Não passe pó de café no bico do seio; saiba como fazer um desmame respeitoso

FABIANA FUTEMA
Marina amamenta seu bebê na primeira hora de vida (foto: Lela Beltrão/Coletivo Buriti)
Marina amamenta seu bebê na primeira hora de vida (foto: Lela Beltrão/Coletivo Buriti)

O bebê nasceu e teve a sorte de ser levado para o colo da mãe logo na primeira hora de vida. Com ajuda da mãe, conseguiu pegar o peito e mamar sem muita dificuldade.

Por dois anos manteve essa relação com aquela a quem aprendeu a chamar de mãe. Mamava quando bem entendia, em livre demanda. De repente, da noite para o dia, a mãe passou a negar o seio. Um belo dia passou um pó escuro e amargo no bico do peito. Depois, colocou um esparadrapo e disse que o tetê estava dodói.

É assim que essa experiência tão importante na vida da mãe e da criança merece terminar? Infelizmente, ainda existem mães que são orientadas a fazer um desmame abrupto, sem levar em conta o tempo de cada criança e a necessidade de que ela compreenda o que está acontecendo.

“Outro método equivocado é a ausência materna, aquele em que a mãe viaja ou some da vida da criança por um tempo, vai para a casa de um parente, numa tentativa de terminar com a amamentação de uma vez”, afirma a psicóloga Bianca Balassiano, consultora em amamentação.

O ruim dessas estratégias é que elas não ajudam a criança a compreender a mudança que está ocorrendo. Com o sumiço da mãe, o que ela vai sentir é abandono.

“Não julgo quem faz, cada um sabe onde o calo aperta, há pessoas que chegam a situações de risco à própria saúde mental. Mas como forma de trabalho, não recomendo, não é interessante. Amamentação vai além da nutrição. É uma relação para ser tão bacana e não merece esse tipo de final”, diz Bianca.

Para que o desmame seja respeitoso, ele precisa ser conduzido _chamado também de desmame respeitoso ou gentil. Isso não significa que a criança não vai chorar.

“Você está quebrando um hábito na vida de uma criança. Tem o choro, mas não é o choro de uma criança que está se sentindo abandonada porque não entende o que está acontecendo e teve que desmamar de um dia para o outro. Ela está na casa dele, com a mãe dele, recebendo afeto, brincando, curtindo, mas está chateada e estressada porque está passando por uma mudança de hábito”, diz Bianca.

E quando iniciar o desmame? Primeiro, a mãe tem que estar certa sobre essa decisão. “É preciso entender se é uma demanda genuína, se é uma vontade real e verdadeira dessa mãe ou se está sofrendo pressão da família, do marido, do trabalho”, afirma a consultora.

Também é importante que a criança esteja madura o suficiente para entender a situação. Não existe uma regra que determine a idade certa para desmamar, mas Bianca diz que fica mais fácil com crianças a partir de 18 meses. “Quanto mais velha, mais fácil, pois o nível de compreensão aumenta”, diz. “O processo é mais trabalhoso que doloroso, uma vez que a mãe entende que está mexendo nos hábitos da criança.  E isso traz uma certa revolta e até agressividade. Tem que ter certeza daquele momento, da prontidão da criança.”

A OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses e, a partir daí, complementada até pelo menos os 2 anos ou mais.

DICAS PARA O DESMAME CONDUZIDO

Muitas mães que começam a pensar em desmamar estão cansadas de acordar no meio da noite. Apesar da vontade de dormir mais, o desmame noturno costuma ser o último a acontecer.

“Acho difícil fazer o desmame noturno sem fazer a regulação das mamadas do dia. Se faz livre demanda de dia, é mais difícil desmamar à noite. Funciona melhor primeiro ensinar a essa criança que tem horário fixo para ir ao seio, que não é toda hora que pede que vai ter, que tem alguém que coloca regra nisso e esse alguém é a mãe, associar as mamadas com as coisas que vai fazer, dentro do vocabulário dela. Aí fica mais fácil de fazer o desmame noturno”, diz Bianca.

A consultora  adota principalmente três técnicas para ajudar a conduzir o desmame: adiamento da mamada, substituição da mamada e redução da duração da mamada.

“No adiamento, quando o pedido acontece fora dos momentos previstos, a mãe vai adiar, vai repetir que não é hora de mamar, com o vocabulário da criança. Vai dizer que ela vai mamar depois do banho, depois do almoço, depois do passeio. De uma forma que a criança compreenda e se estabeleça um contrato, um cobinado”, diz.

Na substituição, a mãe vai dizer para a criança que “agora é hora de brincar, de passear, de ir na casa da vovó, de ver televisão”.

“Redução é para aquelas mães que estão com muita dificuldade para cortar mamadas e a gente pega aquelas que são mais facilmente eliminadas e dá uma diminuída no tempo. Você pega aquela criança que gosta de mamar longamente e combina que a mamada vai durar até o fim de uma música, até contar até dez. E tira do seio assim que terminar”, conta a consultora.

Segundo a presidente da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Luciana Rodrigues,  o desmame começa a partir da introdução alimentar.

“Desmame tem de ser feito lentamente até para testar a deglutição, como  criança está mastigando, engolindo. O conselho que a gente dá é que a mãe tenha calma e tranquilidade, que tudo vai dar certo”, diz Luciana.

E se a criança chorar? Ela recomenda que a mãe dê carinho ao filho. “Não precisa dar o peito toda vez que chora, pega no colo e aconchega.”

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