Desafio de empreendedora materna é separar agenda pessoal da profissional; veja dicas
Pesquisa realizada pela Rede Mulher Empreendedora mostra que 75% das empreendedoras decidiram montar seu próprio negócio após tornarem-se mães. A maioria parte para o negócio próprio na tentativa de ficar perto do filho sem abrir mão do trabalho.
Cedo ou tarde, entretanto, muitas dessas mulheres vão descobrir o quão difícil e frustrante pode ser o exercício do empreendedorismo materno. A sensação que se tem, muitas vezes, é de não estar fazendo bem nem uma coisa nem outra. Parece faltar tempo de qualidade para se dedicar tanto aos filhos quanto ao negócio.
Muito desse sentimento é resultado da falta de planejamento da empreendedora. A consultora do Sebrae-SP, Cristiane Viude Fernandes Sevilla, diz que um dos maiores desafios é separar a vida pessoal da profissional, tanto na questão de tempo como de espaço físico.
“Ela precisa se programar, ter uma agenda, reservar tempo para ela como mãe e como empreendedora. Uma das dificuldades é criar uma rotina de trabalho, definir horário para o negócio e para os filhos”, diz Sevilla.
Ela recomenda que a empreendedora também tenha um espaço de trabalho separado do restante da casa. “Para evitar que ela esteja ao telefone, conversando com o cliente, e o filho entre pedindo algo. Para não misturar as questões da casa com o trabalho. Numa analogia, é como os empreendedores que não separam a conta jurídica da física.”
Outro problema muito comum são as mães que só conseguem trabalhar de madrugada, quando os filhos estão dormindo. Essas mulheres certamente ficarão exaustas e cansadas. “É a mesma sensação que tem o empreendedor que não tem domingo, feriado nem férias para descansar. É preciso ter um tempo para relaxamento, vida social. Não é saudável trabalhar assim e a pessoa deixa de ter ideias, de se reinventar.”
ESCOLA E CASA NOVA
A empreendedora Camila Andrietta, 37, precisou mudar de casa e alterar a agenda dela e dos filhos para conseguir dedicar mais tempo para sua empresa, a Mandacaru _que produz calçados infantis feitos a mão de couro de descarte.
Mãe de três filhos, de 7, 4 e 2 anos, ela começou trabalhando na sala de casa. Era uma forma de trabalhar sem ficar longe dos meninos. Mas com o aumento da demanda, seus materiais já ocupavam mais da metade da sala. Por isso se mudou para uma casa com edícula. Sua oficina agora é composta por duas salas.
“Eu precisava mudar de casa, achar uma maior, com edícula. Assim consigo trabalhar forma, mas continuo perto dos meninos”, afirma.
A separação do ambiente de trabalho do profissional já melhorou o fluxo de trabalho da empreendedora. “Quando trabalhava na sala, toda vez que parava, tinha que retirar todo o material. Agora, com meu espaço, só preciso fechar a porta.”
Outro passo dado por Camila para otimizar seu trabalho foi mudar a agenda dos filhos e, dessa forma, ter um tempo seu só para produzir. Ela colocou o mais novo e o mais velho em tempo integral na escola. O do meio, diagnosticado com síndrome de Down, passou a ir meio período para escola, além de fazer terapia uma vez por semana o dia todo.
“O filho que não fica integral volta de perua. Busco os outros dois às 16h. Com isso, tenho mais tempo de manhã. Com um filho só à tarde, ainda consigo fazer alguma coisa”, diz.
Ela leva o filho do meio para fazer terapias às sextas e quarta à tarde. Com isso, a semana de trabalho ficou mais curta. Para não reduzir sua produção, ela fechou uma parceria: repassou o trabalho de costura para outra pessoa.
Hoje, os sapatos de Camila estão em três lojas. Ela diz que por enquanto não consegue ampliar o número de distribuidores.
Mesmo com a agenda tão apertada, Camila fez o que os consultores recomendam: investiu em conhecimento. Ela fez cursos à noite no Senai para aprender mais sobre processos de produção.
Outro passo foi investir em equipamentos, que reduziram seu tempo de produção. “Não corto mais o couro a mão, corto com uma máquina. Cada peça continua sendo produzida uma a uma, mas não preciso mais cortar com tesoura e estilete. Isso agilizou muito. O trabalho que levava de 3 a 4 horas agora pode ser feito em 10 minutos.”
O tempo de Camila continua curto, mas ela pretende ter tempo para tirar férias em 2017. “O ano de 2016 foi de muito estresse, de trabalhar de madrugada. Foi um ano de adaptações e mudanças.”
PLANO DE NEGÓCIO
A consultora do Sebrae-SP afirma que todo empreendedor precisa primeiro de um plano de negócio para estruturar e analisar a viabilidade daquilo que pretende montar.
“Para abrir um negócio não basta ter uma boa ideia. Precisa ter um plano de negócio, analisar como vai funcionar, se é viável, quanto tempo poderá dedicar a ele. Todo negócio tem risco, mas o planejamento diminui bastante esse risco”, afirma Sevilla.
Segundo a consultora, o futuro empreendedor precisa saber que ter seu próprio negócio vai ocupar muito de seu tempo.
“É falsa a ideia de que o empreendedor vai ter mais tempo. Empreendedor demanda muito tempo. É diferente de ser funcionário e ter horário para entrar e sair.”
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