Ausência de Tati Bernardi na Flip é acalento para muitas mães
Tati Bernardi, muito obrigada! De coração, muito obrigada, mesmo!
Quem está acompanhando a 16ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) notou a ausência da colunista, escritora e roteirista Tati Bernardi no evento.
Um dia antes da conferência, a Folha anunciou que, por motivos pessoais, Tati não participaria do evento e seria substituída pela psicanalista e doutora em psicologia Vera Iaconelli, também colunista do jornal.
No início da conversa, comandada pela repórter especial Fernanda Mena, os motivos pessoais foram revelados: Tati amamenta uma bebê de seis meses, e participar do encontro seria inviável. Simples assim.
“Ser profissional e mãe de um bebê envolve escolhas e perdas”, disse Vera, comentando o caso. “A Tati, como artista, ilustra isso de um jeito muito simpático”, completou.
Ela achou que daria conta. Certeza. Mas não deu, e tudo bem! Em sua rede social disse que “bateu uma angústia doida” em se separar da bebê.
E por isso eu quero agradecer a Tati. Porque só quem decide amamentar sabe quais são as inúmeras perdas que essa escolha envolve.
Pra você ter uma ideia, quando voltei a trabalhar, após sete meses de licença-maternidade, a médica do trabalho questionou se eu tomava algum medicamento. Respondi que não. Ela perguntou a data da última menstruação e eu respondi que devia ser por volta de um ano e meio atrás. Chocada, ela disse: ué, então você toma medicamento, referindo-se ao uso do anticoncepcional. Eu respondi que não, que amamentava. Pra quê? “Pois pare de amamentar agora. Você está criando uma criança preguiçosa, que vai ter muitos problemas de fala e desenvolvimento”, cuspiu a “especialista”.
Era o meu primeiro dia após o retorno ao trabalho, estava abaladíssima, com saudade da neném, com os peitos cheios de leite e não tive coragem de responder nada. Apenas pensei: dá logo esse papel pra eu voltar logo para o jornal. Ao final, ela leu na minha ficha que eu era jornalista e tentou corrigir. “Tudo de bom pra você e pra sua neném. E beba sempre muita água para aumentar a produção do leite, ok?”
Ouvir que sua filha faz seu peito de chupeta é um saco e ser questionada se o choro dela não é de fome, porque o seu leite é fraco, é igualmente insuportável. Tirar leite no trabalho é puxado. Levá-lo no trem, congelar, descongelar, também. Amamentar de madrugada é muito cansativo (às vezes, a bebê acorda 20 vezes). O peito rachou, tive muita febre, só passei a curtir a amamentação quando ela completou quatro meses. O apoio do Dennys, meu marido, foi essencial nesse período.
Eu nunca ousei reclamar dessas situações (a não ser para o grupo de amigas mães que vivem a mesa fase com seus bebês e são bem mais empáticas do que qualquer pessoa de fora da nossa bolha).
E decido continuar, porque apesar de tudo isso, é maravilhoso acalentar, nutir e se conectar com ela (além de garantir doses extras de vitaminas e reduzir as chances de doenças no futuro).
Dos olhares tortos eu sempre desvio. Prefiro olhar para baixo, pros olhinhos urgentes da minha pequena.
Obrigada, Tati Bernardi, sua ausência na Flip tem uma valor inestimável.