Sem enxergar, mãe enfrenta desafios de cuidar de um bebê
A dona de casa Tatiana Guerra, 31, tem dois filhos: Júlia, 8 anos, e Murilo, de 7 meses. Ela dá banho, troca fralda e amamenta o bebê como a maioria das outras mães. A diferença é que Tatiana tem só 8% da visão e por isso precisa fazer algumas adaptações em seu dia-a-dia.
A fralda, por exemplo, ela troca em cima da cama, e não no trocador. “É para evitar que ele vire e caia”, diz.
O banho é dado em uma banheira que tem um suporte para o bebê não escorregar. “É uma banheira normal, mas tem essa peça”, conta.
Tatiana escolhe as roupas que Murilo vai usar, mas admite que tem alguma dificuldade com as cores. Nessa hora, ela recebe a ajuda da filha.
Ela conta com o apoio da avó no dia-a-dia da casa, que fica responsável pela comida. Mas a dona-de-casa também tem vai para a cozinha, faz um bolo.
Tatiana brinca com o poder de seu tato. “Outro dia senti uma bolinha no bumbum do Murilo que ninguém tinha reparado. Quando mostrei, as pessoas perguntavam como eu tinha visto. Respondi que não vi, só senti.”
Tatiana começou a perder a visão aos 17 anos, no fim do ensino médio, devido a uma esclerose múltipla. Segundo ela, a redução da visão, que tinha crescido na gravidez da Júlia, ficou ainda maior na gestação do Murilo.
Talvez por isso ou pela idade, ela diz que mudou sua forma de cuidar do filho. “Eu era mais corajosa na primeira vez, saía sozinha com a Júlia. Agora não, tenho mais receio, fiquei mais caseira.”
Ela fica triste por não enxergar os filhos? “Gostaria muito de poder ver quando me falam que ele fez uma boquinha diferente ou uma careta. Sempre pergunto se a cor do olho está mudando, pois nasceu claro.”
Mas Tatiana não se deixa abater e defende uma criação amorosa. “É preciso aproveitar cada fase diferente da criança, sentir seu filho. É um tempo que passa rápido, não volta mais. Então tento aproveitar ao máximo, ficando muito próxima deles.”
Tatiana ficou famosa na internet no ano passado, com o vídeo do ultrassom de Murilo. Para ajuda-la a ‘enxergar’ as feições do filho, ela ganhou um molde de gesso impresso em 3D com o rosto do bebê.
PARTO
Os dois partos de Tatiana foram naturais, sem nenhum tipo de intervenção. “Não precisei tomar nenhum remédio para acelerar minhas contrações.”
No fim da gravidez de Murilo, a médica chegou a dizer que marcaria a cesárea se ela não entrasse em trabalho de parto até determinado dia.
“Saí do consultório chateada, pois queria um parto natural. Então decidi andar bastante, ir ao shopping, para ver se ele vinha logo”, diz.
Coincidência ou não, Tatiana entrou em trabalho de parto dois dias depois. “Cheguei ao hospital por volta das 12h e às 13h1e ele já tinha nascido. Foi muito rápido.”