Hospitais municipais de SP implantam redes em UTIs para confortar prematuros
Hospitais municipais de São Paulo participantes do programa Parto Seguro à Mãe Paulistana vão ampliar o uso de redes nas incubadoras da UTI neonatal usadas pelos bebês prematuros. O objetivo é dar mais conforto ao bebê e reproduzir na incubadora o ambiente aconchegante do útero materno.
“É muito importante desenvolver um ambiente acolhedor, capaz de minimizar o estresse e manter os bebês calmos”, diz a médica neonatal e consultora do Parto Seguro, Márcia Dias Zani.
Esse sistema, já adotada pelo Hospital Municipal Alípio Correa Neto, localizado em Ermelino Matarazzo (zona leste da cidade) vai ser exportado para mais três instituições: Professor Waldomiro de Paula (em Itaquera), Tite Setúbal (em São Miguel) e do Campo Limpo (zona sul).
Segundo a médica, todos os nove hospitais participantes do programa podem implantar esse sistema de redes. “Está aberto a todos os interessados. Por enquanto, esses três manifestaram interesse.”
Márcia coordena um estudo pioneiro sobre os benefícios da rede nas UTIs neonatal na recuperação dos prematuros. “A rede já é usada há muito tempo, não sou eu que estou criando esse método. Mas faltam estudos científicos sobre o método. Tudo o que se sabe hoje é muito empírico. Os hospitais cortam uma redinha e colocam na incubadora.”
No estudo, Márcia pretende estipular critérios para o uso da rede, como tempo de utilização, peso máximo do bebê e condições clínicas. “Ela é adequada para bebês com menos de 2 kg e que não façam uso de ventilação artificial. Sobre o tempo: se o bebê estiver dormindo ou dormir na rede, não vamos nunca acordá-lo para retirá-lo de lá.”
Em relação ao peso, a neonatologista afirma que a partir de 2 kg a rede pode ficar desconfortável para o bebê. “Ele precisa ficar bem acomodado, não pode forçar a coluna.”
E quando a rede deve ser usada? Sempre que a mãe não estiver disponível. “O colo da mãe, o sistema canguru, é sempre melhor que a rede. Usamos a rede quando a mãe não puder ficar com o bebê”, diz Márcia.
A experiência de Márcia com a utilização de redes foi premiada em outubro no 4º Simpósio Científico e Internacional CEJAM.
“Observamos que os bebês colocados nas redes apresentaram rapidamente sinais de conforto e os que choravam se acalmaram até entrar em sono profundo. Além disso, os pais que presenciaram seus filhos acomodados em redes perceberam o método como uma forma de dar aconchego aos seus filhos”, afirma.
Outras vantagens apontadas pela médica são o baixo custo de produção das redes e a facilidade de manuseio pela equipe do hospital.
Segundo Márcia, o ambiente estressante e os estímulos dolorosos aos quais os bebês ficam submetidos durante a internação, pode causar prejuízo ao desenvolvimento neurológico e às suas funções reguladoras.
“O sistema neurológico deles é imaturo e quase 90% da energia deles tem de ser usada para manter outras funções, como respiração e batimentos cardíacos. Se ficam agitados na incubadora, essa energia é deslocada para essa movimentação excessiva. O bebê estressado também fica mais sujeito a doenças.”
CANGURU
O Hospital Alípio Correa Neto vem utilizando outros recursos de humanização com o objetivo de propiciar um melhor desenvolvimento dos bebês prematuros e até diminuir o tempo de internação.
O principal deles é estimular a presença da família na UTI para o fortalecimento do vínculo afetivo, que pode ser determinante para que o bebê sobreviva sem sequelas.
As mães são estimuladas a manter seus filhos na posição canguru, sempre que possível, de preferência no contato pele a pele.
Também são utilizados “ninhos”, uma pequena cama colocada dentro da incubadora que facilita a permanência da criança na posição fisiológica, semelhante à posição fetal, considerada ideal para seu desenvolvimento neste período.