Com intervalo de sete horas, funcionária pública dá à luz gêmeos em parto humanizado

FABIANA FUTEMA
Damaris chegou ao hospital com Gael quase nascendo (Elis Freitas Fotografia)
Damaris chegou ao hospital com Gael quase nascendo (Elis Freitas Fotografia)

A funcionária pública Damaris Carvalho, 36, nasceu de um parto violento. Sua mãe sofreu com muitas intervenções desnecessárias. Por isso, ela achava que a forma mais segura de dar à luz era pela cesárea. Até que ela assistiu ao trailer do documentário “O Renascimento do Parto”.

“Nasci em um parto violento e cresci ouvindo sobre isso. Só que o trailer do filme mostrou duas coisas que me deixaram muito revoltadas. Uma era que a mulher aprendia a se sentir incompetente para parir, como se seu corpo não fosse dar conta. A segunda eram as falsas indicações de cesárea”, contou ela.

Depois de se informar, Damaris engravidou sabendo o que esperar de um parto.  “Descobri que o me que dava medo não era o parto natural, mas sim as intervenções médicas desnecessárias. Que mulher quer ser cortada?”, disse.

Seu primeiro filho, Davi, de 2 anos e 4 meses, nasceu de parto humanizado. Na semana passada, ela deu à luz Gael e Athos, com uma diferença de sete horas entre o primeiro e o segundo nascimento.

“Os pódromos [contrações iniciais] tinham começado há três semanas. Na segunda-feira, comecei a ter mais dilatação. E na quarta, a bolsa rompeu. As pessoas têm medo do desconhecido, mas quando a gente se informa sabe que o parto é um processo fisiológico”, disse Damaris.

Com tanta segurança sobre o que esperar daquele momento, a funcionária pública disse que teve tempo para fazer o cabelo e as unhas antes de entrar em trabalho de parto. “Cada mulher dá à luz de um jeito. E sua vontade tem de ser respeitada.”

Em casa, entre uma contração e outra, ela conversava com o marido, brincava com o filho e ainda retocava a maquiagem. “Lógico que não dá pra se maquiar na hora da contração. Mas entre uma e outra, é vida normal. Eu fico feliz durante as contrações, pois sei que está tudo bem com meu corpo e a evolução do meu parto”

Com o aumento das contrações, ela foi para o hospital e chegou quase parindo. “Ele nasceu nas minhas mãos”, diz ela se referindo a Gael.

Depois do nascimento dele, suas contrações foram diminuindo. Quando amamentava, as contrações voltavam. Mas depois pararam. Por isso, ela e o médico concordaram que tomasse um pouco de ocitocina.

“Foi muito pouco, em uma decisão que respeitou minha vontade. Já ia amanhecer, estava muito cansada e as contrações tinham parado. Os dois partos foram humanizados, a diferença é que o segundo não foi totalmente natural, afirma.

Para ela, a dose de ocitocina que tomou não pode ser comparada àquela aplicada em gestantes que estão sem dilatação e levam em conta apenas a pressa do médico de acelerar aquele parto. E antes de Gael nascer, ela ainda comeu um lanche.

Gael e Athos (Elis Freitas Fotografia)
Gael e Athos (Elis Freitas Fotografia)

Moradora de Cuiabá, ela critica hospitais que dizem não ter estrutura para um parto humanizado. “Parto humanizado é respeitar a vontade da mulher. É como dizer que não tem estrutura para um parto respeitoso.”

A taxa de cesárea ainda é muito alta na rede privada, atingindo 80% em média. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que esse percentual não passe de 15%. Para estimular a queda desse índice, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) lançou um programa que estimula o parto normal em instituições públicas e privadas.