‘Fui hostilizada’, diz mulher obrigada pela Justiça a fazer cesárea

Giovanna Balogh
Adelir com o marido e a filha ainda no hospital (Foto: Erika Carolina - 03.abr.2014/Folhapress)
Adelir com o marido e a filha ainda no hospital (Foto: Erika Carolina – 03.abr.2014/Folhapress)

Na próxima quarta-feira (1º) a filha de Adelir Carmem Lemos de Goes, 30, comemora um ano. A pequena Yuja Kali já fala suas primeiras palavras e anda confiante após dar os primeiros passos aos dez meses de vida.

Apesar da alegria em poder amamentar e ver a caçula brincar com os irmãos, Adelir diz que não terá como passar a data sem lembrar do nascimento da filha, que foi feito por meio de uma cesárea contra a sua vontade. Os médicos procuraram a Justiça para que ela fosse internada à força pois consideravam que havia risco de morte da mãe e do bebê. A reportagem sempre tentou, sem sucesso, contato com a equipe médica que atendeu Adelir.

Um ano após o caso ter sido noticiado pela Folha, Adelir diz que estava segura das suas decisões e que sabe que nem ela nem o bebê estavam em perigo. Como mora na pequena cidade de Torres (193 km de Porto Alegre), Adelir diz que se pudesse teria tentado ser atendida em um hospital em Porto Alegre, onde os partos humanizados são mais frequentes. No ano passado, ela disse que seu parto foi roubado.

“Infelizmente me hostilizaram, quiseram fazer eu parecer que era uma louca. Nos afastamos de várias pessoas depois disso, inclusive, familiares”, comenta Adelir, que entrou com um processo contra a equipe médica que a atendeu.

Grávida de 42 semanas e com duas cesáreas anteriores, Adelir foi levada de casa por policiais militares e encaminhada ao hospital Nossa Senhora dos Navegantes, onde passou pela cirurgia. Os médicos alegaram na época que o bebê estava sentado.

Stephany Hendz, que era a doula de Adelir, disse que durante os exames preliminares foi constatado que o bebê estava saudável e com batimentos cardíacos dentro dos padrões.

Após ser examinada e ver que ainda não estava em trabalho de parto ativo, a paciente assinou um termo de responsabilidade e voltou para casa. A médica que a atendeu no plantão decidiu procurar o Ministério Público, que acionou a Justiça.

Adelir voltou a dizer que não pretendia ter o bebê em casa, mas que queria esperar entrar em trabalho de parto para então retornar ao hospital.

Ela diz que a repercussão do seu caso trouxe alguns avanços para que mais mulheres possam se informar e ter partos respeitosos. “Mas ainda há um longo caminho pela frente para a humanização. Ainda existe muita violência obstétrica que as mulheres passam”, comenta.

ATO NA ASSEMBLEIA DE SP

Nesta quarta-feira, para lembrar a data, será feito um protesto pacífico, a partir das 13h, na porta da Assembleia Legislativa, na zona sul de SP. A Artemis (ONG de defesa da mulher), que chegou a denunciar o caso na época por violação de direitos humanos, é quem organiza o ato.

Além de lembrar do caso, será entregue na ocasião um manifesto aos deputados pedindo a aprovação do projeto de lei das doulas (PL 250/2013), que regulamenta a atuação dessas profissionais nos hospitais e maternidades, públicos e privados, do Estado.

O projeto, de autoria da deputada Leci Brandão (PCdoB), prevê a presença da doula durante toda a presença da parturiente na unidade de saúde sem tirar o lugar do acompanhante – que pode ser o pai da criança ou qualquer outra pessoa de sua escolha que está estabelecida pela Lei Federal 11.108/2005.

O projeto deixa ainda claro que as doulas podem entrar com a gestante levando bolas de pilates, massageadores, bolsa de água quente, óleos para massagem e banqueta auxiliar para parto entre outros objetos que achar necessário. O projeto das doulas está pronto para votação, mas está parado na Casa desde fevereiro do ano passado.