmente são moldadas de acordo com a visão que os pais têm sobre o assunto. “E neste caso, não há consenso. Em todo caso, vale ajudar a criança a entender, da maneira dela, que vivemos numa sociedade em que as pessoas pensam diferente, e acima de tudo, em que as opiniões devem ser respeitadas”, afirma.

Vale também mostrar para uma criança que manifestar a opinião com quebradeiras e violência não é uma forma inteligente e civilizada de expressar as suas ideias. Muitas das críticas quanto à Copa do Mundo vêm das discussões a respeito do uso do dinheiro público num evento como este. “Acho que é necessário diferenciar o que é a cultura do futebol, tão rica em nosso país, e a cultura da corrupção, do jeitinho brasileiro, dos superfaturamentos, que infelizmente sabemos não ser exclusiva apenas de um partido, mas uma faceta muito forte da identidade política do Brasil, que vai além das bandeiras ideológicas de ‘direita ou ‘esquerda’”.

Ou seja, quem está envolvido com a Copa deve respeitar quem não tem interesse pelo assunto assim como quem não gosta da Copa deve respeitar o direito de quem quer torcer pelo Brasil e pelo sucesso da realização do Mundial. “Independente das nossas crenças, acho importante mostrar pra criança os benefícios de um evento deste porte para a sociedade, e seus reflexos positivos para o turismo, a geração de empregos, a economia nacional. Enfim, toda a mobilização em torno da Copa do Mundo pode ser útil na construção de novos conhecimentos para a criança”.