Hospital é criticado ao desaconselhar colo e amamentação em livre demanda
O Hospital Albert Einstein publicou no fim de semana em sua página no Facebook um post onde aconselha as mães a não amamentar sempre que o bebê chora, não dar colo quando ele acorda durante a madrugada e ainda não deixá-lo dormir no quarto dos pais.
Todas essas “recomendações” foram dadas mostrando que se forem feitas são “atitudes que podem virar manias difíceis de reverter.” “Amamentar sempre que a criança chora pode confundir o bebê, pois ele passa a entender a amamentação não como alimentação, mas como carinho. Lembre-se também de que, com o passar dos meses, o bebê vai crescer e ficará difícil niná-lo no colo. Desde cedo ele deve aprender que a melhor maneira de pegar no sono é quietinho, na cama”, dizia o texto que acompanhava as “dicas” da maternidade.
Após várias críticas de mães, consultoras de amamentação e até médicos, a postagem foi removida da página do hospital.
A amamentação em livre demanda (sempre que o bebê quer) é, inclusive, recomendada pelo Ministério da Saúde e pela OMS (Organização Mundial da Saúde) pois é muito importante para o aleitamento materno de sucesso. Mães que não praticam a amamentação em livre demanda normalmente recorrem a bicos artificiais, como chupetas e mamadeiras, o que ajuda a facilitar o desmame precoce.
Os bebês têm necessidade de sucção, principalmente, nos primeiros meses de vida. E sim, o peito pode – e deve – ser usado para aconchegar e dar segurança para o bebê além, é claro, de alimentá-lo.
A última pesquisa do Ministério da Saúde sobre o assunto, divulgada em 2009, mostra que, em média, os bebês brasileiros mamam exclusivamente no peito apenas 54 dias.
A recomendação tanto do ministério como da OMS é a amamentação exclusiva até os seis meses de idade do bebê. Após a introdução de alimentos, a amamentação deve continuar como complemento até dois anos ou mais.
NÃO EXISTE ‘COLO DEMAIS’
O Maternar também já mostrou que não existe “colo em excesso”, ou seja, lugar de bebê é sim nos braços da sua mãe e de seu pai. Bebês normalmente não dormem a noite toda, afinal, passaram nove meses dentro da barriga da mãe e é natural que não se sintam seguros para ficar sozinhos em berços e longe do colo. Criança precisa de muito colo e aconchego pois o choro muitas vezes só cessa se ele se sente amparado. O colo só traz benefícios para o bebê, ou seja, colo nunca é “demais” pois não vai deixar a criança mimada e sim acolhida e mais segura.
Outra crítica feitas pelas mães na página do hospital no Facebook é que a cama compartilhada – onde os filhos dividem a cama com os pais – também não foi recomendada pelo hospital.
“Que tipo de relação queremos criar sem amor e afeto. Estamos falando de bebês que o único meio de se comunicarem é através do choro. Como eles ‘aconselham’ a deixar ele dormir ‘quietinho na cama’”, critica Reila Miranda, 35, fundadora da Casa da Borboleta, um espaço que dá apoio às gestantes e mães que praticam a chamada maternidade ativa.
Reila decidiu convocar mães e pais e fazer um mamaço no hospital no próximo sábado (7). Ela explica que querem uma retratação do Albert Eintsten e, mesmo que isso seja feito pelas redes sociais, o protesto estará mantido. “Será um ato pacífico, mas onde vamos mostrar a importância da amamentação, do colo. Queremos, inclusive, a participação dos diretores do hospital e de funcionários”, diz.
A organizadora do mamaço diz que o Einstein, assim como outros hospitais, devem tomar cuidado com o que publicam nas mídias sociais. “O hospital prestou um desserviço. Será que quem cuida da página é da área da saúde? E apagar o post foi um segundo erro. Deveriam ter feito uma retificação”, sugere.
OUTRO LADO
Procurada, a assessoria de imprensa do hospital informou que o hospital “incentiva o aleitamento materno e segue as recomendações da Organização Mundial da Saúde, sendo certificado pelo International Board Certified Lactation Consultant (IBCLC).”
Por meio de uma nota, o hospital informou que lamentava a maneira que o tema foi abordado, mas que a “intenção de alertar os pais em relação aos hábitos de sono e que o choro nem sempre representa fome. Reiteramos nosso compromisso com a valorização da amamentação, do afeto e do vínculo familiar.”