Cliente em treinamento ou incentivo ao consumo? Carrinho de mercado gera polêmica

FABIANA FUTEMA
Carrinho de criança (Reprodução/Facebook/Infância Livre de Consumismo)
Carrinho de criança (Reprodução/Facebook/Infância Livre de Consumismo)

O Movimento Infância Livre de Consumismo publicou post nesta semana criticando a rede de supermercados Pão de Açúcar por colocar carrinhos de compras para crianças em suas lojas. Similar ao dos adultos, o carrinho foi projetado para ficar na altura das crianças.

Cada carrinho tem um cano com uma espécie de bandeirola na qual está escrito: “cliente em treinamento #praserfeliz”.

“Mais que um carrinho para acompanhar os responsáveis na tarefa de suprir a casa, a ideia é treiná-los para o consumo colocando o que quiserem no carrinho, principalmente aquilo que o mercado deixa convenientemente à altura dos seus olhos nas gôndolas. Assim, as crianças são treinadas para consumir e, principalmente, fidelizadas à marca da rede. Não precisamos adestrar crianças para o consumo, mas conversar sobre a necessidade de pensarmos sobre esta parte inevitável da vida em nossa sociedade”, diz o post do Infância Livre de Consumismo.

O post dividiu a opinião dos pais. Alguns acharam um absurdo a rede de supermercados adotar uma ação que incentiva o consumo infantil. Outras disseram que a crítica era um exagero e que o dever de educar as crianças é dos pais, e não do supermercado.

Por e-mail, Mariana Sá e Vanessa Anacleto, cofundadoras do Movimento Infância Livre do Consumismo, disseram que ainda vigora o “paradigma de que a criança é responsabilidade apenas da família”. “O trabalho do publicitário é afetar a emoção do público sem passar pelo racional: é por isso que consumimos tantos produtos que não suprem necessidades reais, nem mesmo trazem conforto e alegria. Produtos desnecessários. Não nos surpreende que ações de ponto de venda encantem e mobilizem as pessoas a defendê-las. Uma característica marcante da sociedade de consumo é a defesa que o consumidor faz do seu algoz.”

Na opinião delas, “as redes de supermercado descobriram que o carrinho pode ser muito útil para distrair as crianças favorecendo que os pais façam uma compra maior que a lista planejada, uma vez que podem passar mais tempo em paz no estabelecimento”. “E o tempo extra significa maior possibilidade de compra por impulso. Os pais podem ser influenciados a comprar itens por impulso para agradar e recompensar os filhos pelo bom comportamento durante as compras e sofrer nag fatctor em relação aos itens que não comprariam normalmente (quando as crianças insistem ou até mesmo fazem birra, no caso das menores, querendo algo).”

Em nota, o Pão de Açúcar informa que o “objetivo desta iniciativa é incluir a criança na rotina familiar do supermercado e ainda oferecer a oportunidade para que os pais insiram assuntos como alimentação saudável, princípios básicos de economia e gastos com as compras da casa, de forma atraente e lúdica”.

E você, o que pensa dessa iniciativa? E o que os pais devem fazer para evitar que os filhos sejam impactados por ações promocionais que visam o consumo? “Devem dialogar com os filhos e desmistificar o encantamento que sentimos ao sermos impactados por ações promocionais como esta. […] Não há nada a fazer que não seja entender como agem as corporações, desconstruir conceitos internamente e ensinar aos filhos a perceberem estas artimanhas. No post sobre os carrinhos, muitas mães fizeram relatos incríveis do uso que fazem do instrumento para promover uma educação para o consumo consciente junto com os filhos: listas de compras, comparação de preços, leituras de rótulos, estabelecimento de prioridades de produtos.”

Csarrinho do cliente em treinamento (Reprodução/Facebook/Criança Livre do Consumismo)
Csarrinho do cliente em treinamento (Reprodução/Facebook/Criança Livre do Consumismo)
Carrinho do cliente em treinamento (Reprodução/Facebook/Infância Livre do Consumismo)
Carrinho do cliente em treinamento (Reprodução/Facebook/Infância Livre do Consumismo)