Sem abrir mão da família, mulheres usam experiência materna no empreendedorismo
Quem disse que maternidade não combina com trabalho? Ou que é preciso sacrificar a convivência com os filhos para se manter ativa no mercado? Para unir realização pessoal com profissional, muitas mulheres se lançaram no empreendedorismo.
E mesmo sem a segurança e conforto da carteira assinada, elas estão alcançando o padrão de renda anterior ao da transição profissional. E o melhor de tudo: sem abrir mão de acompanhar de perto o crescimento dos filhos.
Esse é o caso da arquiteta Tuca Petlik, 35, que saiu do emprego logo depois do nascimento da filha, que hoje tem 2 anos e 8 meses. “Depois que minha filha nasceu, eu não conseguia me imaginar voltando para um trabalho com horários rígidos e muitas horas seguidas longe dela. Não fazia sentido ter uma filha e deixar numa escola ou com babá. Até porque, o que eu iria gastar com este esquema de cuidados seria uma parte considerável do meu salário. Eu praticamente trabalharia para pagar alguém para ficar com ela.”
Mas Tuca não se transformou em dona de casa. De uma necessidade do seu dia a dia como mãe, ela acabou encontrando uma outra área de atuação. Há dois anos ela criou a Petlik Sling uma empresa de carregadores de bebê. “Mergulhei totalmente no mundo da maternidade. Foi desta vivência que surgiu meu interesse pelos carregadores, que ajudam mães, pais e cuidadores a dar colo e levar os bebês para todas as atividades.”
A empresária diz que consegue ter hoje o mesmo patamar de renda da época em que atuava como arquiteta. Mas a maior conquista foi conseguir acompanhar o crescimento de sua filha. “Sair de um emprego formal abriu muitas oportunidades e causou uma grande transformação em minha vida. Pude estar com minha filha o quanto e como ela precisava, nos ritmos dela, acompanhei cada passo do seu desenvolvimento, conheci muitas outras mães, pude trocar com elas experiências deste novo momento.”
Como conselho às mães que planejam mudar de emprego para ficar mais perto dos filhos, Tuca recomenda que façam algo que gostem. “Escolha algo que faça sentido para a sua vida. Faça parte de grupos de mães que têm a ver com você, onde você possa fazer parcerias e buscar ajuda.”
DA CONSULTORIA PARA O CINEMATERNA
A administradora Irene Nagashima já tinha feito a transição do emprego com cartão de ponto para outro com horários mais flexíveis antes de se tornar mãe. Ela atuava como consultora na área de Recursos Humanos quando teve seu primeiro filho, o Max, há 7 anos.
Mas durante a licença-maternidade ela criou um grupo de mães dispostas a levarem seus bebês para as salas de cinema. A atividade, que inicialmente era só uma forma de manter a vida cultural materna em dia, acabou crescendo.
Após sua licença, que durou uns seis meses, Irene ainda retomou a consultoria, mas sem dispensar a sessão de cinema da semana. “Eu bloqueava minha agenda, reserva um dia só para isso.”
Irene e uma amiga perceberam que havia potencial para transformar em negócio aquele momento de lazer semanal de mães cinéfilas. Desenharam o projeto do CineMaterna e levaram para uma empresa de cinema.
Elas não tiveram ganhos no primeiro ano do CineMaterna. No primeiro ano, mais investimos do que recebemos. Mesmo sem ganhar, era preciso pagar impostos. “
O retorno só começou a vir depois de um ano, quando a ONG ganhou o patrocínio de uma empresa de cosméticos. Junto com o patrocínio, o projeto se expandiu e hoje tem sessões em 35 cidades de 14 Estados.
Segundo Irene, não é ´tarefa fácil trabalhar em casa e cuidar dos filhos ao mesmo tempo. “As pessoas têm uma ideia um pouco romântica sobre o home-office, mas é um desafio. É preciso separar os limites do espaço físico da casa do seu trabalho.”
A administradora diz que trabalha com a porta do escritório aberta. E que seus filhos sabem respeitar. “Eles entram, perguntam, pedem ajuda. Mas sabem que estou trabalhando.”
Hoje, Irene consegue se realizar tanto como mãe como no trabalho, que une uma de suas principais paixões: o cinema.
MAIS TEMPO PARA AMAMENTAR
A tradutora Carina Lucindo Borrego, 35, abandonou o emprego em um escritório de advocacia para lançar em fevereiro, junto de outras mães, a Casa de Viver, um espaço de coworking materno.
O impulso para a transição profissional aconteceu após o nascimento da segunda filha, hoje com 7 meses. Carina disse que não queria estar longe dela como aconteceu no nascimento da primeira, que está com 7 anos.
Como recompensa pela mudança, Carina diz que conseguiu manter por mais tempo a amamentação exclusivamente com leite materno da filha caçula. “Ela está com quase 8 meses e ainda mama. Na primeira, amamentei até o 7 meses, mas no final já estava precisando complementar com leite artificial.”
A troca de emprego não reduziu a jornada de trabalho de Carina, muito pelo contrário. “Hoje, trabalho quase o dobro de tempo, mas já esperava trabalhar muito mesmo.”
O retorno financeiro ainda não ocorreu. Por enquanto, as empreendedoras ainda estão investindo na Casa do Viver.
Mas o negócio está crescendo, há demanda, e elas vão ampliar o número de pessoas trabalhando no local.
Como conquista, Carina diz que hoje trabalha com o que gosta e acredita. “O trabalho anterior já não fazia sentido para mim.”
Localizada na vila Mariana, na zona sul de SP, o principal diferencial da Casa do Viver é que é que as crianças também uma área para elas no mesmo prédio em que trabalham as mães. Mas não no mesmo espaço, elas ficam em outro andar e sob a supervisão de cuidadores, enquanto os pais trabalham.
BELEZA
As empreendedoras Ana Carolina Vaz, 36, e Karen Kanaan, 36, aproveitaram a experiência como mães para desenvolver uma linha de produtos de higiene para crianças.
Ana Carolina é mãe do João Pedro (2 anos) e Maria Eduarda, e Karen do João (1 ano) e e Maya.
A linha Baby & Me possui produtos para auxiliar os pais em períodos como desfralde, viagens ou troca de fralda fora de casa. Entre os itens da linha estão protetores de cama e berço, trocadores e sacos de viagem descartáveis.
No período de desfralde, por exemplo, é normal fazer a xixi na cama. O protetor de cama ajuda a preservar o colchão.
COACHING
Para as mães que pensam em mudar de carreira para ganhar mais tempo com os filhos, há uma série de comunidades e sites de empreendedorismo materno.
Além de depoimentos de mães empreendedoras de sucesso e agenda de congressos sobre empreendedorismo, também fazem parte dos tópicos desses grupos indicações sobre coaching profissional.