Pai ainda é barrado no pré e pós-parto de maternidades, diz estudo

Apesar de a lei garantir à gestante o direito a um acompanhante em todas as fases do parto, os pais ainda são impedidos de ficar com a mulher no pré e pós-parto. Isso é o que mostra levantamento do Instituto Papai em parceria com Núcleo de Pesquisa em Gênero e Masculinidades da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) com 12 maternidades públicas do Recife, Olinda e Jaboatão.
O estudo divulgado neste sábado mostra que o direito à lei do acompanhante é mais desrespeitado nessas duas etapas do parto principalmente se a companhia for do sexo masculino.
De 12 maternidades analisadas em 2015, apenas três permitiam acompanhante homem no pré-parto. Esse número dobrava na sala de parto e se mantinha em seis no pós-parto.
Os dados referem-se a respostas dadas por gestores dessas maternidades a questionários enviados pela ONG.
“Em vez de encarar os companheiros como aliados e que podem dar conforto para a mulher na hora do parto, eles ainda são vistos como inimigos por muitas equipes de saúde”, diz Mariana Azevedo, coordenadora-geral do Instituto Papai.
Em 2011, a situação era um pouco pior: só uma permitia homens no pré-parto. E duas deixavam o homem acompanhar o pós-parto.
Segundo Mariana, as maternidades que barram o acompanhante na sala de parto não costumam fazer distinção de sexo, o que pode ser até pior.
“Não procede alegar a questão de privacidade nas salas de parto, pois elas são individualizadas. A presença do acompanhante é fundamental para fiscalizar e impedir procedimentos médicos ou casos de violência obstétrica”, afirma Mariana.
VISÃO MACHISTA X INFRAESTRUTURA
Entre os motivos alegados pelas maternidades para barrar a entrada de homens no pré e pós-parto estão “estrutura física inadequada que não permite privacidade”. Isso acontece porque na maioria dos casos as mulheres ficam em quartos coletivos e sem divisórias entre os leitos.
As maternidades também se justificaram dizendo que a livre “circulação de homens em locais em que as mulheres estão mais ‘à vontade’ poderia causar constrangimentos” e que “falta preparo aos homens”.
Para Mariana, essas respostas indicam uma concepção machista que acredita que o “homem está sempre de olho em outra mulher”.
“Esse problema pode ser facilmente resolvido. É só colocar divisórias, biombos ou cortinas entre as camas”, diz a coordenadora da ONG.
Nas blitze feitas nas maternidades, o Instituto verificou que só duas maternidades possuíam divisórias nas salas de pós-parto. Nas salas de pré, havia divisórias em cinco delas.
E apesar da alegada falta de estrutura para os pais, a ONG verificou salas lotadas de médicos e estudantes nos hospitais universitários. “Isso é um contrassenso.”
Também constatou que algumas maternidades impediram os pais de acompanharem o parto por falta de roupa esterilizada.
Outro problema para a participação dos pais foi a falta de autorização, tanto por falta da direção do hospital quanto pelo médico.
“Presenciamos uma série de motivos, sem fundamentação, para proibir o homem de acompanhar o parto, como em casos de cesariana ou de cirurgias de alto risco”, afirma Mariana.
Para a coordenadora do Instituto Papai, o problema é que o descumprimento da lei não gera punições. “Tivemos pequenos avanços nesses 10 anos, mas o descumprimento da lei do acompanhante ainda é generalizado.”
DOCUMENTÁRIO
Neste sábado, véspera do Dia dos Pais, a ONG lança o documentário “Pai Não é Visita! Pelo Direito De Ser Acompanhante” em parceira com o Núcleo de Pesquisa em Gênero e Masculinidades da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e a 7ª Arte Cinema.
O documentário reúne relatos de pais que acompanharam o nascimento de seus filhos. E também de outros que tiveram esse direito negado pelas maternidades e hospitais.
Segundo o Instituto Papai, o objetivo é que o vídeo ajude a sensibilizar o público, sobretudo profissionais e gestores da saúde, sobre a importância da presença do pai neste momento da vida da mãe e do filho.