Estimule o brincar livre, brincadeira não tem gênero

FABIANA FUTEMA
Crianças brincam no Ibirapuera (Foto: Marlene Bergamo/Folhapress)
Crianças brincam no Ibirapuera (Foto: Marlene Bergamo/Folhapress)

Muitos pais proíbem seus filhos meninos de brincar de casinha ou boneca. Os garotos são desestimulados a brincar com objetos cor de rosa. O temor, muitas vezes negado, é que a brincadeira possa interferir na sexualidade da criança.

Meninas, por sua vez, só encontram roupas em tons de rosa para comprar. Fantasia só se for de princesa ou fada, nunca de super-herói. E nada de brincar de bola, carrinho e luta.

Pais, deixem seus filhos brincar livremente. Não é a brincadeira ou o tipo de brinquedo que vai definir as escolhas sexuais. E quem afirma isso são especialistas ouvidos pelo Maternar.

Para o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade do Hospital das Clínicas de SP, brincar com diferentes gêneros não vai interferir na sexualidade.

“Brincar com carrinho ou boneca é apenas brincar. Faz parte do desenvolvimento. A brincadeira não é fator determinante da sexualidade, para a criança isso é uma bobagem”, afirma Saadeh.

Gláucia Faria da Silva, psicóloga do Hospital Infantil Sabará, diz que a brincadeira é uma experimentação, um ato de apropriação e elaboração que as crianças fazem do mundo que conhecem. “Crianças brincam de tudo e o brincar deve ser livre. Uma bola pode ser outra coisa, a criança subverte os objetos. Uma caixa pode se transformar em mil coisas.”

Para evitar a rejeição dos pais a determinadas brincadeiras, a empresária Luciane Motta, fundadora da Casa do Brincar, não coloca objetos cor de rosa dentro do espaço. Brinquedos tradicionalmente associados ao universo feminino, como casinha, pia e fogão, são de cores neutras.

“Para não reforçar esse estereótipo, não compramos rosa. As panelas são de verdade, como na casa das crianças. É preciso fazer um trabalho de educação das famílias, lembrar que os papais também podem ser ótimos cozinheiros”, afirma Lucianne.

Para Gláucia, os pais são muito temerosos sobre as consequências das brincadeiras e acabam engessando um momento de diversão para a criança.

Lucianne vê com naturalidade a troca de papéis feita pelas crianças. “Quando brinca, a criança está experimentando diversas situações que os adultos vivem, experimentando papéis. Ela pode brincar de papai, mamãe ou filhinho. Deve-se oferecer de tudo nessa experimentação”, diz. “Meninas não podem brincar com carrinho? Suas mães não dirigem carrões? A troca de papéis é só um faz de conta”.

Segundo Gláucia, os pais devem minimizar inclusive aquelas brincadeiras mais violentas, como de brigar ou matar. “A criança pode brincar de brigar ou matar, ela só não pode matar. O espaço da brincadeira é limitado, ela está só experimentando”

A psicóloga faz ressalvas apenas em relação a games, que podem expor as crianças a conteúdos e situações para os quais ela ainda não está preparada.

CONSUMO

Laís Fontenelle Pereira, psicóloga, afirma que a divisão dos brinquedos por gênero é uma criação do mercado, não das crianças.

“Essa segmentação foi feita pelo mercado, que criou nichos de consumo para o público infantil”, afirma.

Para ela, esse movimento é que transformou o rosa em cor padrão para as meninas. “É um incentivo para a criança consumir. As princesas de filme logo estampam objetos a serem consumidos.”

E você, deixa seu filho brincar livremente? Conte sua experiência para o blogmaternar@gmail.com

BRINCAR LIVRE

Estudo global divulgado em 2016 demonstra que a quantidade de tempo que as crianças passam brincando livremente está em declínio. Em média, elas passam uma hora ou menos ao ar livre.

A pesquisa “Valor do Brincar Livre” entrevistou 12.000 pais ao redor do mundo. O trabalho é realizado pela OMO, da Unilever.