Como deve ser a participação das avós – e das sogras – na vida dos netos
Como é a sua relação com a avó dos seus filhos? A grande maioria deve ter pensado em adjetivos nada agradáveis para a pergunta acima. E aposto que a primeira pessoa que pensou é na sogra. Não, não estou falando apenas da sua sogra, mas também da sua relação com a sua mãe após a maternidade.
A relação mãe e filha e sogra e nora muda muito após a chegada dos tão sonhados netinhos. E nem sempre é para melhor. A psicopedagoga Elizabeth Monteiro, que é mãe de dois casais e avó de seis netos, diz que a relação sempre é mais complicada com as sogras do que com as mães. “A relação de filha com a mãe é sempre mais fácil, afinal, é filha e, se brigarem, fazem as pazes. Com sogra é diferente”, diz.
O que a psicopedagoga vê diariamente em seu consultório é as rixas com a sogra que podem “destruir a felicidade da família”. Questiono Elizabeth se a palavra “destruir” é a mais apropriada, ela diz que sim. Ela conta que cerca de 60% das brigas familiares acontecem entre sogra e nora e que as consequências para uma família são grandes.
“Casamentos são destruídos porque o marido normalmente não toma a atitude de colocar a mãe no lugar dela”, diz Elizabeth. Segundo ela, se o casamento não acaba, a tendência é que o filho acabe se afastando da mãe e, consequentemente, os netos da avó.
Mas, por que as brigas são tão comuns? A psicopedagoga explica que as avós – sejam do lado do pai ou da mãe da criança – revivem no neto a sua própria maternidade. “Sem ou muitas vezes com intenção elas querem tomar o lugar da mãe. Elas vão se dar conta de que os filhos vão crescendo e que aquela criança não é dela”, diz Elizabeth, que acaba de lançar o livro “Avós e sogras – Dilemas e delícias da família moderna (Summus Editorial)”.
De acordo com a psicopedagoga, quando a mulher vira mãe, ela precisa montar o quebra-cabeça da maternidade sozinha. “O amor materno é construção, é cuidar, acolher, zelar e ninguém pode dar as peças para ela”, diz. Mas, seja por amor em excesso, as avós pecam e não permitem, por exemplo, que a mãe aprenda e erre sozinha.
Quando nasce um bebê, por exemplo, é muito comum a avó ficar na casa da nora ou da filha nos primeiros dias. A psicopedagoga diz que se ela está lá é para ajudar com os cuidados da casa, lavar louça, passar roupa, preparar refeições, etc. “Muitas vezes a sogra é inconveniente e a mulher que acabou de ter o bebê tem que fazer as honras da casa e ainda cuidar do recém-nascido. Fora quando não leva uma comitiva para visitar”, relata.
A psicopedagoga explica que é totalmente dispensável ficar questionando a nova mãe, por exemplo, o motivo de não dar chupeta, ou se tem leite suficiente ou ainda insistir para dar doce ou refrigerante para aquela criança.
Segundo ela, outro erro muito comum é distinguir os netos, ou seja, dar atenção e mostrar predileção só para os filhos da filha, por exemplo, ou ainda por aquele que se parece mais com a sua família. “É cruel ver vó que só fica com determinados netos, que comparam os netos. Ou fazem isso por maldade ou por pura ignorância”, diz.
O IMPORTANTE PAPEL DAS AVÓS
Elizabeth diz que não está demonizando o papel da avó. Elas são figuras de extrema importância na vida dos nossos filhos. Segundo ela, pesquisas mostram que crianças que convivem com os avós são mais felizes. “As crianças precisam de muitos modelos. As avós são para dar equilíbrio, muitas vezes nossos filhos na adolescência procuram a avó ou o avô para contar algo que não tem coragem de contar para os pais, por exemplo”, exemplifica.
Ela conta que os avôs são serem com mais paciência, carinhosos, com experiência de vida e que podem agregar muito na vida da criança passando por exemplo valores, as histórias de outras gerações, etc.
Avó é aquela que espera os netos com bolo assando, que é o colo que muitas vezes os netos recorrem e uma referência que eles podem sempre procurar. Bem diferente da figura de birotinho e cabelos grisalhos, as avós hoje em dia são mais modernas, muitas ainda trabalham e estão conectadas com as redes sociais, isso não impede, no entanto, que sejam carinhosas e próximas dos netos.
As noras, explica a psicopedagoga, também não são santas. “Tem nora que também é paranoica, não entende que o filho precisa ver a mãe e que não precisa disputar com ela”, diz. A psicopedagoga aconselha que as noras não falem tudo o que pensam pois ninguém – nem nossos maridos – querem ouvir mal da mãe ou do pai dele. “Tem que aprender a lidar com a nova família”, diz.
DICA DE OURO
Para que a avó tenha participação na vida dos netos, sem conflitos, a psicopedagoga dá uma dica, que considera “de ouro” para uma relação dar certo: só dê palpite quando for solicitada.
“Na vida não existe certo ou errado. Existe o que é certo para você, o que serve para a sua família, mas nem sempre vai servir para a sua nora”, diz. Como avó de seis netos, ela diz que se algo incomoda, apenas sai de perto e só emite opinião quando é questionada. Ela conta que aprendeu a agir dessa maneira com as noras e filhas após ouvir tantas queixas dentro de seu consultório.
Para a psicopedagoga, um erro muito comum é que os casais após terem filho não tem vida própria. “Fim de semana de folga é para visitar a casa da avó. A nova família precisa viajar, fazer passeios só o casal e os filhos. A vida deles vira um inferno nos fins de semana e piora ainda mais em datas festivas, como Dia das Mães, Natal e Ano Novo”, comenta.
Elizabeth diz que as avós devem entender que já viveram a sua vida e que o filho ou filha precisam viver a dele e fazer o que desejam. “Elas não podem ficar se fazendo de vítima. Se o filho quer passar o Natal com a família da mulher, não fale nada. Melhor ele feliz do que ficar um pouco na casa de cada um e insatisfeito e brigando com a própria mulher”, aconselha.
A psicopedagoga diz ainda que para o relacionamento sogra e nora dar certo é preciso também que a relação não seja muito próxima. “Não dá para ter intimidade, mas apenas uma relação cordial e de respeito. Nada mais do que educação”, afirma. Ou seja, vale a famosa frase: sogra não pode morar nem tão perto para que venha de chinelos nem tão longe para que venha de malas.