Após desafio, leitores compartilham histórias de ‘maternidade real’; leia algumas
O desabafo da carioca Juliana Reis, 25, que rejeitou postar fotos felizes da sua maternidade, inspirou outros pais a compartilharem suas histórias. Em seus relatos, pais e mães contam desde como é exaustivo passar noites seguidas em claro, as dificuldades da amamentação até a ruptura com a vida anterior à maternidade e a cobrança que sentem.
Vou republicar aqui trechos de algumas das mensagens enviadas. Não vou colocar todas as mensagens, mas agradeço a participação de cada leitor (a).
Leia alguns relatos:
“Odiei a minha gestação, mesmo que muito esperada. Tive vários problemas de saúde. Também fui muito criticada por reclamar da gestação. Meu filho, hoje com 1 ano e 9 meses, teve cólicas nos 4 primeiros meses. Chorava da 0h às 4h todos os dias. Os vizinhos reclamavam. Adeus cólicas, vieram os dentes… outra dor, para ele e para mim. Agora está na fase das manhas, birras etc…Ah, são coisas normais. Não, não achei nada normal. Mato e morro pelo meu filho, mas de normal não teve nada.”
Lilian 34 anos mãe do Tiago 1 ano e 9 meses.
“Acabei de ler seu texto e me senti abraçada, juro! Nunca fui tão cobrada (por mi mesma, pela família, pelo marido e pela e apesar de fazer tudo por amor, ando necessitando de reconhecimento. Cansei de receber opiniões que não pedi, cansei de ter a obrigação de ser sempre sorrisos. Esses dias comentei com a minha cunhada que estava cansada de acordar durante a madrugada, ele me respondeu: mas é o melhor cansaço do mundo né? A minha vontade era de mandar ela pra o inferno. Eu não estava falando de amor de mãe, não estava falando do quanto a minha filha enche minha vida de alegria, estava falando de cansaço, de dor, do que é fisiológico! Mas não, eu sou mãe e partir deste momento eu tenho obrigação de não ter sentimentos, não me cansar e não sentir dor.
Criaram polêmica por hipocrisia e o pior de tudo isso é que mesmo sabendo das dificuldades da maternidade, as mães são as maiores julgadoras umas das outras. Tenho PRE-GUI-ÇA de mãe que se acha a dona da verdade! Foi ótimo dividir toda essa repressão com você!”
Mariana Maranhão, 24
“Tenho um filho de 3 meses e tenho 37 anos e senti muitas coisas que a Juliana mencionou. No meu baby blues pensei muito que a cada geração de mulheres isso deve ser mais doloroso porque somos cada vez mais livres e imediatistas e a maternidade nos ensina o contrário disso tudo!!!!
Penso que pra ela, dez anos mais nova que eu, deve ter sido ainda mais difícil, talvez pra nossas mães, menos porque fossem menos livres tb… Não sei, penso muito sobre isso. Sabe que fiz uma lista do que tenho aprendido com meu filho e ela diz muito sobre essas aflições pelas quais passamos nesse puerpério. Uma delas é: “Expectativas podem ser frustradas; não se desespere se o plano não sair conforme imaginado”.
Graziella Dell’Agli
“Sou pai dos gêmeos Leonardo e Rafael de 1 ano e 11 meses de idade. Minha esposa e eu os amamos muito, muito mesmo. Minha esposa, por conta de uma particularidade (AUU, artéria umbilical única, do Rafael) foi internada 11 dias antes do parto prematuro deles e de lá para cá, nunca mais teve tempo livre para nada. Vou falar por mim: sempre priorizamos o bem estar dos meninos e a rotina deles era sagrada. Nós, comíamos, tomávamos banho, dormíamos quando desse! Por conta da má alimentação, e em qualquer horário, engordei 10kg (mas já consegui perder 8kg), tive tendinite no punho, há alguns meses, cochilei ao volante e bati o carro. E por aí vai! As alegrias são imensas mas é cansativo mesmo. E as cobranças e julgamentos da sociedade existem mesmo, ainda mais no nosso caso, com os gêmeos. Por conta da AUU, o Rafael nasceu com menos peso e depois de alguns meses, essa diferença se estabilizou em 1kg e permanece até hoje. Aí, a maioria das pessoas quer encontrar as diferenças e/ou semelhanças entre os gêmeos e sempre dizem: ‘Ah, um é menor que o outro né? Eles não são parecidos’. E é como se os gêmeos que não se parecem não tem valor!!”
Willian V. Ribeiro, pai de gêmeos
“A sociedade e o sistema em geral nos colocam como mãe sem mesmo ser. Veja bem, se você está namorando logo te perguntam quando vai casar, se casou, quando irá ter filhos e se já nasceu um, quando terá outro. O fato de ser mãe nos é passado realmente como algo indolor, colorido e mágico e se és mãe sabes que isso não é verdade. Dói, o corpo obviamente muda e amamentar não é uma tarefa fácil. E se o bebê é chorão então, haja paciência. Mais como somos seres racionais devemos saber o que nos espera, o lado bom e o lado ruim. Ora, que maravilha pegar somente sua bolsa e sair sem hora pra voltar?! Então, descentrar e ver os dois lados da situação abre possibilidades para sair do ponto de vista egocêntrico e ainda, aprender alguma coisa com tudo isso!”
Ariane Moreira, pedagoga
“Antes de sermos mãe, somos humanas, sentimos dores, raiva, cansaço e sempre ouvimos a maioria das mulheres falando sobre a maternidade como se fosse um paraíso e a relação com o filho como algo sobrenatural. […]O problema é que maioria, principalmente quando está entre outras mulheres, parece que disputa para mostrar o quão maravilhoso é o seu relacionamento com o seu filho e quão mais feliz é agora e quão maravilhoso é ser mãe e por aí afora. […] O fato é que existe esta glamourização em torno da maternidade e não sei por qual motivo as mulheres não ousam dizer que sim, é delicioso ser mãe, mas que tem horas que é chato pra caramba e que isso não quer dizer que ela é uma mulher sem coração e que não ama seu filho. Mas simplesmente mostrar que ela é mulher, é mãe, mas, acima de tudo, é humana.”
Célia Pimentel
“Sou mãe de um menino de 3 anos, o Heitor. Essa polêmica toda é um alívio a quem preferiu nem responder ao desafio. Não tenho queixas quanto a maternidade, mais tem muitos assuntos a serem abordados como violência obstétrica. Muitas amigas minhas foram violentamente estripadas para poder ter seus filhos de um suposto ´´parto normal´´, que me parece pior que a minha cesariana, em que também sofri por horas até não ter dilatação Não tive suporte nenhum para saber como executar aquele trabalho, não sabia respirar direito, empurrar na hora certa e não tinha apoio do meu marido e sogra, que estavam aflitos na sala de espera pois não podiam ficar comigo. Às vezes penso que se eu soubesse oque fazer naquela hora eu poderia ter tido o Heitor de parto normal. […] Como podemos ser mães felizes e plenas se passamos por algo tão chocante tendo em vista que aguardamos por aquele momento por quase um ano, as reações são variadas, e nem todas conseguem lidar rapidamente com as mudanças.”
Karen Souaz, 26
“Tenho 3 filhos homens. O primeiro tive no fim da adolescência, solteira, hoje ele tem 18 anos. O segundo, após me casar, hoje tem 9 anos. E o terceiro foi inesperado, hoje com 3 anos. Com tanta distância entre as idades, a dificuldade para lidar com cada fase fez com eu pedisse uma licença sem vencimentos, pois sou funcionária pública e estou há um ano sem salário por estar afastada. Essa decisão foi tomada num momento em que achei que corria risco de ter um AVC, uma vez que não consegui administrar a vinda de um bebê em meio a um adolescente e ao outro hiperativo. Sinto que ser mãe é frequentar um lugar desconhecido para muitos, um lugar de abnegação, resiliência e fé num amanhã mais tranquilo, onde você talvez consiga respirar e olhar um pouco para você. Meus sonhos de consumo hoje são simples: uma boa noite de sono, uma refeição tranquila e um banho demorado.”
Cristiane Teles
“Sou obstetra e tenho 56 anos, 32 de profissão e um casal de filhos de 24 e 21 anos. Tive meus filhos depois dos 30, planejados e desejados. Mas acho que os primeiros 4 meses de vida dos bebês deviam ser extintos da nossa vida. É período horroroso, cansativo, frustrante e ainda por cima, gerador de culpa, por a gente se sentir assim. Mas passa e quem realmente quer filhos fica bem depois. Mas quem disse que alguém é obrigado a querer ter filhos? A abdicar de sua vida pessoal por outra pessoinha? É o mito da maternidade feliz. Sem falar de maridos que não se adaptam às mudanças de prioridades e do corpo da mulher e caem fora atrás de outra descompromissada. Já vi muitos casamentos acabarem antes do primeiro aniversário, entre minhas pacientes. Morro de dó das que vão para a maternidade com expectativas completamente irreais. Tento alertar para as mudanças que virão, mas não tem jeito. Costumo dizer a elas que são 2 coisas que a gente não faz a menor ideia : do trabalho que dá e do tanto que eles fazem a gente felizes.”
M.V.
“Sou mãe da Elis, de 5 anos. Sempre quis ser mãe.Sempre tive certeza de que seria uma excelente mãe, tinha certeza de que saberia educar minha cria e seria super mega responsável em todos os momentos. Quanta arrogância. Elis nasceu em 2010, uma gravidez planejada e esperada. Nem por isso foi fácil. Ser mãe não é fácil, e não é lindo.Na gravidez eu passei inúmeros desconfortos, passei mal, fiquei inchada, tive muita dor nas costas e nos quadris, refluxo (tinha que dormir sentada), enxaqueca (sem poder tomar aqueles remédios fortíssimos eficazes), etc. Quando eu dizia que não aguentava mais estar grávida, meus amigos assustavam. […] É esperado que ela diga que está tudo bem, que está em “estado de graça”, que a gravidez é uma coisa linda e que ela vai morrer de saudades da barriga. Depois que Elis nasceu, familiares queriam opinar em tudo, criticavam tudo, desrespeitavam nossas regras, riam de nossas decisões e tentavam me convencer de comer coisas que eu não gostava porque “dava mais leite”. […] Foi muito difícil colocar limites e encontrar meu jeito de ser mãe. Encontramos um pediatra super sensível que foi nosso horizonte, nosso fio condutor, nossa orientação. E neles confiávamos. E aprendemos a dizer não aos outros. Mas não foi fácil. Pessoas ficaram “chateadas” ou “indignadas”, se afastaram. Tudo porque resolvemos enfrentar o fato de que a maternidade não é linda, não é fácil e pode ser muito dolorida, desconfortável, cheia de dúvidas, incertezas e muito solitária. […] Não sou uma ótima mãe, não sei tudo, erro bastante, mas faço o melhor que posso para ser a melhor mãe que cabe em mim, sem nem de longe achar que sou excelente.”
Ariadne Cantazaro
“Sou desafiada todos os dias, desde o dia que soube que estava grávida, de gêmeos. Uma alegria em dose dupla tomou conta de mim, mas com essa alegria veio a insegurança, o susto, medo do desconhecido, de não dar conta. Aos 39 anos tive que ficar de repouso durante a gestação, não pude fazer enxoval, não podia estar andando, dirigindo, trabalhando. E com quase 7 meses, outro susto, fui internada até o nascimento. Uma das minhas filhas não estava bem e precisava de acompanhamento diário. Novamente medo e insegurança. Enfim, o nascimento. Voltei para casa de mãos vazias: minhas filhas prematuras ficaram internadas. Dias de insegurança e medo novamente.
30 dias se passaram, com muitas lágrimas. Me sentia impotente, péssima mãe, tinha um medo e uma insegurança que nunca senti igual.Ver aquelas duas menininhas tão pequenas dependendo de mim me assustava demais. Ao levá-las para casa esses sentimentos aumentaram…. Era eu e elas.E agora? Chorei muito, muito….Dias e noites sem dormir…..Medo de fazer alguma coisa errada e perdê-las ….. Isso não saia da minha cabeça. Foram 2 anos assim, hoje elas estão com quase 3 anos, cada dia uma descoberta, me sinto mais confiante, forte….S ei o amor incondicional que há entre uma mãe e seu filho.Mas não é fácil, abrimos mão de muitas coisas, deixamos de fazer nossas vontades, para fazer o dos nossos filhos. E as pessoas esquecem que somos humana…. Antes de sermos mãe! Temos vontades e sonhos…..Não me arrependo de nada, faria tudo novamente.”
Marcia
“Sou psicanalista na cidade de Campinas e tenho encontrado no meu trabalho, mães com uma carga tão excessiva de exigências que frequentemente não conseguem evitar muito sofrimento. Elas são obrigadas culturalmente a apresentar uma fachada de santidade e prazer que não coincide com a tarefa árdua do cuidar de um novo ser. Este estado, necessário para cuidar de um bebê, chama-se ‘Preocupação Materna Primária’, um estado de doença saudável no qual a mulher ingressa nos últimos meses de gravidez e primeiros do nascimento através do qual uma parte do seu ser ‘regride’ para poder entender o que seu filho precisa. Este estado se apoia no bebê que a mãe foi um dia e então, se lá na sua primeira infância as coisas foram difíceis, agora que ela se torna mãe, estas dificuldades se repetirão.”
Fernando Basile da Silva, psicanalista
“Ser mãe não é um mar de rosas. Não é fácil, é cansativo e às vezes nos deixa exaustas, mas sem os filhos a vida perde o sentido, pelo menos para mim. Mãe está sempre repetindo as mesmas coisas para os filhos e tem sempre preocupação, mas faz parte de ser mãe, temos que aceitar isso da melhor maneira possível.
Tatiana
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