Pousada em SP proíbe entrada de bebês; para advogada, regra é ilegal
Viajar pela primeira vez sozinha com uma bebê no carro pode deixar muitas mães tensas, mas a empresária Priscilla Manfredi decidiu arriscar-se e levou a filha Serenna,1, para o litoral norte de São Paulo, no mês passado.
A viagem foi tranquila, apesar do forte calor que fazia no dia 17 de janeiro. O problema apareceu quando ela chegou na pousada onde havia feito a reserva: eles não aceitavam bebês.
A reserva na Pousada Terra, em Juquehy, foi realizada pelo site Booking.com. Segundo Priscilla, a atendente da pousada ligou para duas pessoas e confirmou a informação de que elas não poderiam ficar ali. A funcionária também estornou o valor pago e indicou outro local onde Priscilla poderia ficar com a bebê e aguardar o marido, que chegaria dias depois.
“Fiquei na portaria após uma viagem de três horas, com muito calor, pessoas me olhando, sem saber o que fazer. Senti como se minha filha fosse um animal”, desabafa.
Priscilla contou ainda que pediu para passar apenas uma noite ali, já que a bebê chorava muito e ela estava nervosa, com fome e sem bateria no celular. A atendente ofereceu um suco para a bebê, mas não permitiu a permanência delas ali.
“Fiquei mal, chorei muito. Quando me acalmei, fui olhar o e-mail para ver se eu havia errado, e não havia nada sobre a proibição”, afirma.
Na política do site da pousada há o aviso de que crianças abaixo de 12 anos não podem entrar. Priscilla, que já se hospedou anos antes ali, não chegou a entrar no endereço virtual porque fechou o pacote direto com a Booking. Segundo ela, todos os contatos realizados por essa empresa diziam apenas sobre a proibição de fumar no local e entrar com pets (print acima).
OUTRO LADO
Procurado, o proprietário da Pousada Terra, em Juquehy, Rodrigo Rocha, disse que o local adotou essa política em 2002 por causa da estrutura física da pousada.
Rodrigo explicou ainda que na hora da reserva não foi incluída a informação de que o casal iria com uma bebê.
A empresa Booking.com também foi procurada e, por meio de nota, disse que “no mesmo dia em que a reserva foi efetuada, após a confirmação do recebimento dos dados da hóspede, a própria acomodação enviou um e-mail pelo sistema da Booking.com, informando a hóspede que eles somente acomodam maiores de 12 anos de idade, em razão de sua estrutura estar mais direcionada a casais e adultos”. Priscilla nega ter recebido essas informações.
“Essa segregação é ilegal e nitidamente discriminatória e não pode ser aceita, em afronta aos direitos fundamentais garantidos em nossa Constituição”, explica a advogada Christiane Faturi Angelo Afonso.
Ela também cita o ECA (veja abaixo) para explicar que a proibição é indevida. “Socialização faz parte do desenvolvimento do indivíduo. Episódios como esse devem ser denunciados ao Ministério Público e ao Procon, nos casos em que nada é dito ao consumidor no momento da contratação”, diz a especialista.
A Constituição diz que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”.
O Art. 227 diz: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Nesse sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente, também é claro em seu artigo 4º: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”
O que você acha dessa polêmica? Já presenciou esse tipo de proibição? Concorda com ela?