Interromperam minha vida, diz mãe que perdeu a guarda da filha
A jornalista Flavia Werlang, 36, diz que sua vida lhe foi tirada em 14 de maio de 2015, quando perdeu a guarda da filha. Sem ter sido ouvida em nenhuma audiência desde então, ela questiona a forma como o processo vem sendo conduzido.
“Sim, há um ano e dois meses minha filha foi retirada sem que eu fosse escutada no processo e com um laudo sobre mim de uma assistente social que nunca esteve comigo”, escreveu ela no Facebook. “Tiram a vida sem te escutar, interrompem a rotina de uma mulher que criava a filha sozinha a desqualificando como mãe e esta pessoa ainda tem que provar que não teve nenhum arranhão.”
No post, ela pede que seu relato seja compartilhado até chegar a alguém do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). “Alguém que […] analise este caso e tente saber por que tiram um filho sem escutar uma mãe e se um processo fica um ano e dois meses inerte, assim, como se as nossas vidas estivessem congeladas. Porque ninguém vai me devolver acompanhar o primeiro dente que minha filha perdeu, saber o que se passa na escola no fim do dia, ajudá-la a escrever as primeiras sílabas. Ninguém dá de volta o tempo.”
Até aquele dia, a menina havia morado com a mãe em Curitiba (PR). O pai, que mora em Chapecó (SC), a visitava a cada dez dias, segundo Flavia.
Segundo a mãe, o argumento usado para lhe retirar a guarda da filha foi abandono intelectual, além da acusação de que ela seria usuária de drogas e havia fugido. Ela nega, diz que seu único vício é em Coca-Cola. Para se defender, ela teve de fazer um teste antidoping que é analisado nos Estados Unidos.
A jornalista também questiona os outros argumentos. Diz que tinha endereço fixo em Curitiba e que a menina estava matriculada na pré 2 de uma escola particular.
“No início, pensei em como conseguiria sobreviver sem ela, a quem eu dava a mão todas as noites para dormir. E ainda tinha 15 dias para provar que eu não era a bruxa que estava pintada naquele processo. Enquanto a ficha caía, eu procurava provas, depoimentos, matrícula na escolinha”, escreveu.
Sua vida virou de ponta cabeça. Estava sem a filha e o pai, que morreu em março de 2015. Perdeu o emprego logo depois.
Como o processo não andava, Flavia se mudou para Chapecó para ficar perto da menina. No começo, só podia visitá-la a cada 15 dias desde que seguisse as regras impostas pelo pai. A partir de dezembro ganhou o direito de pernoitar com a garota.
“Para isso, eu já tinha largado projetos, carreira, e fui atrás dela, que já estava com 5 anos e não, eu não pude dar um abraço na minha princesa para comemorar o dia em que ela veio ao mundo”, escreveu.
Mas Flavia não conseguia arranjar frilas como jornalista em Chapecó. Ela tinha de se virar, pois se quisesse a guarda da filha precisaria provar que era uma “pessoa normal e tinha condições de criá-la”.
Então passou a vender brigadeiros gourmet. Só que ela acabou tendo de dar explicações por isso. “Tive de aguentar B.O. e ter de esclarecer ao Conselho tutelar local que fiz uma entrega de brigadeiros acompanhada de L* porque havia “denúncias” de que eu estava colocando a minha filha para fazer trabalho infantil, vendendo brigadeiro na rua (ah sim, eu por acaso tinha colocado minha filha com uma bandeja para vender doces no sinal?)”, questiona a jornalista.
Ela decidiu largar Chapecó e pedir ajuda nas redes sociais depois de receber um segundo B.O., desta vez por agressão. “A gota d’água foi quando o Mr. Pai fez mais um BO dizendo que eu agredi a minha filha ‘mas não havia deixado hematomas’. E lá fui eu me defender no conselho tutelar, Cras, e para a p….”
Seu post já foi compartilhado mais de 1.300 vezes. Um grupo de mulheres criou um abaixo-assinado em defesa de Flavia. O documento tem mais de 1.000 apoiadores.
O pai da menina não foi localizado para comentar o caso. Em nota, o CNJ informa que “não se pronuncia sobre decisões judiciais, pois trata-se de matéria jurisdicional, e não administrativa disciplinar sobre a conduta de magistrado”.
A Vara da Infância e Juventude de Chapecó diz que o “processo tramita em segredo de justiça e envolve interesse de criança”. “Desse modo, somente poderá haver manifestação nos autos do processo, sob pena de violação à lei. Informamos também que o processo não teve julgamento definitivo, as decisões proferidas ainda são provisórias, têm cunho jurisdicional e são passíveis de reexame nos autos do referido processo ou pela instância recursal competente.”
Ao Maternar, Flavia que o desabafo lhe fez bem, pois recebeu tanto apoio que começou a ter um pouco de esperança. Ela também disse que estava feliz, pois havia conseguido o direito de passar alguns dias de férias com a filha nesta semana.
O relato dela pode ser lido neste link.