Grupos de aleitamento questionam campanha que associa Ninho com brinde

FABIANA FUTEMA

campanha

Participantes de grupos de aleitamento materno nas redes sociais questionam a campanha “troca com carinho” da Nestlé. Lançada no início do mês, a campanha prevê a entrega de kits de produtos da Natura para consumidores que comprarem três produtos iguais da linha Ninho Fases.

Qual seria o problema da campanha? É que as empresas devem seguir as regras da NBCAL (norma brasileira para comercialização de alimentos para lactentes e crianças de primeira infância, bicos, chupetas e protetores de mamilo).

Criada com o objetivo de proteger o aleitamento, essa norma proíbe promoções envolvendo fórmulas infantis para lactentes (até 1 ano), como Nan. Só que os produtos da linha Ninho Fases não se encaixam nessa categoria. Eles são considerados fórmulas para a primeira infância (de 1 a 3 anos), faixa para qual as campanhas promocionais estão liberadas.

Fabiola Cassab, fundadora do grupo Matrice, diz que a campanha não contraria a legislação. “A promoção não contraria a lei, mas vai contra o espírito da norma, que é o de proteger o aleitamento materno.”

Para Simone de Carvalho, fundadora do grupo AMS (Apoio Materno Solidário), a associação do brinde com a venda da fórmula infantil é uma estratégia de marketing que enfraquece a “capacidade da mulher de amamentar seu bebê por dois anos ou mais”.

“Por se tratar de um leite mais barato em relação aos voltados para os lactentes, a mãe, na primeira impossibilidade de aleitar, pela ausência de apoio e incentivo até dos pediatras, acaba adquirindo e ofertando para seu bebê antes dele completar 1 ano”, afirma.

Simone questiona campanhas de marketing que envolvem a venda casada de produtos voltados para a primeira infância.

“As empresas precisam avaliar o impacto deste tipo de parceria para uma comunidade de mães que vem substituindo alimentos industrializados por naturais e que, cada vez mais, vem prolongando o aleitamento materno.”

Para ela, é função dos grupos de aleitamento dar apoio e informação às mães, para que elas possam fazer escolhas e recusas informadas. “Decidir pensando naquilo que é melhor para os seus bebês, que indiscutivelmente é o leite materno.”

A bióloga Heloíze Milano, mãe de Carmen (2 anos) e Angelo (4 meses), diz que esse tipo de campanha ainda tem o problema de seduzir as crianças com prêmios associados à venda do composto lácteo.

“Sabemos que as crianças são os grandes impulsionadores das compras dentro de casa. A estratégia parece querer fidelizar os pequenos ao leite. Ainda há o risco de algumas mães, impulsionadas pela promoção, acabarem adquirindo mais leite do que precisam”, diz a mestre em ciências e especialista em biotecnologia.

OUTRO LADO DAS EMPRESAS

Em nota, a Nestlé informa que os produtos envolvidos na promoção “Troca de Carinho” não se enquadram na categoria de fórmulas infantis e a ação promocional em questão segue rigorosamente a legislação pertinente.

“A Nestlé possui um compromisso global de comercializar substitutos do leite materno de forma responsável. Assim, cumpre plenamente a legislação brasileira aplicável e atualmente é a única companhia de nutrição infantil incluída no Índice FTSE4Good”, diz comunicado.

Procurada pela reportagem, a Natura informou que seu posicionamento estava contemplado na resposta da Nestlé.