Existe cesárea humanizada? Especialista diz que é possível humanizar a cirurgia

FABIANA FUTEMA
Bebê nascido de cesárea  (Foto: Toni Pires/Folhapress)
Bebê nascido de cesárea (Foto: Toni Pires/Folhapress)

Será que existe cesárea humanizada? A obstetra Ana Lucia Beltrame, especialista em reprodução humana, diz que é possível mudar rotinas dentro do centro cirúrgico que humanizam a cesárea.

Isso porque, na opinião dela, parto humanizado não é sinônimo de parto domiciliar e sem analgesia. “Humanizada significa acolher, respeitar a paciente e o bebê que está nascendo, independentemente de ter analgesia ou não, de ser cesárea por motivo médico”, afirma. “A via de parto não vai determinar que aquele parto vai ser humanizado ou não.”

Entre os procedimentos que podem ser adotados para humanizar a cesárea está tornar a sala de parto mais acolhedora, além de respeitar o momento único daquela família.

“A sala de parto já não é agradável, é um ambiente hostil. O nascimento é um dos momentos mais importantes para a família. O ambiente pode ficar mais acolhedor. Se a mãe tiver uma música preferida, por que não deixá-la escolher para que o bebê nasça com ela?”, diz a obstetra.

Outro cuidado é com a atenção da equipe médica com a mãe durante o procedimento cirúrgico. “Tem médico que esquece que tem uma mulher ali, fica conversando sobre futebol e não dá atenção para aquele momento especial dela. É o nascimento daquela família, daquele bebê”, diz Ana Lúcia.

Na cesárea, a mãe costuma ser uma das últimas a ver o bebê, pois existe um pano encobrindo sua visão da barriga que foi cortada durante a cirurgia.

A obstetra afirma que é possível baixar esse pano após o parto e colocar o bebê deitadinho ali até o cordão umbilical parar de pulsar. Dessa forma, o bebê fará o tão importante primeiro contato visual com a mãe logo após nascer.

“O que a gente pode fazer é que a mãe veja o bebê primeiro. O cordão não precisa ser clampeado imediatamente, pode esperar parar de bater. Assim que tiver clampeado, entrega para o pediatra e, se estiver bem, em vez de fazer cuidados médicos e examinar, coloca bebê em contato com o peito da mãe, assim ele fica pele a pele com ela”, diz Ana Lúcia.

Para não atrapalhar esse contato, a obstetra diz que o monitoramento cardíaco da mãe precisa ser feito pelas costas.

“Os procedimentos médicos podem ser feitos depois no bebê, em um segundo momento. Primeiro ele faz esse contato pele a pele, faz o reconhecimento da mãe e a amamentação”, diz Ana Lucia.

O problema é que a maioria das cesáreas ainda acontece pelo método tradicional, sem que a mulher seja consultada sobre nenhum procedimento que será realizado. Ela tem pouco contato com o bebê após o parto e só vai voltar a vê-lo após muitas horas.

Todas essas rotinas que humanizariam a cesárea, segundo ela, só podem ser adotadas se o parto não ocorrer em situação de emergência.  “Se tiver emergência, tem que agir rapidamente.  Se bebê não estiver bem, tem que priorizar o bem estar materno-fetal.”

Pela nova resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina),os médicos só podem realizar cesáreas a pedido a partir da 39ª semana de gestação da mãe.

“Qualquer procedimento, seja um parto normal com analgesia ou sem analgesia, ou cesárea, todos eles podem ser humanizados desde que respeitem a mãe, a mantenham informada sobre o que irá acontecer”, afirma a obstetra.

No Brasil, o índice de cesárea é considerado epidêmico. Na rede privada, mais dos 80% dos partos são cesarianos. A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que esse índice não passe de 15%.

Quando necessária, a cesárea pode salvar a vida da mãe e do bebê. Já a cesárea sem indicação medica,  ou seja, sem necessidade, pode trazer riscos tanto para a mãe como para o bebê, como sangramentos e problemas respiratórios.

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