Conhece a comunicação não violenta? Método educa de maneira firme e gentil
Educar uma criança dá trabalho, todo mundo sabe. Exige tempo, paciência, cansa muitas vezes. Muitos pais, atropelados pela rotina (dentro ou fora de casa), acabam tendo ainda menos paciência com os filhos e aí surgem as chuvas de “nãos”, de “para” e de “já falei pra parar”. Quem nunca?
Pensando em melhorar o tipo de comunicação entre as pessoas, o psicólogo Marshall Rosenberg (1934-2015) escreveu o livro “Comunicação Não Violenta”, um guia sobre resolução de conflitos.
A obra não é voltada somente para o relacionamento entre pais e filhos, mas seu método, criado nos anos 60, é totalmente aplicável no âmbito familiar.
Os pais passam a prestar atenção naquilo que falam e como falam. Nesse conceito, crises são oportunidades para descobrir raiz de problemas. Ou seja, se uma criança está fazendo uma birra, por exemplo, por trás da explosão, há sentimento que ela não está sabendo lidar.
Praticantes da CNV são unânimes ao afirmar que é preciso muito treino e paciência para conseguir implantar a metodologia em casa. Mas todos relatam mudanças importantes nas relações familiares e sociais após aprenderem o método.
É o caso da dentista Camila Peixoto, 39. Mãe de Julia, 6, e Lívia, 1 anos e meio.
Quando a mais velha tinha três anos, Camila sentiu-se incomodada com o tom agressivo e ameaçador que usava com a menina. Ela e o marido Allan fizeram, então, um workshop sobre CNV e aprenderam a externar sentimentos. “Conseguimos nos conectar melhor com nossa filha. Ensiná-la a falar sobre o que sentia ajudou a criar um ambiente mais respeitoso em casa. Hoje, todos falam o que sentem, sem medo de julgamentos”, diz.
“Desde crianças não somos encorajados a falar sobre o que sentimos. Daí você chega à vida adulta e precisa fazer terapia, como é o meu caso, para nomear tudo o que está sentindo”, conta o educador parental Thiago Queiroz, 35. Pai de Dante, 5, e Gael, de quase 3, ele é certificado pela Attachment Parenting Internacional, uma ONG que divulga a criação com apego pelo mundo.
“Ter empatia e acolher nossos filhos é dar ferramentas emocionais para eles crescerem mais seguros”, afirma.
“Se meu filho faz birra porque quer comer biscoito antes da janta, ao invés de brigar e ficar repetindo que não é hora, eu digo que sei que ele deve estar muito frustrado com aquilo e que entendo o que ele está sentindo. Pergunto, por exemplo, se um abraço ajudaria, e sempre funciona”.
Críticos à metodologia afirmam que esse tipo de educação priva a criança de conhecer “a dura realidade da vida lá fora”.
Thiago discorda. “Quando uma pessoa é consciente sobre seus sentimentos, dias ruins não vão gerar acessos de fúria. Pelo contrário, ela vai saber lidar melhor com as adversidades”, diz.
O educador também atribui ao método a melhor comunicação com a esposa. “Hoje eu consigo ouvir uma crítica dela e entender que aquilo não é um julgamento. Antes da CNV eu ficaria dias emburrado”, conta.
Outro ponto que a comunicação não violenta destaca é eliminar o uso de rótulos e diagnósticos, como “você é bagunceiro”, “você é preguiçoso” ou “egoísta”.
“O rótulo é uma prisão. E como dizia Marshall, é uma profecia. Quanto mais dizemos que nossos filhos são bagunceiros, mais bagunceiros eles se tornam”, diz a fundadora do Instituto Tiê, Carolina Nalon, 31.
A especialista em comunicação não violenta explica que dar oportunidade às crianças dizerem o que sentem amplia a confiança nos pais. “Quanto maior nosso grau de confiança na relação, maior fluidez na relação”, avalia.
Para a psicóloga e instrutora de CNV Lucia Nabão, muitas crises entre pais e filhos seriam evitadas se pais tivessem mais disponibilidade para ouvir os filhos. “Validar os sentimentos de uma criança é respeitá-la”, pontua. “Só conhecemos bem alguém que escutamos”, conclui.