Entenda a criação com apego e como colocá-la em prática

Giovanna Balogh
Mãe carrega filho no sling; colo e aconchego para o bebê (Foto: Carla Reiter/www.carlaraiter.com)
Mãe carrega filho no sling; colo e aconchego para o bebê (Foto: Carla Reiter/www.carlaraiter.com)

Não negar colo, amamentar em livre demanda (sempre que o bebê quer), fazer cama compartilhada com os filhos e nunca bater ou gritar. Isso é só uma parte do que é feito pelos pais que praticam a chamada criação com apego. Apesar de não ser nova, esse maneira de criar e educar os filhos com mais afeto tem cada vez mais sendo pensada dentro das casas e colocada em prática por pais  que buscam respeitar – e ser respeitados – pelos filhos desde cedo.

Muitos pensam que esse tipo de criação torna os bebês e as crianças mimadas, que vão ser ‘pestinhas’ que podem fazer o que querem, mas não é bem por aí. Quem geralmente faz esses comentários não conhece a fundo esse tipo de criação e provavelmente nunca conviveu com uma criança criada dessa maneira.

Na criação com apego e também na chamada disciplina positiva as crianças são educadas com limites, mas de maneira respeitosa, consciente e empática. “A maior diferença da criação mais tradicional nesse aspecto é que ensinamos os nossos filhos os limites deles e os nosso próprios sem o uso de abusos, punições, recompensas ou subornos”, explica o engenheiro Thiago Queiroz, 32, pai de Dante, 1. Além de coordenar um grupo de apoio para criação com apego no Rio de Janeiro, Thiago dá palestras sobre o assunto e divulga informações no blog Paizinho, Vírgula!. Ele também gerencia duas comunidades no Facebook para disseminar a importância de criar os filhos desta maneira.

“Nossos filhos são educados através do exemplo. Ou seja, agir de maneira coerente em casa já é um grande passo na hora de esperar algum tipo de comportamento dos nossos filhos”,diz. Para Thiago, o pai que bate no filho vai ensinar que a violência é a maneira natural de resolver os conflitos. “Não se pode bater no filho e esperar que ele não vá bater em ninguém sempre que achar que a situação não é adequada”, diz.

NADA DE CANTINHO DO CASTIGO

Na criação com apego, os pais buscam o diálogo e respeito na hora de educar. Ou seja, técnicas de punição, como cantinho do pensamento, e chantagens na linha “se você tomar banho agora, a mamãe vai comprar aquele brinquedo” não são usados. “Esse tipo de atitude passa uma informação errada para a criança de que ela só é aceita e amada quando atende as expectativas de seus pais. Isso tem um impacto negativo na imagem que ela constrói de si mesma. Fora que, ao dar pontos, benefícios ou estrelinhas estamos mostrando que ela precisa sempre esperar algo em troca em seus relacionamentos”, afirma.

Thiago diz que quem se propõe  a fazer a criação com apego aceita um convite para reavaliar o tipo de cuidado que oferece ao filho, ou seja, os pais passam a refletir sobre como proceder para atender as necessidades da criança.

O pai de Dante explica que não tem hora para começar, mas que nunca é tarde para inserir a criação com apego no seu dia-a-dia. Segundo ele, alguns pais começam já na gestação ao ler e se informar sobre o assunto e outros, por exemplo, quando têm o segundo filho e começam a repensar a sua criação. “Para essas famílias, ate o filho mais velho se beneficia pois passa a receber um cuidado diferente dos pais, baseado na empatia, compaixão e respeito. Isso é muito positivo pois não exclui uma família de repensar suas relações e seus vínculos”.

NÃO DEIXE SEU BEBÊ CHORANDO SOZINHO

Na criação com o apego os pais devem seguir mais seus instintos e deixar de lado, por exemplo, os palpites de deixar o bebê chorando sozinho no berço até ele ‘acostumar’ e dormir longe do colo ou do peito da mãe. Afinal, bebês choram, e vão chorar por muito tempo pois é a única maneira que têm para se comunicar mostrando as suas necessidades e desconfortos.

Pais são diariamente instruídos a não atender o choro dos filhos e deixá-los chorando por períodos prolongados, durante noites seguidas, até que durmam e os pais possam, enfim, descansar. “Bebês não têm desenvolvimento cerebral para serem cruéis ou manipuladores, como a sociedade implica. Bebês choram porque precisam dos seus pais”, diz.

Thiago comenta que muitas vezes esses métodos usados por livros de criar regras para o bebê dormir até funcionam no ponto de vista dos pais, mas não dos bebês. “Quando o bebê para de chorar e começar a dormir, isso não significa que ele aprendeu a dormir, mas que desistiu dos pais. Desistiu de pedir socorro. Estudos mostram que sessões prolongadas de choro fazem com que o cortisol [hormônio do estresse] no cérebro do bebê possam atingir níveis preocupantes, prejudicando seu desenvolvimento cerebral”, diz

“Temos que entender que bebês têm necessidades não só durante o dia, mas à noite também. Nossos filhos não têm apenas a necessidade de se alimentarem à noite, mas de sentir-se seguros e acolhidos”, explica. É aí, por exemplo, que entra a cama compartilhada onde o filho – ou filhos – dormem lado a lado com os pais ou, quando estão um pouco maiores, no mesmo quarto.

A criação com apego significa criar um vínculo seguro e saudável e se conectar com o filho, ou seja, pai e mãe precisam estar presentes física e emocionalmente. Ao praticar a criação com apego, os pais sabem reconhecer melhor e entender os sinais que os filhos dão. “Esse é uma das maiores demonstrações de respeito e amor que podemos dar a eles”, diz.

O blogueiro explica que os pais passam a enxergar através dos comportamentos dos filhos, entendendo quais são as necessidades que eles possuem. “Um dito mau-comportamento não significa que você tem um filho problemático, significa que você tem um filho com um problema e que não sabe como pedir ajuda para você”, explica. Então, punir ou agredir nossos filhos -seja verbal ou fisicamente – não os ajuda a lidar com as dificuldades que eles enfrentam.

AMAMENTAÇÃO E SLING

A cama compartilhada facilita – e muito – a mulher que amamenta em livre demanda a descansar durante as mamadas noturnas pois facilita a vida da mãe que pode, por exemplo, amamentar deitada.

Além de a amamentação em livre demanda criar um vínculo seguro entre mãe e filho, ela não atende somente as demandas nutricionais do bebê. “Ela também oferece conforto, segurança, contato e, além disso, ajuda a regular funções corporais (como batimentos cardíacos e temperatura) e atende a necessidade de sucção dos bebês. Amamentar em livre demanda significa entender que, em momentos diferentes, o bebê terá necessidades diferentes que serão atendidas pelos seios da mãe”, explica.

Pais que praticam a criação com apego geralmente levam seus bebês em slings, justamente pelo carregador de pano facilitar o contato físico com os filhos.  Mas, Thiago explica que isso não significa que o bebê que é levado no  carrinho nunca irá criar um vínculo de apego seguro com os pais.

“Uma maneira de se promover a conexão é através do contato físico, mas isso não significa que uma pessoa que carrega seu filho em um sling automaticamente possui um vínculo de apego seguro com ele”, diz.

A criação com apego é uma conjunção de fatores e, principalmente, como transcorre a relação entre pai, mãe e filho. “Fora isso, existem outras maneiras de promover um contato afetivo, que passam de massagens no bebê até o banho, que pode ser um momento de intenso contato pele a pele, ainda mais se os pais optam por tomar banho junto com seus bebês em um chuveiro, por exemplo”, orienta.

Vale ressaltar que a disciplina positiva não fica apenas restrita à infância. Quando os filhos crescem e, é claro, as relações vão ficando mais complexas e, muitas vezes,  desafiadoras os pais passam a ter um papel importante mostrando os valores e limites que começaram a ensinar ainda na primeira infância.

“Estamos sempre avaliando nossas escolhas e tentando enxergar se nossas decisões estão nos levando realmente para onde queremos chegar: ter um vínculo emocionalmente forte e saudável com os nossos filhos, para que estes mesmos cresçam e tornem-se adultos empáticos e compassivos”, diz.