A curta licença-maternidade das mães de prematuros

Giovanna Balogh
Mãe segura a mão de bebê prematuro em UTI neonatal (Foto: Marlene Bergamo - 14.mar.2005/Folhapress)
Mãe segura a mão de bebê prematuro (Foto: Marlene Bergamo – 14.mar.2005/Folhapress)

Ter um bebê e não sair da maternidade com ele nos braços. Nos dias seguintes, o sofrimento também não cessa. São dias e mais dias, às vezes meses em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal em uma verdadeira batalha para aquele serzinho sobreviver.

Após ver os filhos em incubadoras, ligados a vários fios e tubos, as mães de prematuros ainda tem um outro dilema após o filho ter alta: voltar a trabalhar pouco tempo depois dos filhos terem ido para casa. Um projeto tramita no Congresso desde 2011 para ampliar a licença-maternidade dessas mulheres, mas desde março do ano passado está parado após ter sido aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

O projeto propõe que toda mulher possa acrescentar aos dias de licença-maternidade o tempo que faltava para a criança completar 37 semanas de gestação – quando a gravidez é considerada a termo. O benefício existe atualmente apenas para as servidoras de São Paulo e do Rio de Janeiro.

O engenheiro Pedro Parizotto, 30, passou por isso recentemente. A filha Helena nasceu com 31 semanas em dezembro do ano passado pesando 1,8 quilo. Foram 50 dias de UTI em um hospital de São Paulo até que a menina pudesse enfim ter alta. Nesses dias compartilhando momentos de tensão e alegria com outros pais de UTI, Parizotto conta que notou que havia uma grande preocupação grande de todos sobre a licença-maternidade. “Será que meu filho vai ter alta a tempo de eu curtí-lo em casa? Mal vamos pra casa e já vou ter que voltar a trabalhar. E se meu filho ainda precisar de cuidados especiais em casa e eu não puder estar perto?”. Essas eram algumas das questões que ouvia”, comenta.

Como a mulher é funcionária pública na Prefeitura de Caieiras (Grande SP), Parizotto foi na Câmara e procurou vereadores que tinham o interesse em criar uma lei que permitisse ampliar a licença maternidade para as servidoras das cidade. A lei, que já foi aprovada, aguarda a sanção do prefeito para sair do papel. A mulher dele, que volta a trabalhar em agosto, dificilmente será beneficiada e a Helena ficará sob os cuidados dos avós.

“Minha mulher, por ser funcionária pública, teve seis meses de licença. E as mães de prematuros que têm apenas quatro meses? Muitas vezes esses quatro meses são com o bebê internado e ela nem tem chance de cuidar dele em casa”, lamenta.

CUIDADOS ESPECIAIS

Assim que um prematuro tem alta existe um cuidado todo especial com ele nos primeiros meses fora do hospital. Segundo pediatras, é preciso haver cuidados em relação à higiene da casa, mantê-la arejada e, é claro, a higiene das pessoas que cuidam do bebê, ou seja, é necessário até mesmo restringir totalmente as visitas – fato que muitas vezes não é compreendido e aceito por amigos e familiares.

“Quando um prematuro recebe alta, os pais costumam relatar um sentimento ambíguo: felicidade extrema por ver seu bebê sair vitorioso e poder tê-lo em casa, e também muito medo, pois a partir dali terão que contar somente com os cuidados da família, sem auxílio de equipamentos e profissionais para monitorar a saúde dos pequenos”, comenta Denise Centeno, que criou em 2011 um site só com informações sobre prematuros.

Denise, que é nutricionista e trabalhou anos em uma UTI neonatal, comenta que a licença-maternidade reduzida das mães traz vários prejuízos ao bebê, principalmente, para o recém-nascido que perde o contato direto com a mãe e fica sem os cuidados redobrados que a prematuridade exige inicialmente. Fora que a amamentação, tão importante nos primeiros meses de vida, pode ficar comprometida.
Muitos médicos também não recomendam que o bebê prematuro vá para uma creche antes dos dois anos por conta dos problemas respiratórios.

“O resultado é que muitas mães acabam abrindo mão de sua vida profissional para cuidar do prematuro em casa, já que durante todo o tempo da licença ele esteve internado”, comenta. Para ela, os pais também deveriam ter mais tempo de acompanhar a recuperação de seus filhos e a mãe do bebê na árdua jornada de uma UTI Neonatal. Independente do bebê ser ou não prematuro, a licença paternidade é de cinco dias corridos.

Bebê prematuro precisa de cuidados extras após alta do hospital (Foto: Patricia Araujo - 14.out.2009/Folhapress)
Bebê prematuro precisa de cuidados extras  (Foto: Patricia Araujo – 14.out.2009/Folhapress)