‘Por privacidade’, hospitais restringem acesso de pais à UTI neonatal na hora da mamada
Ter seu bebê internado em uma UTI neonatal já é muito doloroso. Não poder acompanhar a evolução do quadro clínico do filho é ainda mais triste. O problema é que a presença do pai ainda é tabu dentro de algumas UTIs. Os homens ainda são obrigados a se retirar da UTI na hora da amamentação em vários hospitais.
Segundo o Hospital São Luiz, “essa regra foi implantada para resguardar a privacidade, silêncio, tranquilidade e conforto das mães”. Entende-se que algumas mulheres sentem-se desconfortáveis em amamentar na frente de outros homens.
Mas não são todas as mães que concordam com a restrição. A jornalista Natalia Zonta, 33, deu à luz um menino no dia 15 na unidade Itaim do São Luiz. Seu filho, o Gabriel, ficou internado uma semana na UTI devido a um desconforto respiratório.
“Eu não consigo imaginar como alguém pode cogitar que tem pai na UTI neonatal interessado em ver peito de outras mães”, diz Natália.
Mãe de primeira viagem, Natália gostaria que o marido tivesse a acompanhado durante as mamadas. “Queria ele comigo naquela hora. Mas não tem negociação, não pode entrar. É bem frustrante. Eu queria o apoio dele durante a amamentação.”
As mamadas na UTI acontecem, teoricamente, de três em três horas. Mas há mães amamentando em outros horários. “Se tiver uma pessoa amamentando fora desse horário, o pai não pode entrar”, afirma Natália.
O marido de Natália desceu para a UTI para saber o que estava acontecendo logo após o parto, mas não pode entrar. E ela estava no pós-parto, sem saber o que tinha acontecido. “O pai fica totalmente refém, [os médicos e enfermeiros] só falam com ele quando têm tempo.”
Para a jornalista, é preciso incluir o pai neste momento tão importante da vida da criança em vez de excluí-lo. “Até o espaço de acompanhantes se chama ‘sala de conforto das mães’. E o pai não pode ficar lá. Não tem ninguém amamentando. É só um espaço para esticar as pernas, guardar comida, ir ao banheiro, ver TV. Os homens ficam sentados nas cadeiras de espera fora da sala, como se fossem visitas.”
Natália diz que as restrições à presença do pai vão além do horário da mamada. Segundo ela, os dois só podiam entrar juntos na UTI na hora do relatório da pediatra, que acontecia por volta das 10h30. “Fora desse horário, só um de cada vez. Nem na hora da alta pudemos ficar os dois juntos lá dentro.”
O hospital nega essa prática e informa em que “os pais têm acesso irrestrito à UTI Neonatal e podem permanecer junto ao leito durante todo o dia, com exceção dos horários de coleta e procedimentos nos bebês, e no caso do pai, também nos horários de mamada”.
Em nota, os hospitais Pro Matre e Santa Joana informam que os pais “possuem acesso livre aos seus filhos no período determinado para visitas, com exceção aos momentos em que se fazem necessários alguns procedimentos como na coleta de exames e trocas de curativos”. “Para conservar a privacidade das mulheres, durante o horário da mamada o acesso é exclusivo para as mães.”
A relações públicas Priscilla Fiorin, 37, acompanhou os 28 dias de internação da filha Catarina, que nasceu com atresia do esôfago, uma doença rara que causa a má formação do órgão, na UTI do Albert Einstein . “Eu não amamentei ela lá, mas meu marido podia ficar na UTI mesmo quando outras mães estavam amamentando. ” As enfermeiras eram super cuidadosas e colocavam a mãe que amamentava em uma posição em que ela ficava confortável.”
Segundo ela, os pais acompanham as mães na hora da amamentação. “Eles colocam a mãe em um cantinho ou colocam um biombo para preservá-la., pois tem muita circulação de outros pais.”
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