Mundo precisa dar condições para os pais cuidarem dos filhos, diz diretora do filme ‘O Começo da Vida’

FABIANA FUTEMA
Documentário fala da importância do afeto na primeira infância (Divulgação)
Documentário fala da importância do afeto na primeira infância (Divulgação)

Os primeiros seis anos de vida, período que compreende a chamada  primeira infância, são os mais importantes para o desenvolvimento do indivíduo. O filme “O Começo da Vida”, que será lançado no dia 5 de maio em todo o país, discute a necessidade de dar condições para que os pais cuidem de seus filhos nessa fase tão importante da vida.

“Não fazemos julgamentos sobre a forma como cada família cria seus filhos. Discutimos a necessidade de criar condições do pai ser pai”, diz Estela Renner, diretora do filme.

Rodado em nove países (Argentina, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, França, Índia, Itália e Quênia), o documentário mostra como famílias de diferentes classes sociais enfrentam os desafios da parentalidade.

“Mães em situação de vulnerabilidade social têm as mesmas preocupações e sonhos de uma mãe de classe média quando se trata do que desejam para seus filhos”, afirma Estela.

No filme, a top Gisele Bündchen e uma mãe de 12 filhos, ex-usuária de drogas e moradora de uma comunidade carente, falam de sonhos parecidos.

“Eu quero que eles saibam que têm uma voz. E que eu estou enxergando, escutando o que eles estão falando”, diz Gisele sobre os filhos Benjamin, de 8 anos, e Vivian, de 4.

Mesmo em um mundo tão diferente de Gisele, a mãe de 12 filhos se assemelha a ela. “Queria ser mais presente, queria poder escutar eles”, diz ela após contar que via o pai batendo na mãe quando era criança.

Um dos temas levantados no filme é que os bebês não são atingidos sozinhos por políticas públicas. Para que eles sejam beneficiados, é preciso que esses programas cheguem até seus pais e cuidadores.

O Prêmio Nobel em Economia James Heckman, da Universidade de Chicago, cita estudo que atendeu crianças em idade pré-escolar em situação de vulnerabilidade social nos Estados Unidos. Segundo ele, cada dólar investido nesse programa representou uma economia de até US$ 7.

“Quanto mais se investe financeiramente na educação das crianças, o retorno volta no futuro. É tornar o cidadão mais produtivo e com isso há redução da desigualdade”, afirma ele.

Esse investimento pode vir por meio da ampliação das licenças maternidade e paternidade, por exemplo.

“A taxa de amamentação nos Estados Unidos é muito baixa porque as mães têm de voltar muito cedo ao trabalho. Em países como a Finlândia, em que a licença-maternidade é maior e também há licença-paternidade, a taxa é maior. O pai em casa ajuda a mãe que a amamentação aconteça”, afirma Manda Gillespie, autora do livro “Green Mama’.

Uma das mães entrevistadas para o documentário fala sobre a importância do tempo de atenção que que os pais dedicam aos filhos. “Tem gente que fala que quantidade não é importante, que a qualidade do tempo que você passa junto que pesa mais. Experimenta falar para o seu chefe que você vai trabalhar dez minutos por dia com qualidade”, diz ela.

O presidente da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Eduardo Queiroz, diz que os senadores brasileiros já deram um passo no sentido da ampliação dos direitos da criança com a aprovação do marco legal da primeira infância.

Esse marco amplia a licença-paternidade de cinco para 20 dias para funcionários de organizações participantes do programa Empresa Cidadã.

A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e o Instituto Alana, patrocinadores do filme, dizem que ele será usado por prefeituras e secretarias estaduais para disseminar a mensagem de que é preciso cuidar da primeira infância. Escritórios da Unicef também distribuirão o documentário em suas regiões de atuação.

DISTRIBUIÇÃO

Nas cidades sem salas de cinema, as pessoas poderão assistir ao documentário por meio da plataforma Videocamp. “O Começo da Vida” também estará disponível para assinantes da Netflix.

Como foram colhidos 400 horas de material para a produção de 80 minutos, os produtores decidiram desdobrar o trabalho em 80 temas, que serão distribuídos no site do filme (www.ocomecodavida.com.br).

"Meus filhos não se importam se sou importante ou se ganho dinheiro. Ele se importam se estou presente", diz um pai canadense (Foto: Divulgação)
“Meus filhos não se importam se sou importante ou se ganho dinheiro. Ele se importam se estou presente”, diz um pai canadense (Foto: Divulgação)