Projeto realiza parto domiciliar gratuito para famílias sem condições financeiras
Muita gente tem vontade de ter um parto domiciliar, mas esbarra na questão financeira. Esse tipo de parto não tem cobertura dos planos de saúde. Casais interessados em ter um parto em casa desembolsam de R$ 6.000 a R$ 10 mil pelos serviços de uma equipe composta normalmente por obstetriz, doula e pediatra neonatologista _valor que pode variar, dependendo dos profissionais que integram a equipe.
Mas três profissionais da área, a pediatra Ana Paula Caldas, a enfermeira obstétrica Marcela Zanata e a obstetriz Jéssica Cirelli decidiram se juntar e criar um serviço de parteria social em Campinas, no interior de São Paulo. É o Aninhar Parteria Contemporânea, que realiza partos domiciliares gratuitamente para famílias com renda total mensal de até três salários mínimos.
“No segundo parto da Marcela, ela e o marido estavam desempregados e não tinham como pagar. Então as parteiras deram o parto. Ela sente que tem que retribuir isso. Às vezes, você está em um momento da vida que não tem como dar R$ 5.000, R$ 6.000 em um parto”, diz Jéssica.
Para participar do projeto, a grávida tem que ter uma gestação de risco habitual (sem morbidades, feto único em apresentação cefálica e idade gestacional maior ou igual a 37 semanas) e estar realizando pré-natal.
A ideia inicial das idealizadoras do Aninhar era realizar um parto por mês. Mas como receberam muitas cartas de interessadas no projeto, decidiram ampliar esse número.
“Lendo as cartas, não tem como negar. Neste mês, vamos fazer três. A gente vai se desdobrar e vai atender. Uma coisa boa é que teve doula, fotógrafo e até médico se voluntariando para trabalhar com a gente”, afirma Jéssica.
Por enquanto, o Aninhar funciona apenas em Campinas. Mas a ideia é levar essa parteira social para outras regiões. Uma das contrapartidas do projeto é que elas possam levar uma estagiária para acompanhar o parto.
“A gente dá formação teórico e prática. A ideia é que um dia a gente possa levar isso para outros lugares. A gente treina uma profissional em Ribeirão e ela passa a atender lá. Queremos que isso se expanda e mais gente possa atender”, diz a obstetriz.
PARTO NORMAL APÓS CESÁREA
O primeiro parto realizado pelo Aninhar foi o da jornalista Laila Ruis Petrucelli, 29. Mãe de Benjamin, 2, ela deu à luz Gael em casa no último dia 24 de agosto.
O marido de Laila ficou desempregado em junho e ela parou de trabalhar quando Benjamin completou 10 meses.
Ela ficou sabendo do Aninhar por amigas de um grupo de mães que a marcaram em uma postagem do Facebook.
Laila diz que já tinha uma doula e seu plano inicial era dar à luz em um hospital de Campinas que caminha para a humanização.
No início, segundo ela, seu marido não era muito fã da ideia de fazer um parto domiciliar, mas acabou topando.
Laila deu à luz acompanhada do marido, do filho, das profissionais do Aninhar e de sua doula. “A doula não faz parte da equipe do Aninhar, mas ficou tão feliz que também prestou um serviço voluntário.”
Ela diz que sentiu muita dor durante as sete horas de trabalho de parto e chegou a pedir para ser levada ao hospital para tomar anestesia.
Só que isso ia contra tudo que ela passou a gestação planejando. “Passou pela minha cabeça que eu não conseguiria. Elas ficaram conversando comigo, dizendo para ter calma, me ajudaram a manter o foco.”
Ela deu à luz sentada na banqueta, pois não deu tempo de encher a piscina inflável. “Foi tudo muito rápido, quando começaram os puxos expulsivos.”
Laila fala que dar as sensações do pós-parto mudam muito da cesárea para o parto normal sem intervenção. “Na cesárea, meu filho nasceu e mal o vi. Fiquei deitada o dia inteiro, não podia levantar, não podia fazer esforço e tive de tomar um monte de remédio. Desta vez, dormi bastante para descansar, mas acordei, me alimentei e me sentia muito bem. Tomei banho e estava ótima.”
No primeiro parto, ela ficou oito horas em trabalho de parto. Mas Benjamin acabou nascendo de cesárea. “Se eu estivesse no hospital, não teria a liberdade que tive para fazer o que quisesse. Eu quis me deitar no chão e me deitei. Quando quis mudar de posição, mudei.”
A jornalista não pagou nada pelo parto. Seu único gasto foi com o material descartável. “Não tínhamos condições de pagar um parto domiciliar.”