‘Joana Princesa’ conta história de princesa que nasceu menino; leia entrevista com autora

FABIANA FUTEMA
Uma das ilustrações do livro 'Joana Princesa' (Ilustração: Marina Tranquilin/Divulgação)
Uma das ilustrações do livro ‘Joana Princesa’ (Ilustração: Marina Tranquilin/Divulgação)

Escrito por Janaina Leslão, o livro “Joana Princesa” conta a história de uma princesa que nasceu menino. Por isso, ao nascer, recebeu o nome de João.

Mas algum tempo depois, a criança pediu aos pais que passassem a chamá-la de Joana, pois seu nome, como ela, tinham crescido. E queria ser menina para sempre.

O rei e a rainha não sabiam inicialmente como lidar com aquela situação. Então recorreram à bruxa do reino. Paralelamente, Joana tinha um único desejo, o de ser uma garota igual a todas as outras.

Com ilustrações de Marina Tranquilin, o livro está sendo lançado pela editora Metanoia.

Leia abaixo entrevista com Janaína:

A qual faixa etária se destina seu livro?
Quando escrevo, penso em pré-adolescentes e adolescentes lendo os livros por eles mesmos. Meus livros têm bastante texto para quem não tem leitura fluente. Todavia, as histórias não tem ​contra-indicação para qualquer idades. Crianças pequenas podem ter acesso às ilustrações e à história adaptada pelo modo de contar dos responsáveis por elas, como toda história infanto-juvenil que tem ‘texto demais para criança pequena’.

O que é um conto de fadas sobre uma garota trans?
Um conto de fadas como todos os outros, mas em que a personagem principal é uma pessoa que não se sente adequada ao gênero que é esperado para ela.​

Por que resolveu abordar essa temática?
A ideia de abordar temáticas não convencionais em contos de fadas veio durante um trabalho que eu fazia com adolescentes no ano de 2007. Nós conversávamos em grupo sobre questões de sexualidade e gênero. Havia também uma abordagem artística, com dois atores que trabalhavam expressão corporal e histórias da literatura que os adolescentes tinham acesso. As histórias que estavam presentes na imaginação deles como “representativas de final feliz” eram os contos de fadas mais conhecidos. Mas quando falavam de amor entre duas pessoas do mesmo sexo ou de travestilidade ou transexualidade, as referências eram os noticiários que traziam casos de violência contra essas populações, sem espaço para pensar em final feliz. Na época busquei contos de fadas alternativos aos convencionais e não achei. Então pensei que um dia iria escrevê-los. E foi assim que aconteceu. “A Princesa e a Costureira” foi publicado em 2015 e “Joana Princesa” saiu agora em 2016.

Você acha que os pais aceitarão bem o tema do seu livro? Tem algo para dizer a eles?
Nossos filhos e filhas não estão conosco 24 horas por dia e terão que lidar com as complexidades da vida, quer gostemos ou não. Terá um amiguinho na escola que um dia se descobrirá gay, a mãe de uma outra amiga pode ser uma mulher trans, há crianças que são de cores diferentes de seus pais, há outras que não têm um braço ou não enxergam. Não adianta fingir que ​todas as famílias são iguais. Conversar e entender é o que nos cabe. Já ouvi: ‘mas se eu comprar esse livro meu filho pode querer ser menina?’. Respondi: ‘seu filho pode querer ser como Julio, o amigo de Joana, que a admira por sua inteligência e e coragem e, diferentemente dos outros colegas que a ridicularizam e excluem, faz com ela trabalhos escolares’. Estamos com medo de criar uma geração mais amiga, mais tolerante, menos violenta? Tomara que não. Escrevo para quem quer apostar que um mundo mais fraterno é possível.

Joana e o amigo Julio (Ilustradora: Marina Tranquilin/Divulgação)
Joana e o amigo Julio (Ilustradora: Marina Tranquilin/Divulgação)