Número de cesáreas agendadas cai no Natal e Ano Novo, mostra estudo
Poucas crianças devem nascer de cesárea no Natal, Ano Novo e vésperas desses dois feriados. Essas quatro datas estão entre as cinco com menor número de nascimentos do ano por cesárea na cidade de São Paulo, segundo estudo do professor de estatísticas da saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, Alexandre Chiavegatto Filho.
O trabalho mostra que as mulheres, orientadas ou não por seus obstetras, evitam marcar o parto principalmente nesses quatro dias do ano.
“O estudo analisa os números de nascidos vivos em São Paulo de 2001 a 2010. Nesse período, a taxa de cesárea na cidade passou de 48% para 56%, refletindo essa preferência pelo parto agendado”, diz Chiavegatto.
O problema do agendamento sem indicação médica é que o bebê corre o risco de nascer prematuro. “Existem vários motivos que levam uma mãe a preferir uma data em detrimento da outra. Mas essa escolha pode fazer com que o parto seja antecipado, ainda que o bebê não esteja pronto para nascer”, afirma ele.
Segundo Chiavegatto, a ideia de descobrir quais eram as datas mais rejeitadas para o parto surgiu depois de ler um trabalho americano, que mostrava que o Halloween era o dia mais evitado para o nascimento.
Coincidentemente, aqui o Dia de Finados lidera o ranking de rejeição de nascimentos por cesárea.
Nos EUA, o dia com mais nascimentos é o de São Valentim, equivalente ao nosso Dia dos Namorados. Já aqui, a data com mais cesáreas agendadas é 8 de Março, o Dia da Mulher. “É uma data simbólica, talvez”, sugere Chiavegatto.
A jornalista Kelly Dores teve seu filho Murilo, 8 anos, em um dia 8 de Março. Mas a data não foi uma homenagem ao Dia da Mulher. Foi uma sugestão de seu médico.
A data limite para o parto da designer gráfica Graziela Rosembrock era 7 de maio de 2010. Como o bebê não encaixava, o médico sugeriu antecipar o parto. Ela e o marido Rodrigo sugeriram que o parto fosse marcado para 1º de Maio, feriado do Dia do Trabalho. Mas o médico disse que não havia vaga para aquele dia e marcou para 30 de abril. Ela e o marido acabaram concordando, pois o menino nasceu no mesmo dia em que o pai.
Esses dois casos mostram que mesmo participando da escolha da data do parto, as mulheres tiveram orientação de seus médicos.
Chiavegatto diz que a rejeição pela marcação da cesárea nos feriados de Natal e Ano Novo revela ainda a tendência de se evitar partos em feriados emendados.
“São datas em que os hospitais também estão trabalhando com equipes reduzidas, com menos gente para dar atendimento. Há a questão da programação interferindo no agendamento”, diz ele.
“O problema maior é que às vezes se antecipa muito a data do parto, causando a prematuridade.”
Estudos científicos apontam que bebês nascidos de cesarianas apresentam riscos maiores de dificuldades respiratórias e são internados em UTI neonatal com mais frequência.
Sem indicação clínica, a cesariana aumenta em 120 vezes a probabilidade de problemas respiratórios do recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe.
Os médicos, por outro lado, reclamam que se não marcam os partos das pacientes com antecedência correm o risco de não encontrar vaga nas maternidades.