Entre bolo e café com parentes, professora dá à luz em parto domiciliar; veja fotos

FABIANA FUTEMA

A professora Reijane Maria de Jesus Oliveira, 32, moradora de Alagoinhas, no interior da Bahia, sempre sonhou com um parto na água. Quando conheceu seu marido, o petroleiro Manoel dos Santos Rodrigues Jr, 34, o plano de ter um parto humanizado domiciliar ficou ainda mais forte.

“Queríamos um parto que permitisse que nosso filho chegasse ao mundo da forma mais acolhedora possível, que fosse natural, e que respeitasse a minha decisão como mulher, e não a dos médicos, afirma Reijane.

Para Manoel, o fato de o parto ter sido feito em casa, e não em uma maternidade, evitou que a mulher passasse por intervenções e dores desnecessárias. “Se ela estivesse no hospital, faria exame de toque de hora em hora. E isso é doloroso, a mulher não fica à vontade. A posição de parir deitada não é a melhor, aumenta a possibilidade de lacerar a mulher.”

Manoel fez várias críticas à episiotomia (corte que vai da vagina ao ânus durante o parto vaginal). “É uma mutilação. Minha mulher teve um bebê grande, de 3 kg, e não precisou ser cortada. No parto humanizado, a mulher não passa por intervenções desnecessárias só para acelerar seu parto.”

Além do marido, o parto de Reijane também foi acompanhado por uma prima e uma tia de Reijane. Ele foi assistido por um médico obstetra e uma enfermeira obstetra. O casal também havia escolhido um hospital caso houvesse um imprevisto.

Reijane diz que a presença da família deu força e a encorajou. “Uma das fotos mostra minha prima segurando minha mão durante o parto.”

O fato de estar em casa também deu liberdade para ela fazer um bolo em pleno trabalho de parto. “Eu estava com muita energia. Perguntei ao médico se podia me movimentar e ele disse que estava tudo normal. Decidi fazer um bolo para acolher meu bebê. “

O casal brinca que entre uma contração e outra, ela mexia o bolo. A receita ficou pronta no sábado à noite. Na tarde seguinte, um domingo, 17 de maio, nascia o pequeno Elias.

Para as mulheres que sonham com esse tipo de parto, Reijane diz que é preciso acreditar em si mesma. “O parto normal humanizado é a melhor forma de acolher um bebê. A mulher tem que acreditar em seu corpo e que é possível.”

OPINIÃO DOS MÉDICOS

Para a Febrasgo (federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia), os partos hospitalares sãos mais seguros que os domiciliares. No entanto, a entidade afirma que “em respeito aos direitos reprodutivos e ao princípio bioético da autonomia, defende que a escolha de onde e com quem parir é das mulheres”.

A federação orienta que as mulheres sejam informadas sobre os riscos e benefícios, baseados em evidência científica dos diversos tipos de partos e de onde o filho vai nascer

Sobre as manobras médicas criticadas pelo casal, no dia 11 de junho haverá uma audiência pública em Brasília para discutir projeto do deputado Jean Willys que tenta inibir ações que podem ser consideradas casos de violência obstétrica.

Sobre esse tema, a Febrasgo diz que a “recomendação é que exista a presença de equipe completa na maternidade, o que evita possíveis vulnerabilidades”. “Os médicos devem seguir as boas práticas orientadas pela Organização Mundial de Saúde e pelo Ministério da Saúde: para o parto espontâneo oferecer a posição mais confortável, líquidos e métodos não farmacológicos e farmacológicos para alívio da dor.”

A entidade informa que elaborará uma cartilha sobre o tema para “esclarecer eventuais excessos como o romanceamento que se faz do parto domiciliar”.