Barrado no parto da mulher, pai vai à polícia para obrigar hospital a cumprir lei do acompanhante

FABIANA FUTEMA

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O estudante Gabriel Alves, 22, precisou da ajuda da polícia para conseguir ficar ao lado da mulher durante o pós-parto. A estudante Amanda Oliveira, 21, deu à luz uma menina na madrugada de terça-feira no hospital Sociedade Portuguesa de Beneficência, em Campos dos Goytacazes (RJ).

Ele registrou boletim de ocorrência contra o hospital, que o impediu acompanhar o parto de Amanda. A Lei do Acompanhante, de abril de 2005, garante a gestante o direito de ter a companhia de alguém de sua escolha durante todo o período de pré-parto, parto e pós-parto.

“Eu não consegui assistir ao nascimento de minha filha. Eu não estava lá. Fui impedido pelo hospital de estar presente em um momento tão importante”, diz Gabriel.

Segundo ele, sua mulher teria seus direitos de gestante respeitados se estivesse com ela na sala de parto. “Empurraram a barriga dela, fizeram manobras totalmente desnecessárias”, afirmou.

Gabriel atribui ao estresse sofrido no hospital a dificuldade de Amanda para amamentar a menina Safira. “Ela não produziu leite ainda.”

Para protestar contra o que chama de humilhação e constrangimento, Gabriel postou um vídeo no qual aparece tentando convencer uma funcionária do hospital a deixá-lo ficar junto da mulher, que tinha acabado de parir.

A funcionária diz a ele que o hospital não tem estrutura para que os pais acompanhem suas mulheres e afirma seguir ordens da direção.

Depois de muita insistência, do registro do B.O. e de levar policiais para o hospital, Gabriel consegue entrar na sala onde está a mulher.

“Fui humilhado pela médica. Era madrugada e ela acordou a todas as mulheres pra dizer que elas seriam constrangidas pela minha presença. E que se elas quisessem que aquilo virasse uma bagunça, que poderiam ligar para seus maridos também”, afirma o estudante.

Ele questiona o argumento usado pela funcionária, de que sua presença constrangeria as demais mulheres. “Não é lei que toda mulher pode amamentar em público? O que havia ali eram mães que tinham dado à luz e estavam amamentando. Não tinha ninguém pelado.”

Além disso, segundo Gabriel, o hospital deveria ter se adequado à lei e criado uma estrutura apropriada.

O estudante diz que no dia seguinte ele e sua mulher foram levados para uma sala separada das demais mulheres do pós-parto. “O banheiro era péssimo, não tinha nem assento no sanitário. Como uma mulher que acabou de dar à luz vai usar um banheiro nessas condições?”

Procurada pela reportagem, uma funcionária da direção informou que o hospital estava tomando ‘as devidas providências’. Mas não havia ninguém para comentar o assunto.

Para Sirley Vieira, coordenador-executivo do Instituto Papai, o estudante tomou a atitude correta ao buscar o cumprimento da lei. “Ele está no direito dele. E ainda pode recorrer contra o constrangimento sofrido.”

Segundo ele, as instituições podem receber recursos para adequarem seu espaço físico. “Só não consegue o recurso quem não pediu, por desconhecimento, ou não apresentou um projeto.”

Sirley diz que o hospital precisa responder a outras questões em relação à lei do acompanhante. “E como ficam os outros? Os próximos pais poderão acompanhar suas mulheres? O hospital vai mudar sua estrutura?”