Após declaração de Cunha, mulheres se dividem em campanhas pró-legalização e contra aborto

FABIANA FUTEMA

A timeline do seu Facebook muito provavelmente foi invadida por fotos de grávidas nos últimos dias. Algumas pessoas não se deram ao trabalho de ler as hashtags que acompanhavam as imagens.  Quem leu percebeu que essas mulheres tinham aderido a campanhas em defesa da vida (contra o aborto) ou pela legalização do aborto.

Coincidentemente essas campanhas ficaram mais fortes após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), declarar que não colocaria em votação o projeto que trata da legalização do aborto “nem que a vaca tussa”. “O último projeto de aborto eu derrubei na Comissão de Constituição e Justiça. […] No aborto, sou radical”, disse ele em entrevista ao site do jornal “O Estado de S. Paulo”.

A campanha em defesa da vida funciona mais ou menos como o desafio do balde de gelo. Uma mulher posta uma foto de quando estava grávida e desafia amigas e parentes a fazerem o mesmo. Foi isso o que ocorreu com a produtora cultural Rachel Coelho, 32, desafiada por sua cunhada.

Rachel não chega a ser totalmente contra o aborto, mas diz que ele não pode ser banalizado. “Eu apoio a livre decisão sobre o nosso corpo, mas sou contra fazer o aborto como forma de se livrar de um problema, como se fosse tomar a pílula do dia seguinte.”

Já a vendedora Bárbara Futema, 39, afirma ser totalmente contra o aborto. Ela assumiu sozinha a criação da filha, que hoje tem 8 anos. Mas no início da gravidez, quando se viu sozinha, diz que chegou a pensar se conseguiria seguir em frente.  “Hoje não só me culpo, chego a ter pesadelos e acordo chorando. Isso acontece frequentemente.”

Do outro lado estão mulheres que defendem o direito de decisão das mulheres e a descriminalização.

O post da pedagoga Gaabriela Moura, que está grávida, em defesa da descriminalização do aborto já tinha mais de 6.000 compartilhamentos e 26 mil curtidas.  “Estou ao lado dos direitos reprodutivos das mulheres. Eu sou TOTALMENTE favorável à descriminalização do aborto, ao respeito às mulheres e suas escolhas e seus corpos. […] Mulheres casadas abortam, cristãs abortam, prostitutas abortam, mulheres de mais de 40 anos, mulheres de menos idade abortam e eu jamais vou usar a minha gestação contra elas. Solidariedade às minhas irmãs mulheres.”

A doula Gabriela Prado aderiu a campanha publicando em seu perfil a foto de Jandira dos Santos Cruz, que morreu vítima de um aborto clandestino em 2014. “Mulheres que abortam não são criminosas, assassinas, monstras. São suas amigas, colegas, mães, filhas, primas, tias, namoradas, esposas, professoras, chefes, vizinhas. São cidadãs, são pessoas como você. O que mudaria legalizando o aborto?”

E você: é a favor ou contra a legalização do aborto? Vote na enquete.