Pesquisa mostra que 71% dos bebês saudáveis são aspirados ao nascer
Nas maternidades públicas e privadas do Brasil a maioria dos bebês tem as vias aéreas aspiradas, procedimento que não deveria ser feito de rotina. A pesquisa “Nascer do Brasil”, coordenada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), mostra que 71,1% dos bebês tiveram aspiração das vias aéreas e 39,7% da gástrica logo após nascer.
O levantamento foi feito com base nos 18.639 bebês que nasceram com boas condições de saúde entre fevereiro de 2011 e outubro de 2012, em 191 cidades.
De acordo com a pesquisa, a aspiração de vias aéreas foi mais alta no Sudeste com 76,8% dos bebês sendo aspirados. A região Centro-Oeste foi a que teve o índice mais baixo, apesar de 64,7% dos bebês terem passado pelo procedimento.
A pediatra neonatologista Ana Paula Caldas, explica que a aspiração não pode ser de rotina. “É um procedimento invasivo e com perigo potencial à saúde do bebê, portanto, deve ser reservado apenas em crianças que precisam de reanimação ao nascer. Infelizmente, a maioria dos pediatras têm a aspiração de boca, narinas e estômago como rotina”, comenta.
A pesquisa mostra ainda que o atendimento ao recém-nascido vai na contramão do que preconiza o Ministério da Saúde e a OMS (Organização Mundial da Saúde). A maioria dos bebês não vai direto para o colo da mãe, onde o seio deve ser oferecido para o recém-nascido ainda na sala de parto, independente da via de parto.
O chamado contato pele a pele foi feito, em média, com apenas 16,1% dos bebês. O melhor índice foi registrado no Sul (32,5%) que também foi a região que mais ofertou o seio na sala de parto (22,4%). Já no Nordeste, apenas 11,5% dos bebês mamaram ainda na sala de parto.
A pesquisa mostrou ainda que a oferta do seio materno ainda na sala de parto foi mais frequente em nascimentos ocorridos em unidades que têm o título de Hospital Amigo da Criança e por parturientes que tiveram parto normal e contaram com a presença de um acompanhante.
A pediatra explica que assim que o bebê nasce, deve ser colocado em contato com a pele da mãe. “O pediatra deve secar o bebê gentilmente e avaliar sua vitalidade ali mesmo, no colo da mãe. O cordão umbilical deve ser cortado só quando parar de pulsar, ou melhor ainda, após a saída da placenta. Depois de alguns minutos, o bebê começa a procurar pelo seio e o pediatra ou enfermeiro pode ajudá-lo a mamar”, diz.
Ana Paula diz ainda que o bebê deve ser pesado no dia do nascimento, mas que os médicos devem esperar que ele fique, pelo menos, uma hora no colo da mãe.
OUTROS PROCEDIMENTOS
A pesquisa não abordou outros procedimentos que acontecem com frequência nas maternidades. A aplicação de colírio, por exemplo, é feita em recém-nascidos para evitar que ele se contamine pela bactéria conhecida como Gonococo, que é a causadora da gonorréia, quando passa pela vagina da mãe.
“O colírio ou credè ocular é usado em todos os partos, inclusive nas cesarianas. Usar o nitrato em bebês nascidos por cesariana, é um absurdo ainda maior.
Esta é a única utilidade dessa profilaxia, que aliás foi instituída numa época onde a prevalência de gonorreia na população era alta e não existiam antibióticos para tratar a doença”, comenta.
Ana Paula explica que a ocorrência de gonorreia hoje em dia é pequena e que a prática precisa ser repensada. A pediatra explica que atualmente a DST mais prevalente é a infecção por Chlamidia e que, neste caso, nesta o colírio de nitrato de parta não tem nenhum efeito.
A pediatra diz que assim como a aspiração das vias aéreas do bebê, o afastamento dele da mãe, a aplicação de colírio, entre outros itens, podem ser evitados. “A situação só vai mudar quando as famílias começarem a ser mais impositivas em relação aos seus direitos”, explica.
Muitos pais, para evitar procedimentos desnecessários nos filhos, optam em contratar neonatologistas particulares para atender o bebê logo após o parto dispensando o plantonista do hospital e, por consequência, livrando-se de alguns protocolos hospitalares.