Longe da família e sem dominar idioma, decasséguis retornam ao Brasil para parir

FABIANA FUTEMA

O Japão tem um modelo de assistência ao parto admirado por profissionais de saúde do mundo todo. Além de possuir uma das menores taxas de cesárea (17%), o país também registra baixíssimos índices de mortalidade materna.

Apesar disso, muitas brasileiras que se mudaram para lá para trabalhar ou acompanhar seus maridos, preferem retornar ao Brasil para parir quando se desdobrem grávidas.

Entre os fatores que influenciam a escolha estão a distância da família e a falta de domínio do idioma japonês, que dificulta a comunicação com médicos e enfermeiras.

Eliza Ida, 34, foi ao Japão para trabalhar com o marido como decasségui. Assim que descobriu que estava grávida, ela quis voltar ao Brasil para ter seu filho aqui.

“Era melhor estar perto da minha família, receber o apoio deles. Acabei ficando 1 ano no Brasil, esperei que tomasse toda a primeira leva de vacinas”, diz ela.

Mas Eliza não levou a filha, ainda bebê para o Japão quando retornou. “Era muito pequena.”

Quando engravidou pela segunda vez, ela também voltou ao Brasil. Mas desta vez, ao retornar para o Japão, ela levou os dois filhos juntos. “Aí a família ficou reunida, eles frequentaram a escola japonesa.”

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MEDO DA DOR DO PARTO NORMAL

A prioridade ao parto normal no Japão, tão elogiada, também assusta as decasséguis. “Lá, você só faz cesárea se a mulher estiver entre a vida e a morte”, diz a mineira Gilzete Kojo, 39, que entre idas e vindas morou quase dez anos no Japão.

Segundo ela, seu medo de parir no Japão começou depois de sofrer um aborto e precisar fazer uma curetagem. “Foi horrível, senti muita dor, foi pior do que um parto.”

Gil diz que seu nível de BHCG, que indica gravidez, não baixava depois de todo esse procedimento. Então, orientada pelo marido e cunhada, voltou ao Brasil. Aqui, passou por nova curetagem. “Foi tudo bem diferente, me deram anestesia, outro tratamento.”

Quando ela voltou ao Japão e engravidou novamente, ela ficou com receio de ter seu parto lá. “Não queria passar pela mesma experiência negativa. Voltei ao Brasil, tive uma cesárea, esperei minha filha fazer todas as vacinas para embarcar novamente para o Japão.”

PARTO NO  BRASIL E NO JAPÃO

Marjory voltou ao Brasil para ter seu segundo filho (Reprodução)
Marjory voltou ao Brasil para ter seu segundo filho (Reprodução)

 

A brasileira Marjpory Kayenne, 25, mora lá desde seus 5 anos. Mãe de dois meninos, ela está grávida.

Ela teve o primeiro no Japão e o segundo no Brasil. O terceiro terá no Japão novamente.

A decasségui diz que na veio ao Brasil na segunda gestação porque queria uma cesárea. “Meu filho mais velho estava morando no Brasil, por isso quis ter o caçula lá.”

Mesmo no Brasil, Marjory diz que seu segundo filho nasceu de parto normal.

Ela aprovou o pré-natal e parto no Japão. “Se você chega e já tiver dilatação, vai direto para sala de parto. Se não, vai para uma salinha ao lado para ver de quanto em quanto tempo tem contração.”

“Depois que nasce a mãe já pega o bebê e dá de mamar. Só depois ele vai para o berçário”, conta.