Para amamentar, mãe precisa de apoio e não de prescrição de leite artificial
Nós, mães, fomos feitas para amamentar. Não existe ‘leite fraco’, ‘peito pequeno demais’, ‘falta de leite’ ou ‘peito sem bico’. Esses são alguns dos mitos da amamentação que uma hora ou outra vamos ouvir, principalmente, nos primeiros dias de vida do bebê. O importante é a mulher confiar que, assim como os demais mamíferos, produzimos exatamente a quantia ideal para as nossas crias. E o melhor: o leite já vem na temperatura e com os nutrientes ideais para os nossos filhos.
Durante a gestação, boa parte das mulheres não se preocupa com a amamentação, ou seja, acha que é só colocar o bebê no peito e pronto, tudo flui bem, mas muitas vezes a realidade é outra. A amamentação nem sempre é fácil. Dá trabalho. O bebê não faz a ‘pega’ correta, o seio racha, sangra, você está cansada após noites e noites em claro. Aquela imagem de sonho da atriz famosa amamentando sorrindo e com o cabelo escovado parece tão distante de você que dá vontade de jogar tudo para o alto. E, infelizmente, muitas desistem logo no início.
A última pesquisa do Ministério da Saúde sobre o assunto, divulgada em 2009, mostra que, em média, os bebês mamam exclusivamente no peito apenas 54 dias.
Especialistas em amamentação dizem que é importante ainda na gravidez se informar e buscar grupos de apoio e ajuda de profissionais que realmente defendem a amamentação exclusiva até os seis meses de idade do bebê, como recomendado pelo Ministério da Saúde. Após a introdução de alimentos, a amamentação deve continuar como complemento até dois anos ou mais.
Um dos inimigos da amamentação começa logo na maternidade já que muitas não permitem que o bebê vá para o seio da mãe logo na primeira hora de vida, independente se nasceu de parto normal ou cesárea. “Os leites de fórmula são introduzidos neste momento que deveria ser de estimulação, ou seja, o leite desce mais rápido se o bebê ficar constantemente sugando o seio materno”, diz a pedagoga Simone de Carvalho, fundadora do grupo de apoio Aleitamento Materno Solidário. Para ela, a necessidade dos hospitais seguirem protocolos de dar alta em 72 horas complica a amamentação. “A mãe e o bebê precisam de tempo, orientação e apoio”, afirma.
Muitas mulheres saem da maternidade com prescrição de leites de fórmula e, após o primeiro choro insistente do bebê, já introduzem o leite artificial o que, segundo especialistas, é um erro. “As mães devem sair do hospital apenas com apoio e orientação de aleitamento materno”, explica Fabiola Cassab, do Matrice (grupo de apoio a mães que amamentam).
Após ter alta, a mulher enfrenta ainda outras barreiras como as avós, as tias ou amigas sempre dividindo experiências mal sucedidas com a amamentação. “É muito comum que a nova mãe seja constantemente desestimulada por estes saberes que são contrários ao ato de amamentar. A frase campeã é: seu leite é fraco! E tentamos todos os dias, exaustivamente, combater esse mito”, comenta Simone, que é pesquisadora do Centro de Investigação de Pediatria da Unicamp (Universidade de Campinas).
O Ministério da Saúde diz que a indicação para fórmula infantil só deve ocorrer em duas situações: mães infectadas pelo HIV ou pelo HTLV1 e HTLV2. “Alguns medicamentos também são incompatíveis com a amamentação como, por exemplo, os antineoplásicos e radiofármacos”, explica Fabiola. Nesses casos, o leite artificial acaba sendo introduzido, ou seja, no caso de mães que estão doentes.
O leite de fórmula tem em sua composição leite de vaca em pó e soja, acionada a ferro, algumas vitaminas e principalmente o carboidrato.
Por conta da imaturação do intestino do bebê, que está em formação até o terceiro mês de vida, o leite artificial acaba provocando mais cólicas. “O mecanismo da amamentação, por gotejamento, contribui para a colonização correta do trato intestinal e digestibilidade do bebê. Como as fórmulas recebem soro de leite em sua composição também, são de difícil digestão”, explica Simone.
Por isso, não é recomendado dar o leite artificial à noite na expectativa que o bebê durma a noite toda. “O leite materno tem total absorção pelo organismo do bebê. Existe a impressão de que o bebê dorme melhor com leite de fórmula, mas no momento da digestão do leite artificial, a criança poderá ter episódios de cólicas, ou seja, nem ele nem sua mãe vão conseguir dormir”, relata.
CHUPETAS E MAMADEIRAS
Outros inimigos da amamentação são os bicos artificiais, como as chupetas e mamadeiras. “Ao mamar no peito, o bebê tem que fazer a sucção para a descida do leite enquanto na mamadeira o mecanismo não depreende desse esforço do bebê, ou seja, como é mais fácil sair o leite ele acaba abandonando o seio. A mesma coisa se aplica à chupeta, onde a criança se habitua o bico de borracha constantemente em sua boca, muitas vezes rejeitando o seio materno”, afirma Simone.
Fabiola aconselha as mães a não dar chupeta e oferecer o peito em livre demanda, ou seja, sempre que o bebê quiser.
No caso da mãe precisar se ausentar, por exemplo, e desejar fazer a ordenha para deixar o leite materno para a criança, a alternativa é recorrer aos copinhos onde o bebê consegue realizar o movimento de sucção de maneira muito semelhante à que realizaria no seio de sua mãe.
Além de informação, a mulher que amamenta precisa de uma rede de apoio, ou seja, o marido, a avó da criança devem ajudar, por exemplos, com os cuidados da casa, preparar as refeições da mãe para que ela descanse junto com o recém-nascido. Beber mais de dois litros de água e fazer alimentações balanceadas também ajuda.
CONFIRA OS PRINCIPAIS MITOS:
1. Meu leite é “fraco”
2. Não tenho “bico” para amamentar
3. Meu peito é “pequeno”
4. O bebê precisa de horários definidos para mamar
5. As fissuras são curam com pomadas e conchas de amamentação
6. Preciso tomar medicamentos para aumentar a produção do meu leite
7. Não posso comer determinados alimentos
8. Quando nascem os dentinhos, é hora de desmamar
9. Usar bicos artificiais não interfere no aleitamento
10. Fórmulas são iguais ao leite materno