Mãe diz ter sido constrangida ao amamentar em terminal de ônibus em Santo André

Você já ouviu que amamentar é um ato de resistência? Em tempos em que o governo americano se opõem à resolução de incentivo ao aleitamento materno por causa de chantagens de lobistas da indústria de comida de bebê, quem decide amamentar precisa, sim, resistir a muitas pressões.

Não são raros os relatos de constrangimentos vividos por mães que decidem amamentar em locais públicos. Olhares tortos, pedidos para se retirarem ou se cobrirem.

Mãe de primeira viagem, Thaís Santina, 21, voltava do médico nesta terça-feira (10), quando seu bebê de um mês chorou de fome. Ela estava no Terminal Vila Luzita, em Santo André (no ABC Paulista), e procurou um local onde ventasse menos para amamentá-lo. Era a primeira vez que saia de casa sozinha com Otto. Ao sentar e abrir a blusa, foi avisada por três funcionários do terminal que não poderia amamentar ali. Segundo Thaís, alegaram que era atentado violento ao pudor.

A jovem pediu para amamentar o bebê no banheiro, localizado no lado de fora da estação, mas segundo ela, um dos homens disse que se saísse, deveria pagar uma nova passagem para embarcar no ônibus. Ainda segundo seu relato, um deles ameaçou chamar a polícia.

Mãe de primeira viagem, Thaís Santina lamenta o constrangimento que viveu ao amamentar o filho(Arquivo Pessoal)

“Fiquei assustada, eu me senti coagida, como se estivesse fazendo algo de errado. Eu ainda estou me sentindo culpada, como se eu tivesse exposto meu filho”, conta a mãe que foi conduzida por dois homens ao ônibus. “Tentei pegar o nome deles, mas disseram que não falariam porque eu iria denunciá-los”.

Desde 2015, a lei estadual 16.047 assegura à criança o direito ao aleitamento materno nos estabelecimentos de uso coletivo, públicos ou privados. Ainda de acordo com a lei, há multa para o infrator porque a “amamentação é um ato livre”.

A terapeuta ocupacional Myrella Coradini, 28, também viveu a experiência quando amamentava sua filha, em 2016, em um shopping. Na ocasião, sua bebê tinha dois meses.

Segundo Myrella, uma funcionária de um quiosque disse que ela não poderia amamentar ali e que deveria ir ao banheiro. “A experiência é horrível, foi um constrangimento. E o pior: foi uma mulher que me pediu para sair”, lamenta a mãe de Valentina, hoje com um ano e 11 meses.

Myrella Coradini amamenta sua filha Valentina; ela também sofreu constrangimento em um shopping (Arquivo Pessoal)

Para protestar contra o constrangimento vivido por Thaís, um grupo de mães marcou um mamaço no Terminal Vila Luzita, em Santo André, nesta quinta-feira, às 10h.

Umas das organizadoras do evento, a consultora em aleitamento materno e doula Cristiane Vani, 32, diz que o objeto do ato é apoiar o aleitamento em público.

“Nossos seios são vistos pela sociedade apenas como função sexual e não para a amamentação. Isso faz parte de uma cultura machista e isto tem que mudar”, afirma.

“Quanto mais mulheres amamentarem em público, mais natural será o olhar da sociedade sobre a amamentação”, afirma Fabíola Cassab, do Matrice.

OUTRO LADO

Procurada, a Prefeitura de Santo André informou, por meio de nota, que cobrou um posicionamento da Suzantur (empresa concessionária) sobre o ocorrido no Terminal.

Ainda de acordo com a nota, o órgão promove diversas ações de incentivo ao aleitamento materno.

O Maternar entrou em contato com a Suzantur. No domingo, dia 15, a empresa enviou um vídeo onde afirma que o constrangimento foi ocasionado por pedestres e não por seguranças do local.

Procurada novamente, Thaís disse que não quer mais falar sobre o assunto.