Pais enfrentam dificuldade para vacinar crianças na rede pública e clínicas particulares
Famílias de diversas partes do país estão enfrentando dificuldade para vacinar os filhos. O problema é que vários tipos de vacina estão em falta no mercado.
O desabastecimento atinge tanto os postos da rede pública quanto as clínicas particulares.
Entre as vacinas que faltam na rede privada estão a hexa _que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, poliomielite e haemophilus influenzae tipo B_ e a meningocócica B. Ambas são produzidas pelo mesmo laboratório.
“Está faltando porque não tem produção suficiente para atender a demanda brasileira. A meningo saiu em 2015 e a procura foi maior que a esperada pelo fabricante”, diz Isabela Ballalai, presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações).
A saída para quem procura a hexa é dar a penta no posto de saúde (essa não está em falta). A diferença é que a criança tomará duas picadas, pois a penta não tem a proteção contra a poliomielite. “A hexa é menos reatogênica que a penta, que é feita com células inteiras. Mas a orientação é não deixar de vacinar. Se não encontrar a hexa, dê a penta.”
A psicóloga Debora Stracci, 41, de Campinas (SP), diz que a filha Giovana, de 11 meses, é alérgica e só pode tomar a hexa, mas não encontra a vacina na cidade.
“Ela é alérgica. Teve reação de hipotonia na dose da hexavalente Foi um susto bem grande. Preenchemos todos os requisitos da vacina acelular, que demora meses. Ela devia ter tomado a dose no dia 8 de agosto.”
Por conta da foto acima, o Ministério da Saúde reforça que não há falta da penta na rede pública. A filha de Débora tem de tomar a dTpa-CRIE, uma vacina acelular.
“Sobre a vacina dTpa-CRIE, enquanto o Ministério da Saúde aguarda a chegada de novos lotes ao país, estão sendo disponibilizados para as crianças a vacina dTpa tipo adulto, que pode ser aplicada a partir de 4 anos, como segundo reforço, ou seja, para quem recebeu previamente as 3 doses do esquema básico”, informa a pasta. “Além disso, os Centros de Referência para Imonubiológicos Especiais (CRIEs) têm optado por utilizar a penta (DTP/Hib/Hep B) em prematuros já estáveis, ou cardiopatas ou pneumopatas, orientando o uso de antitérmico.”
POSTOS
A contadora Elisangela Freitas Caires, 37, procura desde outubro a tetra viral nos postos da rede pública de São Bernardo, no ABC Paulista.
“Já liguei em diversas unidades de saúde sem sucesso, vou toda semana à unidade de saúde na qual meu filho é cadastrado e não tenho nenhuma posição sobre quando vai chegar. Tentei na rede particular, mas também não consegui. É desgastante e frustrante, pois meu filho corre risco e mesmo tentando não consigo nada.”
A Prefeitura de São Bernardo informa que “a falta de várias vacinas nas unidades de saúde é um problema enfrentado atualmente em todo o Brasil, devido ao atraso na entrega pelo Ministério da Saúde aos centros de vigilância epidemiológica dos estados, que são os responsáveis pelo repasse aos municípios”.
“O envio das vacinas, segundo comunicado da Coordenação do Programa Nacional de Imunizações, começou a ser regularizado recentemente com a distribuição de algumas vacinas. A expectativa é de que, até o final de março, as cidades já tenham seus estoques restabelecidos com as principais vacinas”, diz a prefeitura.
Raphaela Pimenta, de Barra Mansa (RJ), também diz não encontrar a tetra viral na sua região. A tetra viral protege contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela.
O Ministério da Saúde informou que enviou 94,4 mil doses da tetra viral aos Estados das regiões Norte, Sul e Centro-Oeste. “Para os Estados das demais regiões, a tetra está sendo substituída pela composição tríplice viral + varicela monovalente, que confere a mesma eficácia da tetra viral”, diz a pasta.
Isabela Ballalai, da Sbim, afirma que os pais podem tentar fazer substituições para as vacinas que faltam. “Se não encontrar a tetra, procura a tríplice viral e dá a vacina contra varicela separadamente.”
Leitoras de Nova Iguaçu (RJ) e do Tocantins alertaram para a falta da vacina contra hepatite B nos postos da rede pública.
OUTRO LADO
Sobre outras vacinas, como a hepatite B e dT (difteria e tétano), o Ministério da Saúde informa que a distribuição foi normalizada em fevereiro em todo o país. “Vale ressaltar que compete ao Estado realizar a distribuição dessas vacinas aos municípios, de acordo com as necessidades locais”, informa o Ministério da Saúde.
Segundo a pasta, o Estado de São Paulo recebeu 470,9 mil doses da hepatite B e 400 mil doses da dT em fevereiro, quando também foram enviadas 63,3 mil doses da vacina hepatite A infantil; 22 mil doses da vacina antirrábica humana (VARH); 150 mil doses da DTP (difteria, tétano e coqueluche); 250 mil doses da tríplice viral; 68 mil doses da varicela monovalente
“Devido à indisponibilidade de algumas vacinas nos mercados nacional e internacional, nos últimos meses, houve atraso na distribuição de algumas vacinas ofertadas no SUS. No entanto, a distribuição da maioria destas vacinas deverá estar normalizada até o final deste mês. A pasta reforça que tem buscado soluções para garantir a proteção da população, inclusive mantendo altos índices de cobertura vacinal no país”, diz nota do Ministério da Saúde.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo informou que o Ministério da Saúde entregou ao Estado apenas 42,1% da quantidade ideal de vacinas prevista mensalmente para 2015. Entre as vacinas com distribuição aquém do necessário, segundo a secretaria, estão a hepatite A, tetra viral, dupla adulto e DTPa.
“Em relação à vacina de hepatite A, no ano passado nenhuma dose foi entregue pelo órgão federal nos meses de novembro e dezembro. O mesmo aconteceu em janeiro de 2016”, informa a secretaria.
Em nota, o ministério diz que a “definição do número de doses de determinado insumo a ser enviado aos Estados […] considera a cota mensal predefinida por Estado, de acordo com o público alvo e situação epidemiológica, bem como os estoques federal e estaduais”.
“No caso das vacinas hepatite B, dT, hepatite A infantil; DTP Tríplice Viral; e Varicela Monovalente, os quantitativos enviados em fevereiro para São Paulo corresponderam a 100% ou mais da cota mensal do Estado”, informa a nota.
Isabela Ballalai diz que a situação atual não é a ideal, mas o país ainda não sofre o risco de viver surtos de doenças por conta das vacinas que faltam. “Ainda temos uma boa cobertura vacinal da população. O que não pode é deixar faltar por muito tempo.”
Ela alerta para a demora entre a demanda e o ajuste de produção de vacinas. “Hoje, temos falta de insumos e mudança de regras internas que atrapalharam a distribuição. Vacina não é como comprimido que o fabricante eleva a produção rapidamente. Depende do cultivo, um lote pode demorar meses para ficar pronto.”