Mães fazem campanha para impedir censura em fotos de parto

Giovanna Balogh
A médica Luciane Victorio teve a foto do parto denunciada na rede social (Foto: Elis Fritas/Nove luas fotografia)
A médica Luciane Victorio teve a foto do parto denunciada na rede social (Foto: Elis Freitas/Nove Luas Fotografia)

“Parir não é pornô” e “liberdade ao nascimento” . Com essas frases, mulheres que apoiam o parto normal  têm feito um protesto virtual para pedir que as imagens de mães durante o parto não sejam removidas pelo Facebook. Mulheres relatam que tiveram fotos apagadas e os perfis bloqueados ao publicarem ou compartilharem fotos de partos naturais. O Facebook diz que fotos de parto não são proibidas desde que a imagem não tenha, por exemplo, nu frontal.

Mãe de duas crianças, Tássia Rodrigues Soares Botelho, 24, teve seu perfil bloqueado na semana passada ao compartilhar a foto de uma mulher americana tendo o bebê na banheira de casa. A justificativa dada pela rede social era de que Tássia havia publicado conteúdo com nudez e pornografia e que não respeitava os “padrões de comunidade do Facebook”.

Para Tássia e outras ativistas, não há nada de pejorativo em parir pois é algo natural e fisiológico. “A mulher merece ser evidenciada na sua maior plenitude, que é quando está parindo seu filho. Nessa hora todas mostram a verdadeira força”, comenta Tássia, que tem uma página no Facebook que incentiva o parto normal e que também foi bloqueada por conta da mesma foto.

“O que mais revolta é que página de ‘mulher gostosa’ postando foto de fio dental não é proibida. Estas são permitidas pois mostram que a mulher é apenas bunda, sexo e diversão. Aí tá liberado, né?”, questiona.

A mesma opinião tem a médica Luciane Victorio, 39, que teve a foto do seu parto denunciada por algum internauta no Facebook. “A minha foto não tem nu frontal, não aparece seio, nem nada”, comentou Luciane, que teve a filha Mariana em casa em março após ter tido os dois primeiros filhos por meio de cesáreas. “Muitas pessoas se incomodam com a mulher tomando seu lugar de direito, parindo e se orgulhando disso. Muitas mulheres têm medo e preconceito e acham lindo apenas a ‘maezinha’ amarrada olhando o filho de longe na sala de cirurgia”, comenta.

Na rede social, mulheres criaram um evento onde publicam fotos de parto com as hashtags #ParirNãoéPornô e #LiberdadeAoNascimento.

Procurado, o Facebook informou que não proíbe fotos de parto. A diretora de comunicação do Facebook no Brasil, Camila Fusco, diz que as políticas da empresa não permitem nudez de qualquer tipo, ou seja, também estão proibidas fotos, por exemplo, de modelos e índios nus.

Camila comenta que existem várias páginas de apoio ao parto natural na rede social e que é preciso critério na  hora de publicar fotos de mulheres durante o parto. “O Facebook pode ser usado por crianças a partir dos 13 anos, então, temos que equilibrar o interesse de todos que usam”, comenta.

A diretora explica que todos os casos são denunciados pelos próprios usuários da rede e que uma equipe analisa cada vídeo, foto, independente do número de denúncias. “A imagem fica no ar até que seja tomada a decisão sobre aquele caso. Mas, o usuário é informado a todo momento sobre o trâmite, ou seja, ele fica sabendo quando a foto é denunciada e o motivo dela ser removida, se isso ocorrer”, afirma. A decisão de remover por alguns dias um usuário ou uma página, diz a empresa, é feita de acordo com a análise do conteúdo publicado por aquela pessoa.

 AMAMENTAÇÃO LIBERADA

Neste mês, o Facebook revisou as regras para as postagens do que considera nudez e passou a permitir fotos de mulheres amamentando, por exemplo. Segundo o definido, fotos de seios passam a ser avaliadas de forma diferente. Nos termos que definem os padrões da comunidade do Facebook, a empresa diz sobre os temas nudez e pornografia:

“O Facebook tem uma política rígida contra o compartilhamento de conteúdo pornográfico (…). Também impomos limitações na exibição de nudez. Almejamos respeitar o direito das pessoas de compartilhar conteúdo de importância pessoal, sejam fotos de uma escultura, como Davi de Michelangelo, ou fotos de família da amamentação de uma criança.”

A novidade está no trecho final, em que a companhia explica que apesar de impor limites à exibição de nudez, entende que a amamentação faz parte da vida das pessoas. “Como resultado, fotos que mostram os seios da lactante, ainda que totalmente expostos, serão permitidas, assim como fotos de mastectomia que mostrem totalmente o outro seio”, disse a empresa em nota.