Precisamos falar sobre depressão pós-parto, diz mãe que tentou suicídio no puerpério

FABIANA FUTEMA
Monique, o marido e a filha Mia (Reprodução/Facebook)
Monique, o marido e a filha Mia (Reprodução/Facebook)

A fotógrafa carioca Monique Ranauro, 29, é mãe de Mia, uma garotinha linda de 4 meses. Ela ama e é amada por seu marido. Mesmo assim, ela tentou se suicidar duas vezes no puerpério _primeiras semanas após o parto.

Diagnosticada com depressão pós-parto, Monique teve ajuda da família, dos amigos e de uma psicóloga para superar essa fase punk da maternidade. Seu caso veio à tona após o marido revelar as dificuldades da mulher em seu perfil no Facebook.

“Vi minha esposa sofrer preconceito por causa da depressão pós- parto. […],Depressão não é palhaçada. Puerpério também não. Isso não é frescura de mulher”, escreveu  Marcos Vinicius Ranauro.

Ao Maternar, Monique defende que as mulheres não tenham medo de falar sobre os sentimentos confusos que surgem no pós-parto. “O que quer que seja, depressão ou baby blues, precisa ser falado. Isso está matando. O tema não é muito abordado, pois as mulheres têm medo de falar. A maioria passa por isso e não fala para ninguém porque tem medo de ser chamada de louca, de ser internada”.

Monique diz que não escondeu sua depressão da família. “Não fazia questão de esconder. Eu ficava com medo de esconder, mas fiz algo pior, eu tentei o suicídio duas vezes. […] As pessoas que queriam ajudar enxergavam o que eu estava passando e reagiam assustadas. Meu marido, mãe e irmã tentavam me passar força, não mostrar que se assustavam. A reação das pessoas dependia muito de como eu estava naquele momento, do meu grau de crise.”

Não existe um motivo que explique porque algumas mulheres sofrem mais que outras no puerpério. O que a família pode fazer é dar apoio e amor nessa hora, além de procurar ajuda médica se achar que é necessário.

Monique, por exemplo, não teve o parto que havia planejado. “Foi parto normal, mas tive bolsa rota. Foram 30 horas  de bolsa rota. E para vir de parto normal, precisou ser induzido. E a indução me deixou extremamente arrasada. Foi muito traumática.”

Ela também se frustrou com a amamentação. “Foi horrível, a Mia mamava leite e sangue. O bico do seio rachou. Foi muito doloroso, porém  mais doloroso foi o leite ter secado. Mia completou 2 meses e tive de apresentar TCC na faculdade, fiquei muito estressada,  mais do que já estava, mais triste. E o leite secou de um dia para o outro. Mais duro do que amamentar com sangue foi o leite secar e a filha usar amadeira. Não tenho nada contra mamadeira, mas eu tinha um sonho, uma coisa latente dentro de mim, de amamentar minha filha no seio. Isso é uma coisa que ainda me dói muito.”

Monique suspendeu a terapia quando a filha completou 3 meses e meio. Mas ela ainda mantém contato com a psicóloga. “Não superei  100%, superei 90%. A parte punk do suicídio, das alucinações, da autoflagelação, isso acabou. Eu  batia a cabeça na parede, me arranhava, arrancava os cabelos. Fazia isso de raiva e de dor. Essa fase já passou. “

Além da família, ela diz que a criação de um grupo de apoio nas redes sociais está sendo fundamental para enfrentar a barra pesada da maternidade. “Eu desabafo muito com as meninas do grupo que criamos. Desabar e conversar com elas traz um grande alívio.”

E o marido, que contou para todo mundo que ela teve depressão pós-parto? Monique é só elogios para ele. “Ele me encontrou despedaçada e juntou pedacinho por pedacinho. Me abraçava, me colocava forte. Eu estava acabada e ele dizia como eu era linda, que a Mia era minha cara, linda e perfeita. Ele me ajuda muito, acorda de madrugada para dar mamadeira, troca fralda, põe para dormir. É um anjo e sempre me respeitou como mulher.”

Monique é amiga da Juliane, aquela que rejeitou o desafio de postar fotos felizes da maternidade por acreditar que ser mãe não é um mar de rosas.

Mas ela participou do desafio da maternidade feliz, mesmo sabendo que ser mãe é punk. Postei para as pessoas não falarem ainda mais que eu estou louca. Se não, vão achar que eu vou matar a minha filha, pois até isso me falaram. Que era preciso ficar vigilante.”

Agora, depois da repercussão do post do seu marido, Monique criou um grupo de apoio para mulheres no Facebook. É o Mães Sem Photoshop, que pretende reunir relatos de mulheres que sofrem ou superaram a depressão pós-parto.

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