Hospital de Jundiaí dificulta entrada de doula em sala de parto, diz mãe

FABIANA FUTEMA
Barriga de gestante de Lara (arquivo pessoal)
Barriga de gestante de Lara (arquivo pessoal)

A operadora de manufatura Lara Ferreira, 24, havia planejado um parto natural e sem o risco de sofrer intervenções médicas desnecessárias. Para planejar o nascimento do 1° filho ela contou com a ajuda de uma doula. Juntas, elaboraram um plano de parto que esperavam que fosse seguido quando chegasse a hora de Lara dar à luz.

Além da doula, Lara queria que seu marido também estivesse presente quando seu filho viesse ao mundo.

Lara esperava não ter de abrir mão da presença de nenhum deles, já que a Prefeitura de Jundiaí havia sancionado uma lei regulamentando a entrada das doulas nas maternidades da cidade.

Pela lei, a presença da doula não tirava da gestante o direito de contar com um acompanhante durante seu parto.

Na segunda-feira , 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida, Lara entrou em trabalho de parto, A doula _que pediu para não ser identificada, pois teme ser barrada em outros hospitais_ disse que o trabalho de parto de Lara evoluía bem. “Ela começou com as contrações às 9h e quando chegamos ao hospital, por volta das 13h, ela já tinha 6 centímetros de dilatação.”

Mas a doula diz que logo que Lara deu entrada no HU (Hospital Universitário) de Jundiaí percebeu que seu trabalho não seria tão simples.  “Disseram que ela só podia ter um acompanhante, que seria eu ou o marido. Falei sobre a nova lei, mas parecia que tinham pouco conhecimento dela.”

Segundo ela, depois de muita conversa, o hospital acabou permitindo que ela se revezasse com o marido de Lara na sala de parto. “Só que o trabalho de parto evoluiu muito pouco, tanto que às 16h ela só estava com 7 centímetros  de dilatação. Ela ficou muito nervosa com essa situação.”

Quando a doula percebeu que o nenê estava para sair, deixou a sala para permitir a entrada do pai. Só que a entrada do pai acabou demorando e Lara acabou dando à luz sem ter nenhum acompanhante junto dela.

Lara disse que ficou triste e frustrada com tudo o que aconteceu. Não foi o parto que ela planejou. “Não consegui entregar meu plano de parto ao hospital, acabei passando por procedimentos que eu não queria.”

Sozinha, ela disse que não teve forças para falar à equipe médica o que desejava para seu parto. “Fiquei fragilizada, preocupada, ofendida com tudo o que estava acontecendo. Não fiquei à vontade, não consegui interferir. Meu direito não estava sendo cumprido.”

Entre os procedimentos realizados, segundo Lara, estão a episiotomia, vários exames de toque e rompimento da bolsa.

Passada a chateação, agora ela quer cuidar do pequeno Damian. Diz que ele já pegou seu peito e está mamando bem.

A doula e jornalista Flávia Alves, que está acompanhando o caso, diz que a doula de Lara fez uma reclamação na ouvidoria. “Vou acompanhar até o hospital ser notificado realmente. Além de não cumprir a lei municipal, o hospital deu chá de cadeira no marido da parturiente. Ele só entrou no centro cirúrgico quando o bebê já tinha nascido com metade do corpo.”

A advogada Priscila Cavalcanti diz que doula que precisa revezar com o marido não é doula, é acompanhante.

OUTRO LADO

Em nota, o Hospital Universitário informa que a “doula esteve na sala, durante o trabalho de parto”

Diz ainda que “apoia a presença da doula durante o parto e está adequando sua estrutura para não comprometer a assistência segura que é dada diariamente a todos os pacientes”.

“O HU prioriza o atendimento humanizado e se for vontade da gestante, esse tipo de profissional irá, com certeza, colaborar de forma determinante com esse momento especial”, diz nota da assessoria.

Em agosto, o coordenador médico do hospital disse ao JJ que o HU não tinha estrutura para acomodar doula e acompanhante. “Só há vaga para um.”

Segundo ele, o hospital é de atendimento público e doulas prestam um serviço particular, remunerado. A doula de Lara fez um serviço voluntário, ou seja, não cobrou nada dela.